Expectativa com a Selic e preços da commodities devem ditar rumos do mercado nesta terça-feira
Perspectiva de escalada contínua da inflação eleva projeção dos juros
O olhar do mercado financeiro estará voltado nesta terça-feira, 15, ao comportamento das commodities no mercado internacional e às estimativas em torno da nova Selic que será definida nesta quarta-feira, 16. Lá fora, os futuros americanos e as bolsas americanas operam em queda, com a guerra na Ucrânia em curso.
A decisão sobre a taxa básica de juros, que está em 10,75% ao ano, será tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), no fim da reunião de dois dias que começa nesta terça-feira.
O BC já adiantou, no fim do encontro anterior, uma alta de menor magnitude, de 1 ponto porcentual. Um ajuste menor que o de 1,50 ponto, das três últimas reuniões, que levaria a nova Selic para 11,75% ao ano.
A maioria das projeções segue a indicação dada pelo BC, mas eventos mais recentes têm alargado o leque de apostas. A escalada das commodities, na esteira da guerra da Ucrânia, o IPCA de fevereiro, de 1,01%, bastante acima das expectativas e o recente reajuste cavalar dos combustíveis joga pressão sobre o BC, segundo analistas.
Os juros futuros já se antecipam e seguem em forte alta nos contratos negociados na B3. Um movimento que, para analistas, sinaliza o pessimismo dos agentes com as perspectivas para a inflação e os juros.
Tanto a inflação quanto os juros passaram por revisões para cima no boletim Focus divulgado pelo BC nesta segunda-feira. O IPCA estimado para o fim de 2022 subiu de 5,65% para 6,45% e a Selic projetada avançou de 12,25% para 12,75%.
Juros mais altos vão afetar o mercado de ações
Esse agravamento de expectativas com inflação e juros gera efeito negativo no mercado de ações, avaliam especialistas. Senão por outros motivos, porque adiciona mais atratividade à renda fixa. Um rendimento mais interessante, com mais segurança e menos risco, em um ambiente de incertezas cada vez maiores pela frente.
Nesse cenário entra também a preocupação fiscal, diante dos sinais de avanço de propostas populistas movidas por interesse eleitoral. Uma delas é a que prevê medidas para a redução dos preços de combustíveis e aumento do valor de benefícios sociais.
Especialistas afirmam que, diante de falta de novidades mais quentes relacionadas à guerra na Ucrânia, investidores e gestores tendem a redirecionar o olhar ao cenário doméstica. Um foco de interesse pautado por inflação e juros.
Um evento que foge desses temas e entra na seara corporativa é a divulgação nesta terça-feira do balanço da CVC, após o fechamento dos negócios no mercado de ações.
Guerra na Ucrânia segue no radar
Pelo exterior, o mercado financeiro continuará monitorando as notícias da guerra no Leste Europeu e o vaivém de preços de commodities - cotações, como a do petróleo, que têm sofrido influência da dinâmica do conflito.
Um fato novo – que de resto não é tão novo assim – foi o anúncio da China no dia anterior de que vai isolar o movimento de pessoas em uma região de Shangai por causa de um surto de casos de covid-19.
Para alguns especialistas, novas restrições poderiam voltar a ameaçar a cadeia global de produtos e insumos. E, por tabela, o processo de recuperação econômica, com efeitos negativos sobre as commodities.
Nesta terça-feira, refletindo as preocupações da China e as tentativas de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, o petróleo registra queda no mercado internacional. O barril do petróleo tipo brent caía quase 6%, cotado a cerca de US$ 100, por volta das 8h.
Futuros/bolsas americanas
- S&P 500: -0,14%
- Dow Jones: -0,22%
- Nasdaq 100: -0,01% (dados atualizados às 7h40)
Bolsas europeias/principais praças financeiras
- Stoxx 600 (Europa): - 1,47%
- DAX (Frankfurt): -1,78%
- FTSE 100 (Londres): -1,07%
- CAC 40 (Paris): -1,84% (dados atualizados às 7h41)
Bolsas asiáticas fecham em baixa
As bolsas asiáticas fecharam grande parte em baixa nesta terça-feira, com as praças da China e de Hong Kong se destacando nas baixas, em meio a preocupações de que novos surtos de covid-19 voltem a comprometer a atividade econômica chinesa.
Nos últimos dias, o governo chinês determinou o confinamento da cidade de Shenzhen, um polo financeiro e tecnológico de 17,5 milhões de habitantes, e adotou uma série de restrições em Xangai, diante do aumento de casos de covid-19.
A preocupação ganhou um peso ainda maior depois que o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) da China informou que a produção industrial do país subiu 7,5% nos meses de janeiro e fevereiro, acima do aumento de 4,3% apurado em dezembro. O resultado veio bem acima dos 3,5% projetado pelos especialistas do mercado.
Já as vendas do varejo cresceram 6,7% no período, superando a expectativa do mercado de 4,3% e o crescimento visto no último mês de 2021, de 1,7%.
Os resultados mostram recuperação da economia chinesa em ritmo além do esperado nos dois primeiros meses do ano, apesar da base alta de comparação interanual. Os dados de janeiro e fevereiro são apresentados em conjunto para evitar distorções provocadas pelos diferentes horários dos feriados do Ano Novo Lunar, quando há suspensão das operações comerciais na China. / com Júlia Zillig e Agência Estado.
Bolsas asiáticas/fechamento
- Hang Seng (Hong Kong): -5,72% (18.415 pontos)
- Xangai Composto (China Continental): -4,95% (3.063 pontos)
- Shenzhen Composto (China Continental): -4,56% (2.013 pontos)
- Nikkei (Tóquio): +0,15% (25.346 pontos)
- Kospi (Seul): -0,91% (2.621 pontos)
- S&P/ASX 200 (Sydney): -0,73% (7.097 pontos)