Recessão econômica global está próxima e não há nada que os bancos centrais possam fazer para evitar, diz Kinea
Gestora do Itaú considera que o mundo já enfrentsa uma recessão industrial
Assim como, há bons anos, os fãs de Elvis Presley se mantinham na expectativa para encontrá-lo ao fim de cada show, os investidores contemporâneos esperam uma performance surpreendente de bancos centrais ao redor do mundo para evitar que uma recessão econômica impacte os mercados em nível global.
No entanto, segundo os gestores da Kinea (asset do Itaú), as autoridades monetárias estão praticamente de mãos atadas e uma forte retração da atividade econômica pelos próximos meses é inevitável. Em carta enviada aos investidores referente ao mês de julho, a gestora fala sobre a desaceleração da atividade global e a falta de espaço que essas autoridades possuem para “suavizar o processo”.
Recessão industrial e crise global
De acordo com a Kinea, o mundo já entrou em um período de recessão industrial. Dados levantados pela Reuters revelam que os índices regionais da indústria nos Estados Unidos e as expectativas de novas encomendas para os seis meses à frente ja estão em níveis próximos aos vistos na crise do subprime, que teve início em 2008.
A gestora, que acredita que os problemas na indústria devem se estender para o setor de serviços e toda a economia, enxerga quatro principais fatores que justificam essa recessão industrial.
- Guerra da Rússia na Ucrânia: o conflito no leste europeu trouxe diversos e sérios problemas para o mercado de energia em nível global, sobretudo dentro da própria Europa, tendo em vista a forte dependência do continente do gás natural russo;
- Cenário macroeconômico dos Estados Unidos: a maior economia do mundo passa pelo maior aperto de suas condições financeiras em mais de 40 anos, com pressão inflacionária persistente e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tendo de elevar suas taxas básicas de juros nos maiores níveis em muitos anos;
- Ciclo de estoques: a variação anual dos estoques das grandes varejistas americanas estão em patamares historicamente altos e isso ja se reflete nos balanços corporativos, como nos últimos números do Walmart que, ”ao ter que se desfazer destes bens produzidos em excesso, deverá inibir a produção por algum tempo”;
- Crise imobiliária na China: a política de tolerância zero contra a covid-19, a falta de confiança dos investidores e ”um ajuste doloroso em um mercado imobiliário inchado” levam a segunda maior economia do mundo a um grave problema com liquidez de incorporadoras e pagamento de hipotecas, o que impacta não apenas a atividade chinesa, mas a de todo mundo.
“Correspondendo a quase 25% do PIB de lá (considerados efeitos diretos e indiretos), o mercado imobiliário chinês é um dos dois motores principais da economia mundial (junto com o consumidor americano). Este gigante do mercado possui ramificações relevantes em toda economia global. Desta forma, é preocupante que mesmo com o arrefecimento do confinamento da covid, o setor continue tendo um desempenho fraco.”
Kinea, em carta aos investidores
Neste contexto, os bancos centrais seguem ”em posições desconfortáveis” com a inflação e, por isso, estão promovendo ajustes fortes a suas políticas monetárias, com altas nos juros acima das expectativas do mercado.
“Em algum momento, os Bancos Centrais devem retornar ao palco, mas só depois de um estrago mais forte na economia global”, diz a carta. Enquanto isso, a estratégia dos gestores com os investimentos internacionais é seguir vendidos em bolsas, comprados em dólar contra moedas europeias e asiáticas e aplicados em juros, antecipando uma queda gradual da inflação.
Estratégias da Kinea para o Brasil
No cenário doméstico, os olhares da Kinea permanecem voltados ao mesmo ponto que o mercado sempre observa: o risco fiscal com os programas de benefícios sociais do governo. O pacote aprovado recentemente com a PEC dos Benefícios reduziu os preços sobre combustíveis e outros serviços essenciais, além de promover novos auxílios a uma parte da população de baixa renda.
Para este ano, os gestores destacam que os impactos fiscais não são muito expressivos. Para 2023, entretanto, os bilhões gastos do orçamento público podem ser sentidos. Vale lembrar que em outubro o País tem eleições e as pesquisas apontam, até agora, uma disputa acirrada entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Quem quer que vença, segundo os gestores, terá de lidar com o desafio fiscal.
Seguimos vendidos em inflação implícita, apostando que a inflação de curto prazo seguirá baixa. Como proteção, temos posições tomadas na inclinação da curva de juros. Na bolsa, estamos privilegiando posições relativas e temos posições compradas em elétricas, empresas estatais e infraestrutura.
Kinea, em carta aos investidores
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