Proximidade das eleições deve trazer volatilidade às ações de empresas estatais; o que fazer, manter ou vender?
Eleições acontecem em outubro, mas período de propagando eleitoral começa nesta terça-feira
Nesta terça-feira, 16, Justiça Eleitoral abre o período de campanhas eleitorais para partidos políticos e candidatos aos diversos cargos que serão disputados em 2022. Com a proximidade das eleições, uma das consequências é um possível aumento na volatilidade no mercado de ações brasileiro, principalmente com as incertezas em relação a quem ocupará a presidência da República pelos próximos quatro anos.
Especialistas afirmam que, dentre todos os setores e companhias disponíveis na Bolsa de Valores, as ações que tendem a ser as primeiras afetadas pelas eleições são as de empresas estatais. Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, destaca que o período eleitoral é o mais importante para os políticos e, neste contexto, as estatais podem acabar entrando nos combos de medidas adotadas em busca de votos na eleição. "As estatais são usadas para fazer política eleitoreira", afirma.
Estatais X Empresas privadas
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, existe uma tendência, por parte dos investidores, de não manter posições nestas companhias em período de eleições, "por melhor que elas estejam reportando resultados, como a gente viu com o Banco do Brasil e a Petrobras recentemente".
"A sensação é que sempre que existe uma troca de poder existe também uma mudança no controle das empresas estatais aí algum. Agora existe a lei das estatais para proteger, mas, ao mesmo tempo, vimos no mês passado os deputados discutindo mudanças para as estatais, então sempre fica essa dúvida do que vai acontecer com essas empresas nos próximos quatro anos."
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
Em contrapartida, para as companhias privadas Cruz pontua que há algumas outras estruturas mais bem definidas envolvidas. Ainda assim, o estrategista considera que elas podem ser indiretamente afetadas pelas oscilações das estatais, gerando uma volatilidade em todo o mercado.
Como as eleições podem influenciar as ações de estatais?
De acordo com Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, há dois principais tipos de investidores que olham com atenção para a volatilidade das ações de estatais com as eleições. O primeiro deles é aquele mais ávido por riscos, que busca ganhar com a volatilidade (normalmente são pessoas com mais experiência no mercado) e, por isso, aproveitam as movimentações desses papéis para obter lucros.
O segundo perfil, no entanto, é daqueles investidores um pouco mais cautelosos, que tendem a retirar da carteira ações que podem enfrentar um período de turbulências com as indefinições políticas. Isso acontece, segundo o especialista, justamente porque essas empresas possuem uma maior ligação com questões políticas que geram volatilidade.
Arbetman afirma que, naturalmente, o jogo político já mexe com a dinâmica das estatais - tendo em vista que cada governo pode lidar de um jeito diferente com as empresas. "Além disso, mesmo que a empresa seja bem estruturada, o risco país também influencia nos preços das ações. Então, por melhor que a estatal seja, havendo uma mudança muito grande no macro, não há empresa que fugiria de uma reavaliação (em seu preço)", explica o analista.
Petrobras e Banco do Brasil
Ao pensar em estatais, a primeira empresa citada por muitos investidores é a Petrobras, que gerou centenas de notícias ao longo do último ano por suas trocas de cadeiras, política de preços e subsídios e os dividendos gordos. Arbetman destaca que a petroleira é muito importante para o País e, por isso, todos os olhos estão voltados para o que pode acontecer com ela.
"Os dois principais candidatos à presidência da República tem visões muito diferentes sobre a política de preços e outros pontos importantes (da Petrobras), o que pode adicionar maior volatilidade aos papéis", afirma o analista da Ativa. Além disso, o cenário externo com as oscilações nos preços do barril de petróleo continua tensionado, gerando mais pressão sobre a companhia.
Outra estatal gigante, o Banco do Brasil entregou bons resultados com seu último balanço corporativo. Barbosa, da Nord Research, pondera que o atual governo foi "bom" para a instituição, sem grandes interferências. Para o especialista, é justamente isso que precisa permanecer no radar nos próximos anos, para entender como o próximo governo pode atuar com o banco. São essas incertezas que podem gerar volatilidade sobre as ações.
Empresas com participações estatais
Outras ações de empresas estatais ou com grande participação estatal em suas ações - sendo algumas controladas pelo governo federal e outras por governos estaduais - também podem sentir os impactos das eleições. Confira as principais delas:
Empresa | Código | Setor |
Banrisul | BRSR6 | Financeiro |
BB Seguridade | BBSE3 | Financeiro |
Caixa Seguridade | CXSE3 | Financeiro |
Cemig | CMIG4 | Energia elétrica |
Copasa | CSMG3 | Saneamento básico |
Copel | CPLE6 | Energia elétrica |
Sabesp | SBSP3 | Saneamento básico |
Sanepar | SAPR4 | Saneamento básico |
Fatores além das eleições que podem movimentar o mercado de ações
Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, acredita que o principal impacto das eleições sobre as ações de estatais e sobre a Bolsa de Valores como um todo deve ser sentido a partir do final de setembro ou começo de outubro (quando ocorre o primeiro turno de votações), podendo se estender até o fim das indefinições em relação aos rumos políticos do Brasil.
Entretanto, o especialista pontua que há outros fatores de maior tensão no cenário externo que são capazes de gerar mais pressão nos papéis brasileiros do que o próprio período eleitoral. Para ele, a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, o aumento nos conflitos entre China e Taiwan e, ainda, uma possibilidade de recessão econômica nos Estados Unidos são os principais pontos de atenção do mercado em nível global.
Carvalho destaca que, com todas essas tensões mapeadas, o que pode acontecer é uma intensificação na volatilidade do mercado brasileiro conforme as pesquisas sobre intenção de votos forem divulgadas, revelando o provável desenho político do País no próximo ciclo de poder.
Comprar, vender ou manter?
O analista da CM Capital afirma que, principalmente pensando em Petrobras, para quem já tem ações da empresa na carteira de investimentos vale a pena manter, se possível montando estruturas de proteção do papel com o mercado de opções. Carvalho considera que são papeis interessantes para se ter no longo prazo.
Em contrapartida, Barbosa comenta que, atualmente, não considera nenhuma empresa estatal como uma boa oportunidade de compra por estar com preços descontados, principalmente com a proximidade do período eleitoral. Cruz, da RB Investimentos, compartilha do mesmo ponto de vista.
"Não é necessário ter essas empresas estatais agora porque têm muitas outras empresas baratas na Bolsa, muito setor que ficou para trás, como os fundos imobiliários e shoppings, então não vale muito a pena a relação entre risco e retorno das empresas estatais neste momento."
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos
Independente da escolha do que fazer com as ações de estatais durante as eleições, Ilan Arbetman diz que é importante "respeitar o perfil de investidor e ter ciência de até onde você pode chegar, de qual o nível de risco que te deixará confortável com os investimentos".
Leia mais
- Ibiuna Investimentos reforça preocupação com risco fiscal e eleições como efeitos sobre a Selic
- Como o mercado de opções pode proteger o investidor da volatilidade causada pelas eleições?
- [PODCAST] Eleições 2022: é o momento de mexer no portfólio de ações e investimentos? – com Pedro Tiezzi
- Há otimismo em relação à bolsa: vai melhorar o retorno dos fundos de ações? Só 12 estão positivos em 2022
- Rali nos títulos públicos prefixados de longo prazo: entenda o que atraiu o capital estrangeiro