Com patrimônio de R$ 168 bilhões e 595 mil cotistas, maiores fundos de renda fixa dos 5 bancões perdem feio da inflação
Fundos do Banco do Brasil e da Caixa também rendem menos do que a Selic
Os maiores fundos de renda fixa dos cinco bancões do País acumulam um patrimônio de R$ 168,568 bilhões, uma concentração que representa 11% do patrimônio total de um universo de 829 fundos, de R$ 1,570 trilhão. A má notícia para seus cotistas, mais de 595 mil, é que esses fundos continuam perdendo da inflação, sem proteger o patrimônio deles.
Em 24 meses, por exemplo, a inflação represada está em 16,98%, enquanto a rentabilidade dos fundos no mesmo período fica entre 4,06%, do FIC FI da Caixa Prático, e 9,14%, do Itaú Privilège RF Referenciado DI FIC FI. A propósito, o fundo do Itaú é o único que consegue superar a inflação em 3 meses e no ano - e em alguns períodos, também a Selic.
O tamanho dos 5 fundos de renda fixa
Em estudo exclusivo feito pela Mais Retorno, foram selecionados os maiores fundos em patrimônio de cada banco: Banco do Brasil, Itaú, Caixa, Bradesco e Santander.
Fundo | Patrimônio em R$ bilhões | Nº cotistas |
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BB RF CURTO PRAZO AUT. SETOR PÚBLICO | 71,569 | 171.276 |
ITAÚ PRIVILÈGE RF REFERENCIADO DI | 37,539 | 224.514 |
FIC FI CAIXA PRÁTICO RF CURTO PRAZO | 32,913 | 16.353 |
BRADESCO FIC FI REFERENCIADO DI MAX | 18,014 | 120.243 |
SANTANDER RF REFER. DI ADVANCED | 8,533 | 63.047 |
O gráfico e a tabela abaixo foram elaborados com dados levantados pelo Comparador de Ativos, nova ferramenta da Mais Retorno, que possibilita a comparação de todos os ativos - de ações, títulos a fundos de investidos - distribuídos e negociados no mercado brasileiro. Funcionalidades que você pode conferir aqui. A ferramenta estará aberta ao público em geral por tempo limitado.
Observe que dos 5 fundos pesquisados, apenas os produtos sob gestão de grandes bancos privados conseguiram ganhar da Selic. Os fundos do Banco do Brasil e da Caixa perderam tanto da Selic quanto da inflação em todos os períodos de análise.
As taxas de juro nas mínimas históricas do período do levantamento explicam em parte a má performance dos fundos. A Selic encerrou 2020 em 2,00% ao ano e permaneceu nesse nível até março de 2021, quando o Banco Central iniciou o ciclo de alta, e fechou o ano em 7,75%.
Em descompasso com a evolução da Selic, a inflação passou por um processo de aceleração já em 2020 e de escalada mais acentuada no ano passado. Após encerrar 2020 mais comportado, com alta de 4,52%, o IPCA disparou e acumulou uma variação de 10,06% em 2021.
O descompasso da Selic em relação à inflação é um dos motivos que levaram os fundos de renda fixa destacados nessa reportagem a perder do IPCA acumulado nos diferentes períodos. Mas só isso apenas não explicam as perdas.
O fraco desempenho dos fundos sob gestão dos grandes bancos públicos, como BB e Caixa, está relacionada também à estratégia e à gestão.
Entenda melhor esses fundos e as performances de cada um na análise de Pedro Augusto de Campos Lavorenti, especialista da SVN Investimentos.
Analista explica o que aconteceu
Lavorenti diz que esses fundos estão aí para deixar claro que há outras opções de investimento, além das tradicionais LCAs, LCIs, CDBs e poupança para os bilhões de reais que ficam estocados nos grandes bancos. Um dinheiro que, mesmo aplicado, “nem sempre é remunerado adequadamente, perdendo para a inflação e o próprio CDI”.
Uma característica comum nos tipos de fundo analisados, aponta, é que, em geral, investem em títulos públicos e de crédito privado de baixo risco. Um formato de carteira que serve “mais como instrumento de liquidez para o investidor e não para gerar maior rentabilidade no longo prazo”.
Detalhes de cada fundo de renda fixa
A maioria dos investidores embarca nesses fundos para ter liquidez - ter o dinheiro à mão para os gastos recorrentes de cada mês. Uma justificativa que vai por água abaixo diante de outro estudo exclusivo feito pela Mais Retorno. Entre os fundos mais rentáveis, há fundos que oferecem igualmente liquidez diária. É o caso do Infinity Select FI RF LP, que consegue superar à inflação: em fevereiro, o rendimento ficou em 1,45%, em 2022, de 2,77%, e em 12 meses, de 11,07%.
Confira as características de cada um dos 5 fundos
BB RF Curto Prazo Automático Setor Público FIC FI
O maior em patrimônio dentre os fundos analisados, investe em LFT (Letra Financeira do Tesouro), que rende a Selic. Mas como está rendendo abaixo da Selic desde seu início, quem aplica nele perde poder de compra e deixa de obter ganho mais atraente em outra opção. Cobra taxa de administração de 1,75% ao ano.
Itaú Privilège RF Referenciado DI FIC FI
Segundo em patrimônio, com R$ 37,5 bilhões, e o primeiro em cotistas, com 224,5 mil - dentre os cinco analisados - tem como objetivo seguir o CDI, o juro de mercado. Investe no mínimo 80% em títulos públicos e/ou ativos com baixo risco de crédito.
De carona nos movimentos de juro do mercado em 2022, o fundo ganha da inflação e do CDI no ano. Rende 2,33%, até 23 de março, mais do que a Selic de 2,03% e o IPCA de 2,16% do no período.
Caixa FIC Prático Renda Fixa Curto Prazo
Investe em títulos públicos pós-fixados. Junto com o fundo do BB, cobra uma das maiores taxas de administração, 1,7% ao ano, e entrega um dos piores retornos desde o início, abaixo até do CDI, avalia Lavorenti. Taxa de administração elevada, no fundo do BB e da Caixa, leva fatia maior da rentabilidade já baixa.
Bradesco FIC FI RF Referenciado DI Max
É o que tem a carteira mais diversificada dentre os cinco fundos pesquisados, analisa o especialista da SVN Investimentos. Investe em títulos públicos, títulos de crédito bancário, de crédito privado, FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios), dentre outros. Cobra a taxa de administração mais baixa, de 0,25% ao ano, dentre os fundos analisados.
Santander Referenciado DI Advanced FIC FI
É um fundo que se assemelha, pelas características da carteira e pelo desempenho apresentado, ao fundo do Bradesco, compara Lavorenti. Até pela entrega de resultado em linha com o CDI.