Lucro dos quatro maiores bancos cai 6,7% no 1° tri de 2023 em base anual; entenda
Enquanto BB e Itaú registraram crescimento nos resultados, Bradesco e Santander tiveram queda no lucro em relação a 1° trimestre de 2022
Os quatro maiores bancos brasileiros tiveram lucro líquido de R$ 22,729 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Um resultado que está 6,7% abaixo do que foi registrado no mesmo período em 2022, de R$ 24,3 bilhões, e é o pior desde 2021. Dividendos vão cair?
Desde o 4° trimestre de 2021, os lucros somados de Banco do Brasil, Itaú, Santander e Bradesco, todos com ações em bolsa, não apresentavam queda nessa mesma dimensão em bases anuais. É o que revela estudo exclusivo desenvolvido por Einar Rivero da TradMap para a Mais Retorno.
Período | Lucro R$ milhões | Variação 12 meses |
1T2019 | 19.950 | 22,3% |
2T2019 | 20.474 | 21,3% |
3T2019 | 19.277 | 10,3% |
4T2019 | 21.807 | 18,4% |
1T2020 | 13.762 | -31,0% |
2T2020 | 12.164 | -40,6% |
3T2020 | 15.582 | -19,2% |
4T2020 | 20.114 | -7,8% |
1T2021 | 18.609 | 35,2% |
2T2021 | 23.161 | 90,4% |
3T2021 | 21.309 | 36,8% |
4T2021 | 18.553 | -7,8% |
1T2022 | 24.359 | 30,6% |
2T2022 | 26.113 | 12,7% |
3T2022 | 24.228 | 13,7% |
4T2022 | 19.029 | 2,6% |
1T2023 | 22.729 | -6,7% |
Resultados e dividendos
O BB teve um crescimento de 28,9% em seu lucro de R$ 8,5 bilhões, em relação ao 1° trimestre de 2022, e o Itaú, com lucro de R$ 8,4 bilhões, alta de 14,6%.
Já o Santander registrou um resultado de R$ 2,1 bilhões, o que é 46,6% inferior a mesmo período do ano anterior, e o Bradesco, com lucro de R$ 4,2 bilhões, apresentou queda de 37,3%.
Acionistas do BB e Itaú não têm com o que se preocupar em relação à distribuição de dividendos, porque os dois bancos seguem com bons resultados, enquanto os de Santander e Bradesco podem ver os proventos encolher em função da queda do lucro.
Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores, explica que a queda nos resultados interfere no cálculo do dividendo.
Ele explica que o pagamento de dividendos é feito de acordo com a política da empresa, corresponde a um porcentual definido pela empresa sobre o lucro. Portanto, se houve queda, o cálculo será sobre uma base menor, no caso de Santander e Bradesco.
“Os bancos devem continuar pagando os dividendos, porque eles não têm muito o que fazer com o dinheiro, não têm muito como crescer muito com o próprio negócio”, afirma Galindo.
Crise e inadimplência
Em boa dose, os primeiros meses de 2023 foram marcados pela crise de Americanas, seguida por um pedido de recuperação judicial, e em outras varejistas, o que levou os bancos a fazer provisões bilionárias.
Se de um lado, os juros altos têm efeitos positivos nos balanços das instituições financeiras que ganham na intermediação das operações (spreads), de outro, trazem efeitos negativos com o aumento da inadimplência no crédito a pessoas físicas, que também sofrem com inflação persistente.
Nos grandes bancos, os índices de atraso subiram, chegando a 5,1% no caso do Bradesco e a 3,2% no do Santander, enquanto o BB informou atrasos de 2,62% - os três números consideram o indicador de atrasos acima de 90 dias, visto como padrão no mercado.
Embora os índices continuem em alta, parte das instituições acredita que haja uma inflexão da inadimplência no segundo semestre. O Itaú, por exemplo, espera que o pico dos atrasos entre pessoas físicas seja o número observado no primeiro trimestre, com estabilidade à frente.
No BB, que é menos exposto a empréstimos livres para pessoas físicas que os bancos privados, os índices de atraso nas carteiras de cartão de crédito e de CDC salário caíram entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro trimestre deste ano. A tendência costuma ser a contrária, com os atrasos subindo no começo do ano diante do maior volume de despesas das famílias.
Carteiras de crédito
Itaú e BB encerraram o primeiro trimestre com carteiras de crédito na casa de R$ 1 trilhão, renovando marca observada no quarto trimestre de 2022. Em cada banco, no entanto, o crescimento vem de um segmento, o que permite antever como serão os resultados à frente.
O crescimento do Itaú foi puxado pelas pessoas físicas, em especial por linhas mais arriscadas, como o crédito pessoal. O maior banco da América Latina tem aberto a torneira gradativamente, com foco em clientes com melhores perfis de crédito, em geral de alta renda, enquanto a demanda entre as grandes empresas se mantém baixa.
"Continuamos crescendo (em cartões) no canal interno, que são os nossos clientes, é um produto muito importante para o relacionamento", disse o presidente do banco, Milton Maluhy. Na visão dele, porém, o banco de varejo não deve ser mais tão rentável quanto era antes da pandemia, graças a uma combinação entre maior concorrência, menos agências e tetos de juros em determinadas linhas.
No BB, o impulso dos resultados vem do agro, cuja carteira cresceu 25% ano contra ano. É mais do que o banco projeta para 2023 inteiro, o que indica uma desaceleração, mas o campo deve fazer com que o banco cresça mais que seus rivais diretos em um ano em que a cautela ainda prevalece. /Com Agência Estado