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Mercado Financeiro

Bolsa fecha em alta de 0,52% com exterior e utilities; dólar sobe a R$ 5,186

Investidores digerem os últimos dados econômicos e estão atentos ao cenário fiscal e político

Data de publicação:01/09/2021 às 10:56 -
Atualizado 3 anos atrás
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A Bolsa fechou em alta nesta quarta-feira, 1, puxada especialmente pelas empresas de energia elétrica. Dados de emprego nos EUA, que vieram abaixo do esperado, e recuperação nos contratos futuros de minério de ferro ajudam a explicar a alta na B3, mesmo com o resultado fraco do PIB no segundo trimestre.

O Ibovespa subiu 0,52%, retomando o patamar dos 119 mil pontos - 119.395,60.

Foto: B3/Divulgação
Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que contabilizou recuo de 0,1% ante os três primeiros meses do ano. O resultado veio abaixo da expectativa do mercado, que apostava em uma alta entre 0,1% e 0,3%.

O resultado interrompe três trimestres seguidos de crescimento da economia, mas o IBGE considera que houve estabilidade, segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do órgão estatístico. "A variação do PIB foi de -0,054%", explicou, lembrando que o resultado divulgado de -0,1% decorre da regra de arredondamento.

De acordo com José Mauro Delella, consultor da Alta Vista Investimentos, o número obtido no período deve impulsionar o mercado a fazer revisões significativas para o crescimento no resto do ano. “A expectativa é de que o País volte a crescer no segundo semestre, mas sem números significativos”, ressalta.

Para Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, o resultado não é uma boa notícia para o mercado, por conta da inflação, que ele avalia não ser transitória, e dos reflexos da crise hídrica, que devem se arrastar para 2022.

Vacinação vai ajudar a economia

Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos, diz que o recuo do PIB no segundo trimestre foi uma surpresa por conta do resultado forte obtido nos três primeiros meses do ano.

Porém, Cruz não aposta em um cenário negativo para o resto do ano, por conta do avanço da vacinação no País. “O Brasil avançou significativamente com a vacinação perto de outros países. Ela será um ativo importante para garantir o crescimento ao longo do ano”.

Os investidores passaram o dia atentos, ainda, às declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele afirmou, em audiência na Câmara, que o BC precisa ser duro e deixar claro que vai seguir meta de inflação no horizonte relevante e que a instituição deve revisar um pouco para baixo a projeção do PIB de 2021.

De acordo com Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, no entanto, os dados mais fracos do PIB foram compensados pela divulgação, nos EUA, do ADP Employment, considerado uma prévia do Relatório de Emprego, que veio bem abaixo das expectativas do mercado. "O dado corrobora a tese do Fed que a segunda onda (de covid-19) afetou a economia e a expectativa de manutenção de estímulos econômicos", afirma.

Esse cenário favorece o apetite à riscos dos investidores estrangeiros, que optam por ativos brasileiros para diversificar suas carteiras, valorizando o Ibovespa.

Sobe e desce da B3

Nesta quarta-feira, as ações do setor de energia elétrica foram os destaques de alta no pregão da Bolsa: Eneva (4,02%), Copel (3,80%), Cemig (3,40%), Grupo Energisa (1,53%) e Engie (3,01%).

A Eletrobras também teve suas ações valorizadas na B3 com a notícia de que a empresa pagará R$ 22 bilhões à União pelas outorgas de 22 usinas hidrelétricas que terão contratos renovados, sinalizando mais um passo em seu processo de privatização. A companhia avançou 2,57%.

Os bancos fecharam sem direção única. Enquanto Itaú e Banco do Brasil registraram alta de 0,39% e 0,10%, Bradesco e Santander caíram 0,17% e 0,67%, na sequência.

As ações das commodities também ficaram mistas, após os contratos do minério de ferro fecharem em alta na China. Vale e CSN avançaram 0,17% e 0,06%, enquanto Usiminas e Gerdau caíram 2,66% e 0,60%.

Depois do presidente Jair Bolsonaro afirmar que vai mexer no preço dos combustíveis, os papéis da Petrobras, PetroRio e BR Distribuidora recuaram 0,55%, 2,82% e 1,58%, respectivamente.

Após sinalizar que os acionistas minoritários devem receber um prêmio maior com a incorporação do Iguatemi ao seu grupo controlador, Jereissati Participações, as ações da rede de shoppings desvalorizaram 1,73%.

NY: bolsas mistas

Nos Estados Unidos, os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam sem direção única, com os investidores repercutindo os últimos dados sobre a criação de empregos no setor privado e no aguardo da divulgação do payroll, que acontece na sexta-feira, 3. O destaque positivo do pregão ficou por conta das ações de tecnologia

O índice S&P 500 registrou alta residual de 0,02%, enquanto o Dow Jones caiu 0,14%. Já o Nasdaq 100 subiu 0,19%.

O relatório de empregos da ADP, divulgado nesta quarta-feira, apontou a criação de 374 mil vagas no setor privado do país, bem abaixo da previsão dos analistas, que apostavam em 600 mil novos posts de trabalho.

Segundo analistas, o dado eleva as expectativas pelo payroll, que poderá mostrar a temperatura da recuperação do mercado de trabalho e da economia do país.

O resultado é considerado crucial pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para embasar as avaliações sobre o início do processo de redução das compras de ativos ainda neste ano.

Dólar em queda

Após operar boa parte do dia em baixa, alinhado ao ajuste de queda ante pares principais do real no exterior, o dólar inverteu o sinal e fechou com alta de 0,71%, cotado a R$ 5,186.

