Copom mantém Selic em 13,75% pela sétima vez consecutiva e sem sinalizar queda
Tom do comunicado foi considerado duro pelo mercado que aguardava abertura de espaço para queda dos juros a partir de agosto
Pela sétima vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu na reunião de hoje, a quarta do ano, pela manutenção da taxa Selic em 13,75%. Considerando que a inflação em 12 meses está agora em 3,94%, o País tem o juro real mais elevado em todo o mundo, de 9,44%.
O que não trouxe nenhuma surpresa ao mercado, que apostava na permanência da taxa no mesmo nível que está desde julho de 2021. O comunicado emitido pelos dirigentes do Banco Central após o término do encontro, no entanto, foi considerado duro e parece ter frustrado os agentes econômicos, sem nenhuma sinalização para início da queda dos juros.
“O Copom reforçou que segue adotando ‘cautela e parcimônia’, muito por conta do processo desinflacionário ser mais lento que o previsto, e também pelas expectativas de inflação ainda estarem bastante desancoradas, o que pede vigilância do Comitê, para ainda manter os juros no patamar atual”, analisa Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
De todo modo, Alves chama a atenção para o fato de que o comitê não sinalizou o corte de juros na próxima reunião, contrariando as expectativa do mercado, daí porque o tom do comunicado está sendo considerado duro. “Todavia, na minha visão, o cenário atual está melhor que o esperado e isso deve se materializar em corte em algum momento no ano de 2023” diz ele.
Do comunicado, o especialista ainda destaca os trecho em que o Copom se apoiou para não mexer na Selic:
- as pressões inflacionárias globais, que seguem fazendo peso no Brasil, e no mundo, e tem contribuído também para a alta de preços locais;
- a "dúvida" em relação ao desenho final do arcabouço fiscal que ainda vai ser aprovado pelo Congresso Nacional, e como ele vai impactar em relação às expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação;
- a falta de convergência para a meta inflação no mundo, em especial no Brasil;
- as incertezas sobre a crise bancária nos EUA, e o nível de crescimento das economias
“Na minha opinião, devemos ter a manutenção da Selic na próxima reunião em agosto, em que deve haver a sinalização de quando o corte pode ocorrer. Ao que tudo indica e como não houve sinalização neste comunicado, esse corte se dará muito provavelmente na reunião de setembro. O Copom está bem assertivo no discurso e não vai mudar agora.”
Para Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, o teor do comunicado "é compatível com flexibilização em agosto, mas o BC optou por assegurar graus de liberdade e não se comprometeu com queda de juros iminente.''
Na opinião dela, para o corte em agosto, é imprescindível que a meta de inflação seja confirmada em 3,0% na reunião do CMN, e a continuidade de bons resultados na inflação corrente e das estimativas na pesquisa semanal do Focus. "Esperamos que as condições permitam, ao fim, um corte de 0,25% em agosto, dia Débora.
Trajetória da Selic
Em plena pandemia, em agosto de 2020, a taxa caiu para a sua mínima histórica, de 2% ao ano, e aí ficou até março de 2021. Naquele mês, em 12 reuniões consecutivas, o Banco Central, passou a elevar a Selic até os atuais 13,75%, no ciclo de alta mais prolongado desde 1999.
O mercado espera que a Selic, com cortes no segundo semestre, chegue ao final deste ano entre 13,50% e 13,25%, com mediana de 12,25%, segundo o boletim Focus do Banco Central.
Controle da inflação
A calibragem dos juros é feita pela autoridade monetária para levar a inflação dentro das metas traçadas pelo próprio BC.
Para este ano, dificilmente a alta dos preços ficará em 3,5%, que é o centro da meta, mas ao menos nas projeções atuais ela se aproxima do teto da meta que é de 3%. Pelo Focus, o IPCA para 2023 é esperado em 5,12%. Há perspectiva de que em junho, a inflação seja negativa, deflação.
Para 2024, as estimativas já se encontram dentro dos limites da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional: enquanto a meta de inflação é de 3%, podendo oscilar de 1,5% a 4,5%, o mercado trabalha com a projeção de 4%.