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Dívidas de empresas brasileiras cresceram R$ 247 bi em um ano; crédito corporativo preocupa

No período em que a taxa básica de juros passou de 6,25% para 13,75% os impactos foram fortes em empresas de margens pequenas, como as varejistas

Data de publicação:06/02/2023 às 08:00 -
Atualizado um ano atrás
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Após a crise da Americanas (AMER3), especulações sobre Ambev (ABEV3) e a divulgação de dívida da Light (LIGT3), o grau de insegurança aumentou no mercado, que agora joga holofotes para o crédito corporativo na tentativa de se antecipar a outros rombos, especialmente porque os juros devem continuar nas alturas.

Entre o terceiro trimestre de 2021 e o terceiro trimestre de 2022, as empresas listadas em Bolsa tiveram um aumento de R$ 247 bilhões no endividamento, segundo um estudo do TradeMap para a Mais Retorno

Dívidas
Dívidas de empresas na Bolsa chega a R$ 2.033 trilhões em setembro de 2022 - FOTO: Reprodução

Em setembro de 2021, quando todas as empresas listadas em Bolsa acumulavam dívidas de R$ 1,786 trilhão, a taxa básica de juros, a Selic, estava em 6,25%. Mas na passagem para o mesmo mês em 2022, essa dívida estava em R$ 2,033 trilhões, um aumento de R$ 247 bilhões (+14%) com uma Selic em 13,75%. Os juros mais que dobraram em número de pontos.

Endividamento das empresas em bilhões R$

 Todas as empresas da Bolsa sem PetrobrasTodas as empresas da BolsaSelic
30/09/2021R$ 1,462 triR$ 1,786 tri6,25%
30/09/2022R$ 1,740R$ 2,03313,75%
Fonte: TradeMap

Impacto dos juros

O aumento dos juros impacta nos balanços corporativos, porque torna a dívida mais cara e dificulta o pagamento da dívida ao longo do tempo. É comum que empresas tenham dívidas para crescer, expandir seus negócios, e um dos caminhos mais baratos é emitir debêntures, em vez de utilizar o capital próprio para pagá-las, segundo Lucas Bohn, sócio e especialista de renda variável da Acqua Vero. 

Ele afirma que a medida contracionista adotada pelo Banco Central faz com que a dívida das empresas seja muito mais alta, o que dificulta também o pagamento. “O momento atual não é saudável para as empresas de margem pequena”, diz.  

Apesar disso, o professor da FGV-EAESP, José Pereira da Silva, explica que mesmo com o prêmio de risco mais alto, não é este o efeito que gera o problema, e sim o tamanho da dívida da companhia, como no caso Americanas, de R$ 43 bilhões. 

Junto à magnitude da dívida, está também o vencimento de curto prazo, quando qualquer imprevisto que surgir pode impedir a empresa de honrar suas obrigações, segundo Tiago Mackey, sócio do ‘dcom advogados’ e head da área de resolução de disputas.

As empresas, de forma geral, sofrem com o aumento dos juros enquanto estão endividadas. Apesar disso, Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, pontua que essa situação é ainda pior para empresas de varejo, que têm margens menores de lucro e não conseguem repassar completamente o aumento de preços ao consumidor.

Crédito corporativo

Desde o início da crise da Americanas, em 11 de janeiro, a queda acumulada nas ações (AMER3) é de 86%. Além das ações, os títulos de crédito corporativo da companhia afetaram diretamente alguns fundos de renda fixa que tinham o ativo em suas carteiras. 

Fundos do Nubank e Itaú, por exemplo, tinham milhões de reais em títulos da Americanas e da B2W e sentiram o impacto deste movimento. 

Após essa crise, o mercado passou a seguir com outros olhos a Ambev (ABEV3), que tem os mesmos sócios de referência de Americanas. Um relatório da CervBrasil, associação que reúne cervejarias concorrentes da empresa, apontou R$ 30 bilhões em dívidas da companhia em impostos federais, estaduais e municipais, decorrentes de manobras tributárias. A Ambev se defendeu, refutou as acusações e alegou que o suposto ‘rombo’ são litígios tributários, devidamente já divulgados.

Com a Light (LIGT3), a preocupação foi de mesma natureza: a empresa tem dívidas de R$ 3,1 bilhões a serem pagas neste e no próximo ano para um caixa de R$ 4 bilhões. A luz amarela foi acesa, até porque a empresa contratou a Laplace Finanças, mesmo escritório que cuidou da Oi em recente processo de recuperação judicial.

Lucas Bohn, sócio e especialista de renda variável da Acqua Vero, pontua que cada empresa passa por uma auditoria de empresas internacionais, então o mercado tende a acreditar que não existem fraudes no balanço. 

Os reflexos nas debêntures

Evandro Buccini e Alex Hirai, especialistas em crédito corporativo na Rio Bravo, em carta mensal aos investidores, relatam que o mercado de crédito privado começou 2023 movimentado com o pedido de recuperação judicial de Americanas, "empresa antes considerada high grade com a nota de rating AA+ pela Fitch".  Segundo eles, o evento causou uma abertura geral nos spreads de crédito das debêntures no mercado secundário.

Os dois observam que, na semana da publicação do fato relevante de Americanas, houve uma das maiores quedas de rentabilidade do mercado de crédito desde a pandemia, retratados em dois índices de debêntures, o IDA-DI (Anbima) e o IDEX-Geral. Nesse período, a diferença entre o preço de venda e de compra das debêntures no mercado secundário aumentou em mais 100 bps (excluindo efeito Americanas). 

“No entanto, o momento de maior estresse já passou e podemos notar a normalização dos spreads de crédito e a redução significativa da diferença entre o preço de venda e de compra para 5 pontos-base a 10 pontos-base, refletindo na rentabilidade dos índices”, diz a análise mensal da Rio Bravo. 

Como fica a credibilidade no crédito corporativo?

Essa pergunta não é tão fácil de ser respondida, segundo o professor da FGV-EAESP, José Pereira da Silva. 

Ele pontua que o lançamento destes títulos a longo prazo está associado ao financiamento estratégico para crescimento da empresa, muito comum em varejistas que querem crescer no número de lojas, por exemplo. 

O ponto de atenção não está na emissão de debêntures da companhia, mas sim no quanto de empréstimo de banco que está sendo usado como forma de pagamento, que deveria ser o mínimo possível, segundo o professor. 

 

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Sobre o autor
Mari Galvão
Repórter de economia na Mais Retorno

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