Bolsa fecha com queda de 2,42% e dólar sobe 0,39% com tom mais duro adotado pelo Fed em ata
Percepção do mercado é de que a alta dos juros seja iniciada já em março deste ano
A Bolsa de Valores que vinha antecipando o tom negativo desde manhã à espera da ata do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), marcada para a tarde desta quarta-feira, 5, teve o humor azedado de vez após a sinalização de uma política monetária mais dura contida no documento, com antecipação de alta dos juros e redução de estímulos monetário, para conter uma inflação reconhecida como mais elevada.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o pregão com baixa de 2,42%, em 101.005 pontos, depois de recuar até 100.849 pontos, baixa de 2,57%, no pior momento do dia. A desvalorização da B3 acompanhou a queda das bolsas americanas, também em reação à ata, e à elevação dos juros dos Treasuries, os títulos de dez anos do Tesouro americano, que subiram para 1,70% ao ano, alta de 3,2 pontos-base.
Nas bolsas americanas, o índice Dow Jones fechou com queda de 1,07%, o S&P 500 recuou 1,94% e o Nasdaq, da bolsa eletrônica, amargou a maior desvalorização do dia, de 1,64%.
O sentimento negativo do mercado financeiro não ficou espelhado apenas no comportamento das bolsas. A indicação dada pelo Fed deu vigor ao dólar, que terminou os negócios do dia com valorização reforçada de 0,39%, cotado por R$ 5,71%. Um movimento que acompanhou o avanço da moeda americana pelo mundo, sobretudo em mercados emergentes.
Os juros futuros também reagiram com alta, especialmente nos contratos de vencimentos mais longos. A taxa de contratos com vencimento em 2029 negociados na B3 avançava a 11,45%, alta de 0,16% sobre a véspera, no fim da tarde de hoje. O vencimento em 2025 rodava com juro de 11,38%, um avanço de 0,22%.
Fed pode antecipar alta dos juros o que impacta a bolsa
O economista da Rio Bravo Investimentos, João Leal, disse que os mercados reagiram negativamente à perspectiva de elevação antecipada dos juros americanos e à retirada mais agressiva de estímulos à economia dos EUA. Para ele, o tom mais duro da ata fez o mercado ver 80% de chances de o Fed antecipar a alta dos juros para março.
Para o time Macro & Estratégia do BTG Pactual digital, a inflação elevada e o mercado de trabalho apertado formam um cenário que pode estar demandando uma normalização da política de forma antecipada. A manutenção do “tom duro (hawk) aumentou a probabilidade de alta do juro já na reunião de março, além do cenário de quatro altas (em vez de três previstas) este ano”.
Por enquanto, as expectativas são criadas em cima de sinalizações, falta uma definição mais clara das intenções do Fed. Uma possível decisão ou anúncio é esperado para a próxima reunião sobre política monetária dos EUA, marcada para 26 de janeiro.
O temor reforçado de alta dos juros americanos vem somar-se a um cenário macro doméstico de incertezas e risco eleitoral antecipado, avalia Rafael Ribeiro, analista de Investimentos da Clear Corretora.
Um ambiente que combina um caldo de preocupações, ligadas à questão fiscal, causadas por movimentos de servidores públicos por reajustes salariais, críticas de fontes cotadas para assumir cargos no futuro governo contra a política de responsabilidade fiscal e declarações em defesa de mudanças na lei do teto de gastos, dentre outras.