Com inflação ultrapassando os 10%, até reserva de emergência precisa estar bem aplicada; veja as melhores opções
Rendimento com base na Selic ainda não consegue repor perdas para a inflação
Deixar dinheiro parado, fora de aplicação, se já era mau negócio, ficou mais desvantajoso ainda com inflação acima de 10%, como divulgado nesta terça-feira, 11, pelo IBGE.
A inflação, que roda em torno de 1% ao mês e fechou o ano de 2021 em 10,06% - maior patamar desde 2015 - faz perder a capacidade de compra do dinheiro, nessa mesma proporção, que não estiver protegido em alguma aplicação.
Uma forma de tentar blindar o poder aquisitivo e até embolsar algum rendimento adicional é ancorar o dinheiro em um investimento que reponha as perdas com o rendimento que paga. Existem opções no mercado que oferecem liquidez sob medida para a necessidade de resgate a qualquer momento. O cuidado, portanto, está na escolha.
O desafio é encontrar uma escolha que combine liquidez com rentabilidade, uma estratégia quase fora do alcance para o dinheiro que precisa ficar livre para resgate. A opção mais recomendada pelos especialistas são aplicações indexadas, direta ou indiretamente, à taxa básica de juros, a Selic.
Juros ainda não cobrem a inflação
A Selic está atualmente em 7,25% ao ano, nível ainda insuficiente nem sequer para proteção perante a inflação oficial medida pelo IPCA, que acumula variação de 10,25% em 12 meses, até setembro. Olhando para a frente, o relatório Focus estima uma taxa Selic de 9,25% no fechamento de 2021, ligeiramente acima do IPCA de 9,17% projetado para o ano.
Olhando mais à frente ainda, para 2022, economistas do mercado financeiro preveem uma Selic de 10,25%, com ampla vantagem sobre a inflação estimada de 4,55%, menos da metade da projetada para este ano.
As previsões indicam, portanto, que a Selic que está atrasada no momento chegará quase empatada com a inflação no fim do ano e passará à frente ao longo do próximo ano – com a ajuda também de um recuo acentuado do IPCA. Uma motivação mais para ancorar a reserva emergencial em opções indexadas à Selic, que são também as mais líquidas.
Um cenário em que, para especialistas, algumas aplicações indexadas à Selic passarão a proteger contra a inflação e oferecer ganho acima do IPCA ao aplicador. Até mesmo para o dinheiro da reserva emergencial, caso ele seja mantido por um tempo mais elástico na aplicação.
Como esse tempo de permanência é circunstancial, a premissa número 1 para a escolha é a liquidez, a possibilidade de saque dos recursos a qualquer momento, com rendimento. Afinal, não se sabe quando o investidor terá necessidade de usar essa reserva emergencial.
As opções para a reserva de emergência
Um título que combina indexação à Selic e liquidez diária é a Letra Financeira do Tesouro (LFT). É possível investir nesse papel por meio de fundo DI, em que pelo menos 95% dos recursos da carteira são aplicados nesse título da dívida pública federal, ou pela compra direta na plataforma do Tesouro Direto, onde é ofertado como Tesouro Selic.
O custo de aplicação pelo Tesouro Direto éFundo DI mais baixo, mas o investidor pode pesquisar um fundo DI que não cobre taxa de administração, orienta Victor Zucchi Meneghel, especialista da Valor Investimentos. Vai sobrar mais para a reserva de emergência.
A tributação segue alíquotas escalonadas, que variam de 22,50%, para aplicação de até 180 dias, a 15%, para acima de 720 dias, com alíquotas intermediárias de 20% e 17,50%. Resgate de rendimento obtido em fundo DI com até 29 dias de aplicação recolhe ainda o IOF. Uma tributação adicional que em geral zera o rendimento em aplicação de curto prazo.
A reserva emergencial encontra opções também em títulos bancários com liquidez diária, como CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio). Todos rendem um porcentual do CDI, uma espécie de Selic privada, usado nas operações interbancárias, que roda ligeiramente abaixo da taxa básica.
A LCI e a LCA são isentas de imposto de renda; o CDB segue a regra de tributação da renda fixa por alíquotas diferenciadas conforme o prazo de aplicação. A remuneração da LCI e da LCA, como porcentual do CDI, é menor, em torno de 85% a 90%, porque “são títulos em que o investidor não paga imposto de renda”, explica Zucchi Meneghel.
Essa trinca de papeis tem um guarda-chuva de proteção, sob o manto do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Formada com a contribuição mensal de bancos, essa reserva assegura o ressarcimento de até R$ 250 mil, por CPF e banco, se a instituição que emitiu o título tiver dificuldades financeiras para honrar o resgate ao investidor no vencimento.
Fundos rentáveis com alta liquidez
Os fundos de crédito privado também podem acolher o dinheiro da reserva emergencial, com desempenho até mais atraente, de acordo com especialistas. Não à toa, alguns fundos de renda fixa, como os de levantamento da Mais Retorno, surpreendem com rentabilidade acima da inflação. Três deles oferecem alta liquidez como o Infinity Tiger Alocação Dinâmica, o Infinity Selected FI RF LP, e o Schroder High Grade Advisory.
A carteira desses fundos pode ter CDB, títulos corporativos como debêntures (em geral, incentivadas, isentas de imposto), CRI, CRA, entre outros. “Os fundos de crédito privado podem ter também parte dos recursos aplicada em títulos públicos, como as LFT (que garante liquidez para atender com mais velocidade os resgates)”, explica Cristina Cardoso, especialista da Veedha Investimentos.
Especialistas afirmam que fundos de inflação, como os indexados ao IPCA, oferecem liquidez imediata, mas são contraindicados para aplicação de reserva emergencial. Os papéis da carteira desses fundos têm vencimentos longos, o que não combina com a disponibilidade a qualquer momento que a reserva de emergência exige.
Ademais, têm risco elevado, porque a venda de títulos, para honrar o resgate, pode coincidir com momento de desvalorização no mercado secundário e o papel ser vendido por um preço mais baixo que o de face, com prejuízo para os cotistas do fundo.
Um nicho acolhedor cativo da reserva de emergência, a caderneta de poupança, que tem passado por meses de intensa sangria, poderá voltar a atrair os poupadores. Principalmente, a partir do ano que vem, de acordo com a expectativa de parte dos analistas.
Isso poderá ocorrer à medida que a taxa Selic for subindo para patamares mais elevados e a inflação passar a descrever trajetória inversa, como efeito da política monetária mais dura do Banco Central (BC).
Em dezembro, como já adianta a sinalização do BC, a Selic poderá subir para 8,75%, o que acionaria o gatilho que traz de volta a regra anterior de cálculo de juro de 0,50% ao mês mais TR (Taxa Referencial).
Por enquanto, a caderneta continua sendo o patinho feio, rejeitada cada vez mais pelos aplicadores. Em outubro, a poupança teve perda líquida (depósitos menos saques) de R$ 7,4 bilhões, elevando o saldo negativo no ano para R$ 30,7 bilhões.
A dúvida de especialistas é saber se o dinheiro sacado migrou para outra aplicação ou se foi para o complemento de renda para bancar despesas.