Economia: como gerar crescimento em um mundo fragmentado? Índia e Indonésia são referências
Economias dos dois se destacam pelo potencial de crescimento nos próximos cinco anos
Entre as 20 maiores economias do mundo, duas se destacam pelo seu potencial de crescimento: a Índia e a Indonésia.
Localizadas na Ásia e com uma população conjunta de 1,7 bilhão de pessoas, trata-se das duas economias no topo do ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI) não só para o ano de 2023, mas também para os próximos 5 anos.
Entender o que fazem de diferente pode ajudar a vislumbrar o modelo econômico do futuro, considerando fatores como a regionalização e a autossuficiência, a geopolítica e, não menos importante, a dinâmica dos mercados mundiais de energia.
Substituindo “Factory China”
Ao longo do tempo, a receita para o crescimento, explorada à exaustão pela China, que tirou 800 milhões de pessoas da miséria, era a seguinte: levar as pessoas do campo para a cidade, onde se encontravam as indústrias, para produzir em grande escala e exportar.
Observando o quanto o mundo mudou, fazer o mesmo hoje é impossível.
Primeiro, porque nem todo país conta com o modus operandi do partido comunista chinês, que executa o plano quinquenal, faça chuva ou sol. Segundo, porque a globalização já é um assunto do passado. Além disso, hoje se usa mais maquinário (robôs) no processo produtivo.
Atentando-se às suas semelhanças e diferenças, o que podemos aprender com a Índia e a Indonésia?
Execução é tudo
No aspecto político, seus líderes Narendra Modi (Índia) e Joko Widodo (Indonésia) possuem a fama de serem pessoas que executam o que foi proposto. Nesse sentido, seguem a cartilha chinesa, o que trouxe bons números.
Enquanto o PIB da Índia cresceu 71% na última década, o da Indonésia teve um incremento de 52%. Para tanto, contaram com o comércio internacional (responsável por 40% do PIB) e o investimento estrangeiro direto (da ordem de 1,5% do PIB, aproximadamente).
O curioso é que obtiveram esse resultado em condições bastante adversas.
A economia informal representa 90% do mercado de trabalho da Índia e 60% da Indonésia, sendo o gasto público, que inclui os programas de transferência de renda, relativamente modesto: 30% do PIB (Índia) e 18% do PIB (Indonésia).
Algo a se pensar, enquanto governos mundo afora e o Brasil decidem como gastar.
Vantagens comparativas
No início do ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) já previa que a população da Índia ultrapassaria a da China ainda em 2023, o que quer dizer que terá a maior quantidade de pessoas em idade produtiva do planeta.
Com um bônus demográfico que deve durar até 2050, a Índia “produz” 500 mil novos engenheiros de TI por ano, abocanhando 15% de tudo o que se gasta com serviços de TI no mundo.
A Indonésia, com uma população menor (280 milhões), preferiu focar em commodities como o níquel, fundamental para a transição energética. Acredita-se que em um prazo de 7 anos, o país será o quarto maior produtor de insumos para baterias e redes de energia ligadas a fontes renováveis.
Para ambas, são setores responsáveis por aproximadamente 20% de suas exportações, ainda que não produzam proporcionalmente tantos empregos. Para reverter essa situação, contam com a ajuda do investimento direto que vem de fora.
Tendência mundial
Modi está implementando um programa de incentivos para a produção de chips, além de ter se comprometido com o “net-zero” em 2070, o que significa turbinar a sua “infraestrutura verde”. Além de empregar mais mão de obra, o objetivo é reduzir os custos, altamente voláteis, da energia que a Índia importa.
Commodities de maior valor agregado é o que a Indonésia espera dos investidores que batem à sua porta em busca de oportunidades. Ao ter banido a exportação de commodities em seu estado bruto há alguns anos, o país segue a tendência mundial da política industrial como indutora do crescimento.
A questão geopolítica
Tensões no cenário internacional são encaradas de formas distintas.
A Índia olha com ressalvas para a vizinha China, se preocupando mais em atrair empresas estrangeiras traumatizadas com a experiência vivida na terra de Xi Jinping de permanecerem mais de 1.000 dias fechadas para o mundo.
Já a Indonésia “olha para o gato e para o peixe”, recebendo recursos da mesma China, um de seus maiores investidores.
O motivo para não se posicionarem na questão geopolítica pode ser explicado por um de seus líderes: “a Indonésia coloca a Indonésia em primeiro lugar”, emprestando uma frase que o ex-Presidente dos EUA, Donald Trump, gostava de usar (“America first”).
Conclusão
Dado o tamanho de sua população e de seu mercado de capitais, tudo indica que a Índia deslanchará mais rapidamente (o índice MSCI India, de aproximadamente US$ 830 bilhões, representa 24% de seu PIB).
Entretanto, alcançar qualquer coisa parecida com o feito chinês não será tarefa fácil. Em um período de 30 anos, a China cresceu 36 vezes.
Excluindo a grande mão de obra informal e a deficiência na infraestrutura, boa parte dos campeões nacionais indianos e indonésios, que poderiam ser comparados aos “chaebols” (conglomerados da Coréia do Sul), sofre pouca concorrência externa.
Soft power
Mas, como em qualquer país com líderes fortes, talvez a principal característica a se destacar seja a capacidade de manter o crescimento pelo maior tempo possível. Assim sendo, não se trata de como se gera e se distribui a riqueza, mas de onde vem o dinheiro para o desenvolvimento.
Há 10 anos que a China financia grandes projetos ao redor do mundo (Belt and Road Initiative, também conhecida como a nova “Rota da Seda”), exportando sua grande capacidade industrial como forma de exercer o “soft power”.
Artifício utilizado para polir a imagem da elite política local, é fato que os países que recebem os investimentos chineses terminam atados a condições de financiamento que simplesmente não conseguem quitar.
Como não poderia deixar de ser, acabam vendendo seus recursos naturais ou cedendo participações em projetos estruturantes. Pior do que não poder escolher o próximo líder para governar o país (e o seu respectivo modelo econômico), é ele ser escolhido por um grupo que coloca os interesses de Pequim acima dos demais.