Previsão de alta dos juros nos EUA deve pesar mais nos mercados que alta da Selic
Perspectiva de aumento antecipado dos juros americanos pode impactar a Bolsa e o dólar
A alta de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, de 3,50% ao ano para 4,25%, em linha com as expectativas de analistas, não deve provocar reações no mercado financeiro nesta quinta-feira, 17. A perspectiva de antecipação do aumento dos juros nos EUA deve impactar mais os mercados.
O aumento decidido pelo Copom ontem não foi surpresa, mas especialistas devem debruçar-se ainda sobre o comunicado divulgado pelo Copom em que o Banco Central adota um tom mais duro na condução da política monetária e já adianta novo aumento de 0,75 ponto porcentual na Selic para agosto.
O que mais surpreendeu o mercado nesta quarta-feira, no entanto, em que houve também decisões de política monetária nos EUA, foi a sinalização do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de que vai antecipar para 2023 o aumento de juros previsto inicialmente para 2024. Em coletiva de imprensa, após a reunião sobre política monetária, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou essa ideia ao declarar que a inflação nos Estados Unidos pode ser mais persistente que o esperado.
A indicação inesperada do Fed provocou aqui uma queda mais forte da bolsa de valores e alta do dólar, um movimento que perdeu força em seguida, embora a bolsa tenha fechado em baixa e o dólar em alta. Alguns analistas entendem que a sinalização sobre juros e inflação nos Estados Unidos pode continuar pesando sobre esses mercados.
Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, afirma que o mercado financeiro pode reagir com mais intensidade nesta quinta-feira à indicação dada pelo Fed do que propriamente à decisão do Copom.
A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, segue na mesma linha ao dizer que a surpresa com o Fed continuará impactando os mercados, sobretudo o de dólar.
Alta dos juros nos EUA não agrada aos mercados
A perspectiva de elevação dos juros americanos, ainda que prevista para 2023 é uma sinalização que não agrada aos mercados, principalmente o de ações, porque uma rentabilidade mais atraente na renda fixa americana, com a alta dos juros, atrai capitais alocados em mercados de outros países, especialmente em bolsas de valores.
Outro fator que preocupa os mercados é a possibilidade de que os Treasuries antecipem a alta dos juros, antes da inciativa do Fed, por causa dos sinais de inflação pressionada nos Estados Unidos.
Uma corrente de analistas entende, porém, que por enquanto o mercado doméstico de ações deve continuar movido pelo sentimento de otimismo de investidores com a perspectiva de retomada de atividade mais consistente, pelo avanço do processo de vacinação, incluindo até mesmo a antecipação do calendário de imunização, e a reabertura da economia em meio a um cenário de maior controle da pandemia.
NY: futuros em queda
Os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em queda, com o aumento do nervosismo dos investidores sobre os aumentos das taxas de juros de juros americanas.
Na véspera, o índice Dow Jones recuou 0,77%, em 34.033,67 pontos, o S&P 500 caiu 0,54%, a 4.223,70 pontos, e o Nasdaq teve perda de 0,24%, a 14.039,68 pontos.
O Fed voltou a destacar que espera que a alta recente na inflação nos EUA esteja sendo motivada especialmente por fatores temporários, mas sinalizações sobre juros apontam uma reação mais firme sobre o aumento dos preços.
As autoridades revisaram suas projeções de inflação para cima "significativamente" neste ano, avalia a Capital Economics.
Ainda sobre as perspectivas, a mediana agora mostra dois aumentos nas taxas de juros de 25 pontos-base em 2023, o que "presumivelmente tem relação com preços mais altos", analisa, em uma reação que surpreendeu a consultoria por uma menor tolerância ao aumento de preços.
Ainda sobre as perspectivas, a mediana agora mostra dois aumentos nas taxas de juros de 25 pontos-base em 2023, o que "presumivelmente tem relação com preços mais altos", analisa, em uma reação que surpreendeu a consultoria por uma menor tolerância ao aumento de preços.
Na coletiva de imprensa, Powell indicou que a inflação no país pode ficar mais alta e persistente do que o esperado, o que aprofundou as perdas dos índices.
No entanto, ao longo do evento, o dirigente adotou uma postura mais "dovish", indicando que a recuperação ainda não está completa e que há riscos, como a pandemia, além de destacar um "grupo de desempregados no país".
