Bolsa pode mergulhar abaixo de 100 mil pontos em 2022, diz Ibmec
Alta dos juros e eleições devem afetar o resultado das empresas e suas ações negociadas na B3
Desde a sua máxima histórica em 07 de junho deste ano, aos 130.776 pontos, a Bolsa de Valores já derreteu cerca de 18% até o fechamento da última sexta-feira, 10. Novidades sobre a pandemia, problemas na cadeia de produção global, inflação e juros em alta levando a uma desaceleração no crescimento econômico, além das incertezas fiscais do País fazem parte do elenco dos principais responsáveis pela queda do Ibovespa no período. Mas e sobre 2022?
As perspectivas para o próximo ano não são nada animadoras para o mercado de ações. Samuel Barros, especialista em Finanças e pró-reitor da pós-graduação do Ibmec, acredita que a Bolsa deve fechar 2021 no patamar dos 110 mil pontos e 2022, na casa dos 115 mil pontos. Mas com um agravante: o Ibovespa pode mergulhar abaixo de 100 mil pontos em determinados intervalos.
Barros explica que o ano que vem deve ser fraco para os investimentos em renda variável porque, com o ciclo de aperto monetário elevando a taxa básica de juros, a Selic, a renda fixa deve se tornar uma opção mais atrativa para os investidores, principalmente porque, no Brasil, grande parte dos investidores tem um perfil mais conservador. A concorrência da renda fixa será forte para as bolsas.
O especialista considera que essa tendência de alta dos juros prejudica os resultados das empresas e, por tabela, a Bolsa. Fica mais caro e mais difícil para as companhias levantarem recursos para o seu desenvolvimento, ampliação de infraestrutura, adoção de novas tecnologias e geração de emprego.
A corrida eleitoral deve impactar a Bolsa
Não bastassem os desdobramentos da pandemia com todas as novas variantes e as consequências econômicas trazidas por ela, soma-se ao cenário de incertezas também a corrida eleitoral à Presidência da República, marcada para o ano que vem. Barros explica que todo ano eleitoral, sobretudo no primeiro semestre, é marcado por muita volatilidade nos mercados.
Neste contexto, o pró-reitor do Ibmec pontua que há uma grande possibilidade do Ibovespa operar abaixo dos 100 mil pontos durante algum tempo em 2022. No entanto, caso as pesquisas eleitorais mostrem alguma definição "logo de partida", pode ser que os investidores tenham um pouco mais de apetite aos riscos, principalmente se as ideias e propostas do candidato já forem conhecidas pelos investidores.
Quando perguntado sobre a possível volatilidade que um aumento da popularidade do ex-presidente Lula poderia adicionar aos mercado, Barros destaca que esse não seria o pior dos cenários.
Ele explica que o financista adora risco, mas odeia incertezas. "Quanto ao Lula, nós já vivemos isso e temos um pré-conhecimento de como a política é com ele, então o mercado não encararia com péssimos olhos".
No caso, o maior interesse do mercado é saber como o provável candidato vai se apresentar nessa corrida eleitoral, "se é o Lula mais 'paz e amor' do primeiro e começo do segundo mandato, ou o mais sangue nos olhos - o que pode causar mais volatilidade", pondera o especialista.
O pior dos cenários em termos de volatilidade é o aumento da popularidade de um candidato de terceira via desconhecido, que o mercado não saiba nada sobre quem será sua equipe econômica.
Samuel Barros, pró-reitor do Ibmec
Para o especialista, "o mercado pode voltar a sorrir" para a Bolsa caso as projeções apontem para um cenário mais conhecido. Neste caso, Barros acredita que o Ibovespa pode voltar a bater o patamar dos 130 mil pontos.
Como será 2022 para as empresas da Bolsa?
Samuel Barros ressalta que, em 2021, houve um aumento expressivo no número de empresas abertas no País, principalmente as MEIs. Para ele, esse movimento é um sintoma da deterioração macroeconômica, "porque mostra que pessoas que estavam empregadas na indústria, no comércio ou em outros setores, sentiram a necessidade de empreender para continuar pagando as contas".
O especialista em Finanças afirma ainda que 56% dessas novas empresas são do setor de serviços, enquanto outros 35% estão no comércio. Barros explica que, para chegar aos consumidores em tempos de pandemia, os micro e pequenos empreendedores precisaram estar dentro de aplicativos - o que exige ter uma empresa aberta -, justificando o crescimento do registro de MEIs.
Além disso, o pró-reitor comenta também sobre as novas tendências de consumo. Para ele, as empresas que se atentarem às novas exigências e necessidades do consumidor tendem a sair na frente e se consolidarem no mercado.
Lista das novas tendências para as empresas da Bolsa em 2022
- Mundo híbrido, com os consumidores consumindo de forma dessincronizada, como no caso das plataformas de streaming, onde as pessoas consomem as mesmas coisas em tempos diferentes para depois comentar, numa experiência "figital" (a união do físico com o digital);
- A experiência é o foco do consumidor;
- Análise de dados para implementar melhorias, entendendo o consumidor;
- Resiliência, tendo em vista que o cenário macro ainda é desafiador;
- Redução de desperdícios a todo custo, uma vez que os consumidores estão mais atentos às questões de sustentabilidade;
- Cyber segurança será um dos focos dos investimentos com o avanço do metaverso e a nova revolução digital;
- Solucionar os problemas de logística.