O mercado de dólar tende a ser sustentado pelo clima de instabilidade política e incerteza fiscal, que persiste, segundo analistas.

A tensão política deve crescer com a aproximação de 7 de setembro, quando deverão ocorrer manifestações de apoio ao presidente Bolsonaro, em um ambiente que, para os especialistas, poderia redundar em confronto entre manifestantes.

Auxílio emergencial

O cenário fiscal e político doméstico segue na pauta de acompanhamento dos investidores. Sem conseguir reajustar o Bolsa Família como deseja o presidente da República, Jair Bolsonaro, a equipe econômica tenta conter o movimento pela prorrogação do auxílio emergencial.

O secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno Funchal, disse que, com a queda da curva de contágios e mortes por covid-19 e a economia voltando, não faz sentido falar em novas prorrogações do benefício.

Na Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2022, enviada ao Congresso Nacional, a Economia destinou R$ 34,7 bilhões ao programa social, montante que manterá o valor do Bolsa Família pago este ano para as mesmas 14,7 milhões de famílias.

Na véspera, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, admitiu a possibilidade de prorrogar o auxílio emergencial diante do impasse para aumentar o Bolsa Família e a necessidade de respeitar o teto de gastos e o pagamento de precatórios em 2022.

Pacheco se reuniu no dia anterior com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, para discutir o pagamento de precatórios (dívidas judiciais) em 2022.

As autoridades avaliam se é necessário provocar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a oferecer uma solução para o pagamento das despesas, corrigindo os valores pelo teto de gastos, o que abriria caminho para o novo programa social.

Funchal voltou a dizer que, caso a reforma do Imposto de Renda não avance, o "plano B" do governo para financiar o aumento do Bolsa Família - a ser rebatizado de Auxílio Brasil - é a redução de gastos tributários.

Até o dia 15 de setembro, o governo tem que enviar ao Congresso Nacional um plano de redução desses gastos tributários e a "economia" poderá ser utilizada para compensar o aumento do Auxílio Brasil.

Inicialmente, o governo desejava financiar a ampliação do programa com a cobrança do tributo sobre dividendos, prevista na reforma, que encontra resistências no Congresso Nacional.

Crise hídrica

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu na noite da véspera que consumidores residenciais, indústrias e comércio economizem energia e água devido à crise hídrica.

Em pronunciamento oficial, ele afirmou que a condição hidroenergética do País se "agravou" nos últimos meses, pois não choveu o quanto era esperado na região Sul.

O ministro afirmou que a crise é um fenômeno natural que também ocorre, com a mesma intensidade, em outros países. No pronunciamento, porém, ele não citou a palavra "racionamento".

"Para aumentarmos nossa segurança energética e afastarmos o risco de falta de energia no horário de maior consumo, é fundamental que a Administração Pública, em todas as suas esferas, e cada cidadão-consumidor, nas residências e nos setores do comércio, de serviços e da indústria, participemos de um esforço inadiável de redução do consumo", disse.

É a segunda vez que o ministro Bento Albuquerque faz um pronunciamento em cadeia nacional. Em 28 de junho, o ministro também se dirigiu à população para pedir a contribuição no enfrentamento da crise, a "pior da história do Brasil", de acordo com o chefe do MME.

O ministro afirmou que, para enfrentar a situação, o governo tem utilizado todos os recursos disponíveis e tomado medidas extraordinárias para garantir o suprimento de energia. Por conta do baixo volume nos reservatórios, o governo tem autorizado o aumento no acionamento de usinas termelétricas, até mesmo as mais caras, e a importação de energia da Argentina e Uruguai.

Albuquerque reconheceu que, como todos os recursos mais baratos já estavam sendo utilizados, "a eletricidade adicional proveniente de geração termelétrica e de importação de energia custará mais caro".

Segundo cálculos apresentados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), essas medidas vão custar R$ 8,6 bilhões entre setembro e novembro. Para fazer frente às despesas, o governo recomendou a criação da bandeira "escassez hídrica", com custo de R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh).

O ministro disse que levará tempo para a recuperação dos níveis dos reservatórios e que, além do empenho de todos, isso também dependerá das chuvas.

Bolsas asiáticas fecham mistas

Do outro lado do mundo, as bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta quarta-feira, após dados mostrarem que o setor manufatureiro chinês voltou a se contrair.

O índice acionário japonês Nikkei subiu 1,29% em Tóquio, aos 28.451,02 pontos, enquanto o Hang Seng avançou 0,58% em Hong Kong, aos 26.028,29 pontos, e o sul-coreano Kospi se valorizou 0,24% em Seul, aos 3.207,02 pontos.

Na China continental, o Xangai Composto teve alta de 0,65%, aos 3.567,10 pontos, mas o menos abrangente Shenzhen Composto recuou 0,49%, aos 2.417,89 pontos. Já em Taiwan, o Taiex registrou perda marginal de 0,09%, aos 17.473,99 pontos.

Sondagem privada mostrou que o índice de gerentes de compras (PMI) industrial chinês diminuiu de 50,3 em julho para 49,2 em agosto, ficando abaixo da marca de 50 que indica contração da atividade e atingindo o menor nível em um ano e meio.

O número desanimador vem num momento em que a região asiática lida com novos surtos ocasionais de covid-19.

Na Oceania, a bolsa australiana ficou no vermelho nesta quarta, embora tenha reduzido perdas após a publicação de dados de crescimento do país melhores do que o esperado. O S&P/ASX 200 caiu 0,10% em Sydney, aos 7.527,10 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado

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