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Economia

Economia, segurança nacional e a questão dos incentivos

Data de publicação:14/11/2023 às 13:34 -
Atualizado 6 meses atrás
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Reformas econômicas eram bastante comuns nas décadas de 80 e 90, principalmente após a queda da União Soviética.  Foi um período em que se estimulou o comércio internacional, a autonomia dos bancos centrais, a venda de estatais e a organização das contas públicas. 

Como resultado, o crescimento.  De acordo com estudos do Banco Central Europeu (BCE), uma década após a implementação dessas mudanças, o incremento no PIB per capita já era aproximadamente 6% superior.

O mesmo respaldo é encontrado nas pesquisas econômicas sobre países emergentes.  O foco no comércio internacional, por exemplo, aumentou o crescimento médio do PIB em mais de 2,5% ao ano após o mesmo período de 10 anos. 

Especificamente para as economias latinas, isso permitiu não só o controle da inflação, mas também a estabilidade econômica, fatores imprescindíveis para que recebessem financiamento externo, dado o histórico de calote

Esgotamento de um modelo

Há dez anos atrás, esse processo em nível global parou.  Com o comércio muito mais integrado e menos empresas estatais por sanar, houve uma certa acomodação, pois junto com as medidas implementadas, vieram alguns efeitos colaterais.

Instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que exigiam reformas em troca de pacotes de ajuda, tornaram-se mais céticas em relação aos benefícios da adoção de um modelo único para todos.   

Reversão da globalização 

globalização começou na década de 90, quando houve uma ampla liberalização para que dinheiro e pessoas pudessem atravessar fronteiras e explorar as melhores oportunidades. 

O fato de a China ter entrado na Organização Mundial do Comércio (OMC) no início do século XXI alavancou as chamadas cadeias globais de valor, permitindo uma escala de produção antes impensável.  Consequentemente, produtos mais baratos eram vendidos em qualquer lugar.

Entretanto, esse livre fluxo de capital e trabalho trouxe alguns transtornos: linhas de produção encerradas deixaram cidades industriais desertas enquanto os grandes centros urbanos enfrentavam um custo de vida proibitivo.  

Os baixos juros no mundo, decorrentes de uma inflação bem comportada, valorizaram as propriedades, cujos preços explodiram conforme países afora implementavam os seus programas de “vistos gold”

Populismo

As coisas já não estavam bem na metade da década passada, o que favoreceu a ascensão do populismo, seja via o Brexit no Reino Unido, seja via a eleição de Donald Trump nos EUA.   

Uma pandemia depois, os ingleses ainda não sabem o que ganharam saindo da União Europeia, enquanto os norte-americanos não necessariamente viram um renascimento imediato da indústria.  

Confirmou-se então o que já se suspeitava: os empregos tinham sido extintos por conta dos avanços tecnológicos, como sugere um estudo da Universidade de Yale, e não por culpa exclusiva da China.

Segurança nacional 

Passados três anos, a economia se tornou um assunto de segurança nacional e não pelos motivos desejados.

A ruptura nas cadeias globais de valor, que gerou escassez de toda sorte a partir do final de 2019, e a invasão da Ucrânia, com os inconvenientes efeitos das sanções e do aumento dos preços de commodities, exacerbaram a necessidade de autossuficiência, preferencialmente via políticas induzidas pelo Estado.

O fruto disso são as novas regulamentações norte-americanas e europeias, que destinarão uma grande quantidade de recursos para que se produza localmente tecnologia de ponta e capacitação para a transição energética.

Assim, disputam a atenção e a preferência de empresas que dominam esses setores, ainda que sob uma lógica de negócios que não necessariamente preza pela eficiência.  

Se gastará muito, mas se alcançará pouco em termos de crescimento econômico e de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Verticalização

Independentemente do nome que se dê, a verdade é que todos querem um controle maior dos fatores de produção, ampliando os seus estoques ou até mesmo adquirindo os seus fornecedores (verticalização).

Em termos práticos, não se trata de apenas trocar o nome e o lugar das empresas.  Por mais que maquinário e pessoas possam ser transportados, é necessário um mínimo de infraestrutura logística para o local que vai recebe-los, o que exige, acima de tudo, planejamento. 

A importância dos incentivos corretos

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), os países já se comprometeram com algo em torno de US$ 1,3 trilhão em subsídios para fontes renováveis.  Números notáveis, mas cujos resultados podem ser decepcionantes.

Usando a Alemanha como exemplo, quando ela tentou incentivar a energia solar, a tecnologia decolou, mas os empregos não vieram.  O erro foi favorecer a instalação de módulos solares, fabricados em outros lugares.

Exigências de conteúdo local também não ajudam.  Primeiro, pelo tempo necessário para alcança-las.  Segundo, pelo fato de que mitigar as mudanças climáticas exige um compromisso de todo o planeta. 

Conclusão 

Em se tratando de segurança nacional, todas as “armas” estão na mesa: aumento de tarifas, gastos em pesquisa e desenvolvimento, além do fomento de campeões nacionais em setores estratégicos, relacionados principalmente à transição energética e à inteligência artificial.

Hoje se gasta dez vezes mais em política industrial quando comparado com o período entre 2010 e 2015.  

Entre os motivos para tamanha gastança, reduzir a vulnerabilidade externa, que pode ser decorrente da falta de insumos, de problemas logísticos, ou até mesmo de outro choque do petróleo, consequência de um novo conflito, como o do Oriente Médio, capaz de estrangular a produção que transita pelo Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico.

Mas, como conciliar esses gastos públicos e criar mais empregos se haverá menor produtividade e, consequentemente, menos crescimento econômico?  A capacidade de endividamento do Estado não é ilimitada, principalmente em um mundo de altas taxas de juros.

Aumento da percepção de risco

Além disso, ao se desfazer do modus operandi do mundo atual, não haverá outro pronto para substituí-lo, o que quer dizer que os seus efeitos podem se desdobrar de formas imprevisíveis, gerando aumentos inclusive nos yields pela própria percepção do aumento de risco, independentemente do nível de inflação.

Ao tornar a economia um assunto de segurança nacional, não se pode negligenciar a importância dos incentivos corretos.  Sem eles, não há caminho para um mundo mais seguro, justo e sustentável.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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