Confira como ficam suas aplicações na renda fixa com a nova Selic, de 7,75%
Mesmo com a alta, o juro básico da economia continua correndo abaixo da inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou em 1,50 ponto porcentual, de 6,25% para 7,75% ao ano, a taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira. A alta seguiu o teto das estimativas de analistas, onde se concentrou a maioria das apostas, que variaram entre 1,25 ponto porcentual e 1,50 ponto porcentual. A renda fixa com a nova Selic ganha atrativos.
Embora mais interessante, a remuneração ainda não é suficiente para devolver o que foi perdido para a inflação. Principalmente em opções mais triviais, como as que fazem parte da lista de simulações dessa reportagem.
De todo modo, as seguidas elevações da Selic aumentam gradualmente a atratividade da renda fixa, como opção de menos risco para o investidor, em ambiente de muita volatilidade no mercado de renda variável.
A busca de rentabilidade mais atraente, no entanto, exige uma garimpagem entre os ativos ofertados no vasto mercado de renda fixa, que vão de títulos, públicos e privados, aos fundos de investimento, também com carteira bastante diversificada de papeis.
Confira a renda fixa com a nova Selic
O ajuste na Selic melhorou a rentabilidade, mas o nível ainda é insuficiente para proporcionar juro real ao aplicador. O rendimento real líquido, após todos os descontos, incluindo a parte desvalorizada pela inflação, não chega sequer ao valor nominal inicial investidor. Acompanhe as simulações em cálculos da Mais Retorno.
Quem aplicar R$ 1.000 por 12 meses em um CDB com taxa de juros pela nova Selic terá no vencimento um saldo nominal líquido de R$ 1.077,50 (capital aplicado mais rendimento).
Mas, após o desconto do imposto de renda de 20% (alíquota para aplicação de até um ano) e da inflação estimada em torno de 9% no período, o valor líquido cai para R$ 1.060,06, e quando descontada a inflação o valor real terá recuado para o equivalente a R$ 965,08. Um valor inferior ao da aplicação inicial, o que significa perda do poder de compra do capital investido, porque a taxa de remuneração foi insuficiente em relação à inflação.
Uma aplicação de R$ 1.000 no Tesouro Selic, título público com juro pós-fixado indexado à Selic, remunerado pela nova taxa, estará com R$ 1.074,81 como saldo nominal bruto, no vencimento. Após o desconto do imposto de renda de 20% e da inflação ao redor de 9% prevista no período, o investidor poderá resgatar R$ 1.059,85, montante que terá o poder de compra a equivalente a R$ 964,88. Valor abaixo do capital inicial aplicado, indicando que houve perda real, porque a inflação rodou acima da taxa de remuneração do título.
Quem aplicar em um fundo DI com carteira formada por títulos públicos indexados à nova Selic terá na conta, no fim de 12 meses, um saldo nominal bruto de R$ 1.070,55. Valor que encolhe, como saldo líquido final de resgate, para R$ 1.056,46, após a dedução de 20% de imposto de renda, com o desconto da inflação estimada em torno de 9% no período, em termos reais, é como se o aplicador estivesse recebendo um total de R$ 961,80.
A mordida do Leão leva uma fatia do rendimento pelo desconto na fonte, mas a isenção de imposto de renda não é suficiente para assegurar maior vantagem competitiva a títulos com benefício de isenção fiscal, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA).
Principalmente quando a taxa de remuneração, como porcentagem do CDI, for inferior a 100% da taxa de referência, no caso o próprio CDI – usado nas operações privadas, como a Selic é nas operações com títulos públicos, o CDI costuma caminhar ligeiramente abaixo da Selic.
Uma aplicação de R$ 1.000 pelo prazo de um ano em LCA por uma taxa equivalente a 97% do CDI (ou 7,52% ao ano, já ajustado à nova Selic), terá como saldo, no vencimento, valor nominal líquido de R$ 1.075,18. O resgate ficará menor, com a equivalência de R$ 978,84, até abaixo do capital inicial aplicado, descontada a inflação de 9% prevista no período.
Quem aplica R$ 1.000 em uma LCI por uma taxa equivalente a 80% do CDI (já ajustado à nova Selic) ou 6,20% ao ano chegará ao vencimento, depois de um ano, com valor nominal bruto de R$ 1.062,00. O valor real líquido que irá para o bolso do aplicador terá a equivalência de R$ 966,84, descontada a inflação estimada ao redor de 9%, acima da taxa de remuneração da letra.
A caderneta de poupança é a que entrega o menor rendimento na renda fixa, embora isenta de imposto de renda. Com rendimento equivalente a 70% da Selic, que subiu para 7,75%, o rendimento da caderneta em 12 meses foi para 5,43%. Quem aplica R$ 1.000 receberá, após um ano, valor nominal R$ 1.054,25, ou líquido, que recua para um total equivalente a R$ 959,79, uma vez descontada a inflação perto de 9% projetada no período.
A regra atual de cálculo do rendimento da caderneta, equivalente a 70% da Selic, pode estar com os dias contados. O critério em vigor permanece como está enquanto a Selic estiver rodando abaixo de 8,50% ao ano.
Caso o Copom calibre mais uma dose de 1,50 ponto porcentual, elevando a Selic para 9,25% ao ano, como indica a sinalização do próprio Copom, na próxima reunião em dezembro, a caderneta voltaria à regra anterior quando passaria a render juro de 0,50% ao mês ou 6,17% ao ano mais a variação da TR (Taxa Referencial). Como a TR está zerada com a Selic abaixo de 8,50%, a dúvida é saber com que valor ela ressurgirá na retomada dos cálculos.
Até onde vai o ciclo de alta da Selic?
A expectativa de analistas do mercado financeiro é que o ciclo de elevação da Selic, iniciado em março, tenha continuidade até o início do próximo ano. O banco Itaú, visto como formador de opinião do mercado, já prevê uma taxa básica de 11,25% ao ano até o primeiro trimestre de 2022.
Juros em alta reforçam a atratividade da renda fixa. E à medida que a Selic sobe e a inflação perde fôlego, supostamente como resposta à ação de uma política monetária mais dura, mais atraentes ficam as aplicações remuneradas por juros, preveem especialistas. Um movimento assimétrico de juros em alta e inflação em queda dobraria a atratividade, já que os juros positivos, acima da inflação, voltariam à renda fixa.
Algumas opções interessantes já estão em oferta no mercado de renda fixa, apontam especialistas, tanto em títulos públicos como privados.
O atrativo dos títulos públicos
No segmento de títulos públicos, um dos papeis mais recomendados por especialistas são as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B), que estão com juros bastante atraentes. Um rendimento que chama a atenção não apenas em títulos de prazo longo.
Papeis de vencimento curto, para maio de 2023, negociados no mercado secundário, oferecem juro acima de 5% ao ano, além de uma correção monetária robusta por uma inflação alta prevista para 2022. Apontada como uma das melhores oportunidades da renda fixa, no momento, a NTN-B é considerada também uma proteção contra a inflação
A versão da NTN-B na plataforma do Tesouro Direto, o Tesouro IPCA, ofereceu na tarde desta quarta-feira, dia de decisão do Copom sobre a nova Selic, juro prefixado de 5,37% ao ano mais correção monetária pelo IPCA, para títulos com vencimento em agosto de 2026.
Os títulos de crédito privado, principalmente debêntures incentivadas, voltadas ao mercado de infraestrutura, não ficam atrás. A rentabilidade depende do risco da companhia emissora, em geral considerada superior ao de títulos públicos, mas no mercado secundário de debêntures as taxas vêm em alta, parte delas encostando em IPCA mais 7% ao ano.