Humor do mercado melhorou com as varejistas, após resultados dos balanços, mas por que cautela ainda continua?
Perspectivas para o segundo semestre são boas, mas há fatores de risco no radar
A temporada de balanços corporativos do segundo trimestre de 2022 chegou ao fim nesta semana e um dos setores que mais chamou a atenção dos analistas foi o de varejo. Algumas empresas apresentaram números que foram boas surpresas, outras se destacaram negativamente, mas especialistas pontuam que os resultados das varejistas, de forma geral, vierem em linha com o que era esperado pelo mercado.
A equipe de analistas de varejo da XP Investimentos afirma que, embora os resultados apresentados e a "melhora marginal" do cenário macroeconômico brasileiro - com a desaceleração da inflação e a proximidade do fim do ciclo de alta da Selic, taxa básica de juros - tragam otimismo às perspectivas para o setor de varejo no segundo semestre deste ano, outros fatores que exigem cautela permanecem no radar.
"Destacamos que o inverno mais cedo pode ter antecipado parte da demanda de vestuário do trimestre, além de enxergarmos incertezas macro e políticas à frente", comentam os analistas. Além disso, a equipe ressalta que o trimestre de abril a junho foi beneficiado por efeitos sazonais que provavelmente não se repetirão nos próximos balanços.
No campo das expectativas positivas, os analistas da XP destacam o Auxílio Brasil como uma alavanca, com as companhias já demonstrando sinais de que com os recursos do benefício girando no mercado está havendo um aumento da demanda. O recente lançamento do 5G e a proximidade da Copa do Mundo também podem beneficiar a procura por determinados produtos, como celulares e televisões.
Fatores macroeconômicos que impactaram os balanços
Além da antecipação do período de temperaturas baixa (que antecipou, também, o período de compras de roupas de inverno), reajuste nos preços dos medicamentos, a temporada de gripe, Dia das Mães e Dia dos Namorados foram alguns dos principais eventos que contribuíram de forma sazonal para o bom desempenho do varejo no último trimestre.
Rodrigo Simões, especialista em finanças e economia e professor da FAC, pontua que, mesmo que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrem que as vendas no varejo tiveram uma alta anual de 1,4% no primeiro semestre, a inflação, os juros altos e o crédito caro dos primeiros meses do ano ainda mostraram seus impactos sobre os números das companhias.
O especialista explica, ainda, que os números do varejo físico vêm pressionando para baixo os balanços das varejistas, em detrimento do e-commerce. De acordo com os analistas da XP, em contrapartida, "para o segundo semestre, espera-se ver uma dinâmica mais equilibrada, pois o mesmo período de 2021 já contou com menores restrições relacionadas à pandemia".
Destaques positivos entre as companhias
Alexandre Nishimura, economista e sócio da BRA, considera que o Assaí, Carrefour e Raia Drogasil foram os principais destaques positivos da temporada de balanços do segundo trimestre no setor de varejo.
A rede de atacarejo teve um lucro líquido de R$ 319 milhões, alta de 20,7%, enquanto o supermercado registrou lucro de R$ 690 milhões, avanço de 10,6%. Já o lucro da rede de farmácias subiu 39%, a R$ 372,2 milhões.
"As duas primeiras confirmaram as expectativas de bom desempenho do chamado “atacarejo”, reflexo da contínua recuperação do segmento B2B (venda para empresas), tradedown dos consumidores para o canal e o carnaval fora de época. A Raia Drogasil trouxe resultados fortes, diante da maior demanda por medicamentos devido ao surto de doenças respiratórias, combinado com rentabilidade em níveis recordes por conta de ganhos de estoque frente ao reajuste regulatório de preços."
Alexandre Nishimura, economista e sócio da BRA
Para João Daronco, analista da Suno Research, o grande destaque positivo veio da Americanas, que apesar de um prejuízo líquido de R$ 98 milhões no segundo trimestre, foi uma das únicas gigantes do varejo que apresentou alta na receita líquida. No período, a receita da empresa subiu 6,7% na comparação anual, chegando a R$ 6,6 bilhões.
Destaques negativos entre as companhias
Também entre as gigantes do setor, o Magazine Luiza foi o principal destaque negativo para os especialistas consultados pela Mais Retorno, com um prejuízo líquido de R$ 135 milhões. Daronco explica que a companhia está com dificuldade de repassar seus custos, o que acaba por pressionar os resultados.
Nishimura elenca, ainda, o Grupo Pão de Açúcar como uma das surpresas negativas, "com mais um trimestre de resultados fracos, com a rentabilidade pressionada pelo cenário macro e ajustes que estão sendo feitos em seu modelo de negócios pós-Extra".
As ações de varejistas estão descontadas?
Há consenso entre os especialistas de que os papéis do setor de varejo estão com um desconto em relação aos valores a que eram negociados há alguns anos, principalmente em 2020. Rodrigo Simões afirma que "quase todas as empresas de varejo estão com boas oportunidades, com destaque para as dos segmentos que envolvem comércio eletrônico e comércio de veículo".
Daronco, no entanto, apesar de concordar que as ações estão descontadas, considera que esse desconto não é tão expressivo em relação a alguns outros segmentos da Bolsa da Valores.
Movimentação dos papéis das varejistas nas últimas semanas
Eduardo Melo, especialista em finanças e CEO da Prime Investe, comenta que, no último mês, as ações de varejistas passaram por um momento de valorização acentuada em decorrência da temporada de balanços.
Ele explica que, mesmo antes da divulgação dos resultados ao público em geral, as notícias começam a correr entre os investidores institucionais, o que antecipa os movimentos de alta ou baixa.
Neste contexto de valorização decorrente dos balanços, Melo afirma que é interessante para o investidor esperar um pouco para investir nas ações, que estão sim descontadas, mas podem recuar um pouco mais. A tendência é de que, nas próximas semanas, haja uma correção para baixo nos preços, tornando-as boas oportunidades de investimento.
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