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Economia

Gastos do governo e o seu bolso: qual a relação?

Parte do crescimento de uma nação depende de quanto as pessoas conseguem poupar

Data de publicação:25/08/2021 às 08:20 -
Atualizado 3 anos atrás
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Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica durante a década de 80, certa vez comparou o orçamento público a um orçamento doméstico.  Em seu discurso, ressaltou que o governo não possui o seu próprio dinheiro e que, para gastar mais, precisa emprestar mais e/ou tributar mais a sociedade.

Seguindo esse raciocínio, explicou que parte do crescimento econômico de uma nação depende de quanto as pessoas conseguem poupar (para então emprestar ao governo), como também de sua capacidade contributiva em termos de impostos. 

Foto: Envato
O que as finanças governamentais tem a ver com o seu bolso? - Foto: Envato

A analogia com as finanças de uma família não foi por acaso.  Thatcher tinha o intuito de conscientizar a população, mostrando as consequências danosas de governos que gastam demais.

Bombeiros centrais

Quando a crise financeira de 2008 chegou, os principais bancos centrais do mundo agiram rapidamente e evitaram o pior.

Desde então, se tornaram os “bombeiros da vez”, socorrendo a União Europeia, com o seu inacabado projeto de consolidação fiscal, e os EUA, nos anos em que cresciam a taxas menores.  Consequentemente, na última década, o mundo se acostumou ao quantitative easing (QE) e às taxas de juros cada vez mais baixas.

Usados novamente em proporções nunca vistas para se combater os efeitos econômicos da pandemia, o que se questiona agora são os limites de tais medidas, visto que as autoridades monetárias desempenham um papel fundamental como guardiões da estabilidade financeira.

Haveria a necessidade de se manter os programas de compras de ativos, dado o seu benefício marginal decrescente?  Qual seriam as vantagens, se economias inteiras são forçadas a suspender as suas atividades?  Afinal, novos lockdowns estão voltando à cena.

Não se trata de algo trivial.  A dificuldade em relação à decisão de reversão desses programas se fundamenta essencialmente no fato dos agentes econômicos formarem uma expectativa em relação ao próximo passo, um aumento nas taxas de juros mundo afora. 

Dito isso, o que essa situação evidencia é que políticas públicas e reformas bem implementadas deveriam entrar em ação para revitalizar a economia.

Inflação

Ao longo de 2020, discursos de austeridade foram abandonados conforme governos observavam o rastro de destruição deixado pela covid-19. 

Com tantos estímulos na economia mundial, a elevação de preços era o mínimo que se podia esperar.  Porém, nessa crise, a grande surpresa foi o choque de oferta decorrente da ruptura na logística de distribuição de itens essenciais de uma sociedade moderna, como os componentes eletrônicos inseridos em celulares, computadores, equipamentos e veículos.

Na fila de pedidos de fornecedores que fazem parte das cadeias de valor globais, é fato que os países emergentes sempre ficam em desvantagem.  Assim, índices de inflação da ordem de 6% se consolidaram entre esse grupo. 

São valores acima de qualquer meta de inflação, em uma recuperação bastante irregular, dadas as mutações do coronavírus.

Brasil

No caso do Brasil, quebras de safra e o aumento nos preços de energia, resultantes de condições climáticas adversas, têm levado a inflação a se aproximar dos dois dígitos, algo que não se via há algum tempo.

Beneficiado pelo aumento na demanda por commodities de economias em estágios mais avançados de abertura econômica, o país tem falhado em colher indicadores mais animadores, visto que setores exportadores possuem pouca influência nas condições do mercado de trabalho de um modo geral.

É nesse contexto que mais programas de auxílio se encaixam na antecipada corrida eleitoral.  Se o governo brasileiro foi capaz de emprestar 13,4% do PIB no ano passado (percentual bastante alto para qualquer emergente), isso foi em função da crença na transitoriedade da tragédia sanitária, além da manutenção do teto de gastos.

Juros

Os países emergentes foram bastante exitosos na implementação de seus respectivos regimes de metas de inflação.  Nos últimos meses, passaram a elevar os juros diante das pressões inflacionárias. 

Primeiro, porque elas têm se mostrado mais persistentes e disseminadas.  Segundo, porque é muito melhor fazer isso antes do Federal Reserve (Fed) que, ao aumentar a taxa de juros nos EUA, precifica instantaneamente todo e qualquer ativo no mundo.

O cuidado é em não errar a mão.  Juros mais altos reduzem o potencial de crescimento econômico.  Com pouco dinamismo na economia, o governo arrecada menos em impostos, ao mesmo tempo em que paga mais (juros) para servir a sua dívida. 

Voltando ao exemplo de Thatcher, seria como um membro da família que perde o seu emprego e que passa a pagar apenas o valor mínimo da sua fatura de cartão de crédito, financiando o restante.  É essa situação de desequilíbrio que o mercado financeiro tem mostrado nos últimos dias:

  1. Câmbio: a desvalorização do real é reflexo do aumento do risco-país;
  2. Juros: o aumento dos juros é uma indicação da necessidade de um esforço adicional da política monetária para não desancorar as expectativas inflacionárias diante de propostas de mais gastos do governo;
  3. Bolsa: os juros mais elevados jogam para baixo a avaliação de empresas de capital aberto (“valuation”), quando descontados os seus fluxos de caixa futuros. 

Conclusão

Ao adotar políticas não convencionais, os bancos centrais obtiveram resultados positivos ao longo da última década.  Atualmente, não podem ir muito além do que já fizeram, passando então o bastão para os governos.

Diante de uma recuperação bastante atípica, o mundo tem observado as consequências inflacionárias de cadeias de produção rompidas e condições climáticas inéditas.  Visando não perder a credibilidade duramente alcançada, autoridades monetárias de países emergentes já tomaram a dianteira, elevando os juros.

A recente discussão sobre o parcelamento de precatórios e os custos de um programa social mais parrudo afeta o futuro de todos pois envolve o risco de rompimento da única garantia de disciplina fiscal que ainda existe, o teto de gastos. 

Com mais pessoas acessando plataformas de investimentos, ninguém pode achar que certas decisões difíceis não lhe dizem respeito.  Da mesma forma, é um tanto ingênuo buscar refúgio em alternativas sem qualquer respaldo legal

*Este artigo não expressa necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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