Crise da Americanas: queda de Ambev (ABEV3) e alta de Magalu (MGLU3) são momentâneas?
Na visão de analistas, as empresas de varejo devem captar parte do market share da Americanas
Na esteira da crise da Americanas, que em janeiro viu suas ações (AMER3) derreterem 85,42%, duas companhias distintas seguem trajetórias opostas, porém impactadas pela calvário da varejista que até pouco tempo atrás era tida como a queridinha dos gestores brasileiros. Uma dessas companhias é a Ambev.
Nesta quarta-feira, 01, a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), apresentou um estudo que aponta que a Ambev está envolvida em uma dívida de cerca de R$ 30 bilhões, feita por manobras tributárias em conjunto com outras empresas de bebidas. Com essa notícia na véspera, as ações (ABEV3) recuaram 3,5%.
Em resposta, a cervejaria afirmou que “as acusações da Cervbrasil não têm qualquer embasamento. Calculamos todos os nossos créditos tributários estritamente com base na lei. Nossas demonstrações financeiras cumprem com todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário.”
MGLU3 e ABEV3
A Magazine Luiza (MGLU3), que amargou um 2022 sofrível e em 12 meses acumula desvalorização de 36,80%, engatou um rali desde a divulgação do rombo financeiro da Americanas e, desde então, valorizou-se 46,20%. Em janeiro, a ação já acumula alta de 71,04%.
Já Ambev segue caminho oposto. Uma das principais empresas de consumo do País sofreu o golpe da Americanas e, desde então, a ação (ABEV3) já caiu 4,41%. Em janeiro, o revés é 3,74%.
No gráfico da Mais Retorno é possível conferir a trajetória destes papéis em janeiro e os impactos da crise da Americanas.
Mas qual a relação essas empresas guardam com a Americanas e porque são impactadas de forma distinta?
A dívida de R$ 43 bilhões da Americanas, que levou a empresa a entrar em processo de recuperação judicial, impacta outras partes do mercado financeiro. Isso por que os principal controlador da companhia, a 3G Capital, também controla empresas como a Ambev. Por outro lado, se a empresa está em crise, outras companhias devem ocupar um espaço que ela preenche.
Ambev
A queda de mais de 4% nos papéis de Ambev expõe que o investidor prefere sair de um risco que deixou de ser exclusivamente da Americanas e passou a ser da gestão, segundo Idean Alves, sócio da Ação Brasil Investimentos. Ele reitera que é pouco provável que o caso Americanas se repita com a Ambev.
Em relatório, o Credit Suisse se posicionou afirmando que a queda nos papéis da Ambev não é justificável. O Credit afirma que, ao contrário da Americanas, a empresa de bebidas é uma forte geradora de fluxo de caixa livre, com um rendimento de aproximadamente 6%.
O momento é de maior aversão ao risco devido aos últimos acontecimentos e para Marco Saravalle, estrategista-chefe da SaraInvest, caso o papel (ABEV3) sofra quedas ainda maiores, pode ser uma oportunidade de compra.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, tem perspectiva negativa para o papel (ABEV3) e a casa reitera short (venda). A motivação vai além do risco de imagem atrelado à crise da Americanas.
Para a Empiricus, a empresa já tem desafios próprios a serem enfrentados, como a possibilidade do fim do JCP (Juros sobre Capital Próprio) que retiraria benefício tributário da empresa. Ele também cita que o “momentum” da indústria cervejeira é ruim, dado o alto preço das commodities e a dificuldade em repassar esses preços para o consumidor final.
Magazine Luiza
Já no caso da Magazine Luiza, que surpreendeu com uma alta de mais de 40% desde o início desta crise, o benefício para a empresa vem de captar vendedores que utilizavam o e-commerce da Americanas. A Empiricus Research já indica que o GMV (volume total de vendas) da Magazine Luiza deve crescer 18% neste ano.
Ferrer explica que com todo esse imbróglio, está acontecendo uma migração de vendedores da plataforma da Americanas para o e-commerce da Magazine Luiza, movimento que justifica parte da alta nos papéis.
Os gestores e investidores que haviam investido em Americanas transferiram as posições para outros papéis dentro do mesmo setor, segundo Marco Saravalle, estrategista-chefe da SaraInvest. Ele acredita que a alta é momentânea e pode haver correção nos próximos dias.
Idean Alves, sócio da Ação Brasil Investimentos, afirma que não houve uma mudança drástica nos fundamentos da companhia que explique a alta de 44,88%.
Além disso, os analistas acreditam que assim como a Magazine Luiza captou parte dos vendedores da Americanas, outras companhias como Via, Amazon e Mercado Livre também ficarão com parte deste market share.
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