As bolsas reduziram as perdas enquanto Powell destacou o prosseguimento da compra de ativos para apoiar o quadro e que a discussão de alta de juros agora "seria prematura".
Privatização da Eletrobras: mais jabutis
No cenário doméstico, a privatização da Eletrobras segue na pauta dos investidores. O relator da Medida Provisória que trata da privatização da Eletrobras no Senado, Marcos Rogério, iniciou na véspera a leitura de seu parecer.
Diante de várias críticas de parlamentares, que questionaram o curto prazo para analisar o texto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, propôs o adiamento da votação para esta quinta-feira, a partir das 10h.
Em uma tentativa de ampliar o apoio dos senadores à Medida Provisória que permite a privatização da Eletrobras, Marcos Rogério acolheu 16 emendas apresentadas pelos senadores em seu parecer e rejeitou 43 sugestões, ampliando a quantidade de jabutis - sugestões estranhas ao texto original - que há haviam sido aprovados pela Câmara.
CPI da Covid: Carlos Wisard
Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid seguem sendo acompanhados pelo mercado financeiro.
Nesta quinta-feira, o colegiado irá ouvir o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Marques, autor de um estudo paralelo que questionou o número de mortes por covid-19 no País e foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro, sendo desmentido pelo próprio tribunal.
Para o mesmo dia, a comissão pautou o depoimento do empresário Carlos Wisard, que está fora do Brasil e pediu para ser ouvido de forma virtual, pedido negado pela CPI. Os senadores não esperam a presença dele no plenário.
A cúpula da comissão decidiu pedir a apreensão do passaporte do empresário até que ele compareça no Senado. A medida depende de autorização judicial.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (TCU), autorizou nesta quarta-feira, 16, o empresário Carlos Wizard a ficar em silêncio na CPI da Covid. O depoimento dele está marcado para amanhã.
O empresário é suspeito de integrar e financiar o chamado 'ministério paralelo', que teria aconselhado o presidente Jair Bolsonaro sobre a gestão da pandemia na contramão das orientações do Ministério da Saúde.
Bolsas asiáticas fecham mistas
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta quinta-feira, um dia após o Fed sinalizar que poderá começar a elevar juros mais cedo do que se imaginava.
O índice acionário japonês Nikkei caiu 0,93% em Tóquio hoje, aos 29.018,33 pontos, e o sul-coreano Kospi recuou 0,42% em Seul, aos 3.264,96 pontos, interrompendo uma sequência de cinco pregões positivos, enquanto o Hang Seng subiu 0,43% em Hong Kong, aos 28.558,59 pontos, e o Taiex registrou ganho de 0,22% em Taiwan, aos 17.345,69 pontos.
Na China continental, os mercados ficaram no azul, sustentados por ações dos setores de eletrônicos e tecnologia. O Xangai Composto avançou 0,21%, aos 3.525,60 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto se valorizou 1,16%, aos 2.359,40 pontos.
Na véspera, o Fed manteve sua política monetária inalterada, como se esperava, mas surpreendeu investidores ao indicar em seu gráfico de pontos que poderá anunciar seu primeiro aumento de juros já em 2023, e não mais em 2024. Além disso, o BC americano elevou suas projeções de inflação para este e o próximo ano, diante da persistência da alta dos preços nos EUA.
"O Fed pode ter enviado uma mensagem mais agressiva aos mercados do que muitos esperavam", comentou Yeap Jun Rong, estrategista do IG, em nota a clientes. Yeap, contudo, fez a ressalva de que visões divergentes entre membros do comitê de política monetária do Fed sugerem que "muito vai depender" de como será a recuperação econômica dos EUA.
À 0h desta sexta-feira (18), o Banco do Japão (BoJ) faz seu anúncio de política monetária, mas não há expectativa de mudanças.
Já na Oceania, a bolsa australiana caiu nesta quinta, após encerrar os quatro pregões anteriores em níveis recordes.
O S&P/ASX 200 recuou 0,37% em Sydney, aos 7.359,00 pontos, pressionado pelo setor minerador, que reagiu mal a uma decisão da China de liberar parte de suas reservas de metais numa tentativa de conter a tendência de alta dos preços de commodities. /com Júlia Zillig e Agência Estado