Cenário externo pode levar o dólar a R$ 5,50
Variante delta, aperto regulatório da China, reforma do IR, entre outros, podem influenciar nessa alta
Começamos o artigo avisando que há muitos temas relevantes a serem abordados e, dentro do possível, isso será feito. Abaixo o gráfico que mostra a correlação entre o Dollar Index e o dólar/real.
Observe que marcamos com um círculo verde a taxa de R$5,30 do dólar, indicando que alta até esse nível não é preocupante.
Marcamos com um círculo roxo a taxa de R$5,50 do dólar e a taxa de 93 do DXY (à direita), indicando que cotações acima destes níveis podem reverter as tendências de baixa de longo prazo destas moedas, ou seja, acima desse valor é bem preocupante.
Comentamos na coluna da semana passada sobre os “dois motores” que estão impulsionando o dólar no Brasil, e vamos comentar mais um pouco deles.
Motor externo
Se o DXY continuar subindo, o dólar poderá subir em direção a R$5,50. Os investidores globais estão com medo do avanço da variante delta (principalmente nos Estados Unidos e na Ásia), aperto regulatório na China, desaceleração da indústria (veja na coluna da semana passada) e aperto monetário promovido pelo Fed (comentários nesta coluna).
Além disso, o preço de algumas commodities começa a cair, com destaque para o minério de ferro.
Motor interno
O momento atual é bem conturbado. Reforma do Imposto de Renda, Refis, Auxílio Brasil e parcelamento de precatórios são temas que estão deixando os investidores muito cautelosos.
A relação entre os poderes piorou muito nos últimos dias e os “bombeiros” estão em ação. É muito importante ficar atento as votações no Congresso: a Câmara parece mais disposta a votar as reformas, mas o Senado, não.
E o prazo para aprovar a reforma do Imposto de Renda e a reforma administrativa é até o Natal, no máximo. Caso contrário, estas irão ficar para depois das eleições, provavelmente para o ano de 2023.
Eventos relevantes que aconteceram nos últimos dias:
· 12/08 - CPI, inflação do consumidor (EUA): apesar de não ser a inflação oficial (núcleo do PCE), o dado é divulgado na primeira quinzena do mês e o PCE no final do mês, logo, o mercado antecipa o dado oficial.
A inflação veio mais comportada, mas ainda bem influenciada por 7 itens considerados sensíveis à covid (ou seja, a reabertura da economia).
O problema é o avanço da variante delta, que pressiona para baixo o crescimento da economia e piora os gargalos logísticos, elevando o tempo de entrega e os preços dos insumos. Assim, a variante delta deverá manter a escassez de certos insumos, em especial os microchips.
Próximos eventos relevantes:
Veja a agenda abaixo, com destaque para o dia 22 de setembro, nova Super Quarta e possível data que o Fed poderá anunciar o início da redução mensal das compras de ativos.
· 25 de agosto - IPCA-15
· 26 a 28 de agosto: Simpósio Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. O evento foi palco diversas vezes de importantes discursos de política monetária. (https://www.kansascityfed.org/research/jackson-hole-economic-symposium/economic-symposium-conference-proceedings/)
· 03 de setembro - payroll (EUA)
· 09 de setembro - reunião do BCE
· 10 de setembro - CPI (EUA)
· Super Quarta - 22 de setembro - reunião do Fomc (com novas projeções) + reunião do Copom
Caminhos para o dólar/real
Os investidores estão ansiosos, aguardando o Simpósio de Jackson Hole e a reunião do Fomc (Comitê de Política Monetária do Fed) do dia 22 de setembro.
Eles esperam o provável anúncio de redução gradual das compras de títulos pelo Fed e acreditamos que este anúncio não gere um impacto muito forte na cotação do dólar para cima porque, de certa forma, é bem esperado. Entretanto, com a redução do ritmo da atividade econômica, retirada de estímulo é sempre ruim.
Em relação à variante delta, estamos monitorando o nível de abertura da economia através dos estudos da Universidade de Oxford, que criou um mapa de calor baseado Stringency Index.
Este índice é uma medida composta com base em nove indicadores de resposta, incluindo fechamentos de escolas, fechamentos de locais de trabalho e proibições de viagens, redimensionados para um valor de 0 a 100 (100 = mais estrito). No gráfico abaixo, as cores variam de azul claro (economia mais aberta) ao vermelho (economia mais fechada).
Observe que os Estados Unidos estão na faixa 40+, a China na faixa 70+, a Índia 80+ e o Brasil na faixa 50+. Se esses países mudarem para faixas mais altas, o mundo estará menos aberto, o que é ruim para a atividade econômica (evidentemente, se isso ocorrer, também será muito ruim do ponto de vista humanitário).
No momento é provável que o dólar/real siga acima da região de R$5,15 e com risco crescente de romper o teto da faixa, ou seja, acima de R$5,32, para ser mais preciso.
A nossa moeda depende dos eventos acima comentados para tomar uma direção. Observando o gráfico que compara do dólar/real com o DXY, uma subida do Dollar Index para 95 pode levar a cotação do dólar no Brasil para algo entre R$5,30 e R$5,50.
Estamos menos otimistas com relação à nossa moeda, apesar de não descartamos a hipótese de o dólar cair entre 10% e 15% contra o real dos patamares atuais, ou seja, cair para algo em torno de R$4,70 ou um pouco menos com base nos argumentos apresentados nas colunas passadas.
Mas, o espaço temporal está apertando (a eleição de 2022 começa a dominar os debates) e as últimas notícias não são muito animadoras, infelizmente.
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
*Esta coluna não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.