Renda fixa volta a pagar rendimento real ao investidor com Selic a 10,75%
Expectativa do mercado é desaceleração da inflação ao longo do ano
A elevação da taxa básica de juros, a Selic, para 10,75% ao ano, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), nesta quarta-feira, 2, melhora não apenas o rendimento nominal das aplicações de renda fixa. Após meses seguidos em nível negativo, a taxa básica de juros passa para o terreno positivo e a proporcionar rendimento acima da inflação em aplicações tradicionais como títulos e fundos de renda fixa.
A Selic é o juro básico que serve de referência para a remuneração da renda fixa. Piso de juro da economia, é também o piso de juros de aplicações remuneradas por taxas de juro. Com a volta por cima da Selic, a inflação de 10,06% acumulada nos últimos 12 meses, que é também a inflação de 2021, teria sido ultrapassada, ainda que por ligeira margem, pela nova taxa básica, de 10,75%.
Aplicação | Rendimento bruto | Desconto do IR | Rendimento líquido | Rendimento real |
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CDB (100%CDI) | 10,75% | R$ 24,19 | 8,33% | 2,50% |
Tesouro Selic | 10,75% | R$ 20,95 | 8,38% | 2,54% |
Fundo DI | 10,54% | R$ 19,96 | 7,99% | 2,18% |
Poupança | 7,53% | -.- | 7,53% | 1,74% |
A inflação passada é apenas uma referência para comparação e deixar claro que o cenário está virando em favor das taxas de juro. O melhor nessa nova fase de corrida entre juros e inflação, para quem torce pela volta do ganho real, é o horizonte desenhado pelos economistas do mercado financeiro: uma inversão de tendência de juros e inflação.
A expectativa do mercado é que a Selic passe por novas elevações antes da conclusão do atual ciclo de alta iniciado em março de 2021 e a inflação siga em um processo de desaceleração que pode levar o IPCA a praticamente metade da variação acumulada em 2021 no fim do ano.
Dados do último boletim Focus apontam que, pelas estimativas do mercado, a Selic deve fechar o ano no nível de 11,75% e a inflação ligeiramente acima de 5%, em 5,15%. Como a Selic está em 10,75%, a expectativa é de pelo menos mais um aumento de 1 ponto porcentual na taxa básica. A diferença entre a Selic estimada e a inflação projetada seria o suposto juro real, o ganho positivo, com que a renda fixa fecharia o ano.
Vinicius Romano, especialista de renda fixa na Suno Research, diz que os ativos pós-fixados ganham mais destaque com a alta da Selic (opções como CDB e Tesouro Selic), já que sua rentabilidade é atrelada à Selic ou ao DI (juro usado em títulos privados, que anda colado na Selic). “Quanto mais as taxas subirem, melhor para essa modalidade na renda fixa.”
Veja como fica o rendimento da renda fixa
Confira na tabela de simulação de rendimentos o desempenho de aplicações por um ano em vários ativos de renda fixa remunerados pela nova taxa básica de 10,75% ao ano, com uma inflação projetada em 5,7%.
O investidor que aplica R$ 1.000, por exemplo, em um CDB e com vencimento em um ano que remunere pelo juro CDI idêntico à Selic de 10,75% ao ano terá obtido após 12 meses um rendimento bruto de R$ 107,50. Somado ao valor inicial aplicado, o valor bruto chegará a R$ 1.107,50, do qual será descontado o imposto de renda, que abaixará a quantia líquida de resgate para R$ 1.083,31. Esse é o valor nominal que vai para a conta do investidor, mas se for descontada a inflação projetada no período o valor real, medido pelo poder de compra, cairá para R$ 1.025,03.
Quem investe R$ 1.000 no Tesouro Selic, título público com rendimento atrelado à Selic ofertado na plataforma do Tesouro Direto, obterá no fim de 12 meses um rendimento de R$ 104,73, já descontada a taxa de custódia. Somado ao capital aplicado, isso dará R$ 1.104,73. Com o abatimento de R$ 20,95 de imposto de renda, o valor total líquido que cairá na conta do investidor recuará para R$ 1.083,79. É o valor nominal que o aplicador recebe, mas o real, medido em poder de compra, descontada a inflação prevista no o período, terá caído para R$ 1.025,48.
Uma aplicação de R$ 1.000 em fundo DI, com rendimento referenciado na nova Selic de 10,75%, obterá no fim de 12 meses um rendimento de R$ 99,82, após o desconto da taxa de administração. A soma do capital aplicado com esse rendimento dá R$ 1.099,82, que, descontado o imposto de renda de R$ 19,96, terá o líquido rebaixado para R$ 1.079,86. Descontada a inflação projetada em 12 meses, essa quantia, avaliada pelo seu poder de compra, fica reduzida para R$ 1.021,76.
Quem aplica R$ 1.000 em uma poupança por um ano, com remuneração equivalente a 7,53%, teria no fim do período um rendimento de R$ 75,25, isento de imposto de renda. Somado à aplicação inicial, o valor de resgate será R$ 1.075,25, que recuará para R$ 1.017,40, em poder de compra, com o abatimento da inflação estimada para o período.
A elevação da Selic para 10,75% ao ano evita que quem aplica R$ 1.000 nessas modalidades de renda fixa receba no momento do resgate, descontada a inflação do período, valor abaixo do capital nominal aplicado, como ocorria sistematicamente nos períodos de Selic baixa.