Em lockdown, cidade de Xangua dá um novo nó na cadeia global de suprimentos
Grandes empresas dos EUA já estão com as vendas afetadas pela paralisação das atividades na China
Algumas empresas dos Estados Unidos afirmam que os lockdowns em decorrência da covid-19 em Xangai e outras regiões da China já afetam suas vendas, interrompendo operações e impondo pressão adicional à cadeia global de suprimentos, que poderá ter impacto sentido até o verão do Hemisfério Norte.
Em reportagem publicada pelo Wall Street Journal, porta-voz do mercado financeiro norte-americano, a Apple disse que poderá sofrer um impacto nas vendas de até US$ 8 bilhões no trimestre atual, principalmente devido aos lockdowns em Xangai.
Já a gigante Honeywell International disse que as medidas de combate à covid-19 reduziram a produção em metade de suas fábricas na China.
A transportadora J.B. Hunt Transport Services, por sua vez, destacou que seus clientes estão preocupados com as entregas programadas para julho.
Covid-19
Desde o surgimento do coronavírus, a China tem adotado uma abordagem de tolerância zero, aplicando testes em massa e restrições de viagem, além de lockdowns generalizados.
A última onda em Xangai começou no início de março, fechando fábricas de empresas, como a produtora de carros elétricos Tesla e a fabricante de produtos de consumo Procter & Gamble.
Na maior parte dos países ricos, foi adotada uma estratégia de minimizar os casos de covid-19 e administrar novas ondas de forma a evitar graves interrupções nos negócios e na vida cotidiana.
Devido ao importante papel da China na cadeia industrial mundial, a disparidade de políticas criou um desequilíbrio.
Xangai, polo industrial e logístico com 25 milhões de habitantes, respondeu por 3,8% do PIB da China em 2021 e 7,2% das exportações do país, segundo dados do Bank of America (BofA).
Demora
O índice de atividade industrial dos EUA medido pelo Institute for Supply Management atingiu, em abril, o nível mais baixo desde julho de 2020, e o prazo médio para recebimento de materiais de produção aumentou para 100 dias, o mais longo de todos os tempos.
Na pesquisa, 15% dos participantes ouvidos expressaram preocupação com a capacidade dos parceiros na Ásia de realizar as entregas previstas para o verão do Hemisfério Norte, acima dos 5% em março.
A Apple projeta uma perda de US$ 4 bilhões a US$ 8 bilhões em vendas no terceiro trimestre fiscal que se encerra em junho devido à incapacidade de atender à demanda dos clientes, citando interrupções causadas pelos lockdowns e a escassez de semicondutores.
A empresa disse que os dois problemas têm Xangai como foco. No segundo trimestre, a empresa registrou vendas de US$ 97,3 bilhões.
A Apple e outras empresas afirmaram que reiniciaram algumas das operações que haviam sido interrompidas, já que a queda no número de casos de covid permitiu que mais da metade dos moradores da cidade deixasse o isolamento.
Normalização
Sua vizinha do Vale do Silício, a Intel, disse que, supondo que as restrições em Xangai estejam perto do fim, a interrupção dos negócios seria relativamente limitada.
"Mesmo com um lockdown curto, prevemos que levará algum tempo até que a cadeia de suprimentos se normalize", disse o diretor financeiro em uma teleconferência na semana passada.
David A. Zinsner, diretor financeiro da Intel, em teleconferência realizada na semana passada
"Se os lockdowns persistirem ou se espalharem para além de Xangai", acrescentou Zinsner, "poderemos sentir mais impactos em nossas perspectivas".
A Honeywell afirmou que metade de suas 20 fábricas na China não estão operando por completo e que a situação deve melhorar com o retorno à produção normal previsto para junho.
Segundo o CEO da empresa, Darius Adamczyk, o custo da interrupção é impossível de ser quantificado, mas as projeções financeiras da Honeywell para o segundo trimestre dependem do cronograma de retomada da produção.
Sem bola de cristal
A General Electric também afirmou que foi afetada pelas paralisações no primeiro trimestre, principalmente em sua divisão de Saúde, tanto na produção quanto na entrega de produtos.
O diretor presidente da empresa, Larry Culp, disse que a incerteza sobre as políticas de covid-19 na China torna difícil prever os impactos da paralisação de Xangai.
"Não acho que nossa bola de cristal seja melhor do que a dos outros".
Larry Culp, diretor presidente da General Electric, em entrevista ao Wall Street Journal
Embora o governo da China possa impulsionar o PIB com a adoção de medidas de estímulo, analistas do Bank of America acreditam que será mais difícil restaurar a confiança do setor privado após medidas tão severas.
"A realocação da cadeia de suprimentos para fora da China pode se acelerar, a menos que haja um relaxamento na política de covid zero"
Analistas do Bank of America
Mesmo que os lockdowns sejam suspensos em breve, os efeitos em cascata podem ser sentidos por meses, pois muitos dos navios de carga esperando para atracar em Xangai irão para os EUA, onde o congestionamento dos portos começa a se reduzir.
"Isso certamente vai voltar para os EUA neste verão", disse a diretora comercial da J.B. Hunt Transport Services, Shelley Simpson, em uma teleconferência nesta quinta-feira, 5.
A empresa transporta mercadorias por caminhão e trem, e suas operações incluem serviços de "last mile" ou a etapa final da entrega. "Nossos clientes estão preocupados com as entregas de julho", disse Simpson.
A W.W. Grainger também disse acreditar que as paralisações atinjam as linhas de abastecimento nos próximos meses. A empresa de serviços industriais vem aumentando os níveis de estoque desde meados de 2021 para atender à demanda.
Consumo interno mais fraco
Além da cadeia de suprimentos, as empresas foram afetadas pela paralisação da própria economia regional, pois a China é um mercado consumidor fundamental para muitas multinacionais.
A Estée Lauder prevê semanas sombrias à frente, já que os lockdowns afetaram a demanda e impediram que os produtos da empresa chegassem às lojas e aos compradores online. O principal centro de distribuição da empresa na China fica em Xangai.
"Estamos animados com alguns sinais recentes de queda no número de casos. Mas há muita volatilidade", disse a diretora financeira Tracey Travis em uma teleconferência.
A P&G tem duas fábricas próprias, além de uma terceirizada, na região de Xangai que foram fechadas, e tentou compensar as perdas.
Nas categorias de vendas da empresa, o tamanho do mercado da China ficou estável nos primeiros três meses deste ano e deve permanecer entre estável e negativo em abril, segundo informou a empresa no mês passado.
Resiliência
A Coca-Cola, que obteve na região Ásia-Pacífico 13% de sua receita de US$ 10,5 bilhões no primeiro trimestre, teve um forte início de ano no país, antes da adoção das restrições. A receita operacional do trimestre caiu 3% na região.
"Os lockdowns, particularmente em Xangai, desanimaram", disse o diretor presidente James Robert Quincey,em uma teleconferência na semana passada. "Nos sentimos mais preparados e mais resilientes para a onda de covid de 2022 na China do que em 2020".
Leia mais
Renda fixa terá ganho nominal mais alto com selic a 12,75% (maisretorno.com)
Criptomoedas: conheça cinco que foram destaques em abril (maisretorno.com)
Petrobras tem lucro de R$ 44,5 bilhões com crescimento de 3,718% (maisretorno.com)
Bradesco tem lucro de R$ 6,821 bilhões no 1º trimestre de 2022 (maisretorno.com)