Bolsa cai 1,80% aos 96 mil pontos com exterior e risco fiscal aqui; dólar sobe 0,51%
Ibovespa cai ao menor nível desde novembro de 2020
Os fatores negativos que afetaram a Bolsa de Valores, a B3, não deixaram o menor espaço para qualquer reação positiva das ações: inflação americana acima do esperado, perspectivas de juros ainda mais elevados nos EUA com consequente recessão global e, por aqui, a aprovação da PEC Kamikaze e outras benesses pressionando os gastos do governo e aumentando a percepção de risco fiscal, além de queda das commodities.
O resultado não poderia ser muito diferente: o IBovespa fechou com queda de 1,80% aos 96.120 pontos, mas a Bolsa chegou a cair aos 95 mil pontos durante o pregão, nível não atingido desde novembro de 2020. Já o dólar fechou em alta de 0,51%, aos R$ 5,43, chegando a encostar nos R$ 5,50 durante as negociações.
Como explica o professor da FAC-SP e especialista em finanças e economia, Rodrigo Simões, a inflação americana segue subindo e quebrando recordes em mais de 40 anos, situação que torna cada vez mais claro que novos aumentos dos juros americanos serão promovidos pelo Fed. A inflação no atacado subiu 1,1% em junho, acima dos 0,8% esperados pelo mercado.
"É um cenário desafiador para todos os países, devido ao desequilíbrio das cadeias de produção, efeito da guerra na Ucrânia e ainda as consequências negativas da pandemia da covid-19, com reflexo recente do lockdown do porto de Xangai", relata o professor.
Ele esclarece que "esse cenário não se resolverá neste semestre, ainda que a guerra terminasse hoje, pois há indicadores que não estamos prestando a atenção, como por exemplo, queda de renda, inflação de oferta e endividamento das famílias em nível global. Daí o temor de recessão pela frente".
Cauê Carvalho, especialista de renda variável da Blue 3, lembra que "após a divulgação do CPI ontem, hoje foi dia da divulgação do PPI, que não diferente, veio acima do esperado, mostrando que a inflação americana está disseminada, o que exponencia a chance de um aumento maior nas taxas de juros por lá".
Os grandes bancos americanos sofreram e mostraram balanços desanimadores, em especial dois maiores bancos dos Estados Unidos: JPMorgan e Morgan Stanley, destaca Carvalho, os quais apresentaram balanços trimestrais decepcionantes o que ajudou a piorar o clima nas bolsas americanas. Dow Jones fechou com queda de 0,16%; S&P 500, de 0,30%, e a Nasdaq com alta residual de 0,03%.
As bolsas europeias terminaram o pregão em forte baixa nesta quinta-feira, 14., em reflexo da apreensão do mercado em relação ao aperto monetário agressivo do Federal Reserve (Fed) nos EUA, após leituras de inflação mais altas que o esperado no país.
Na Europa, o quadro local não ajudou em nada: a Comissão Europeia revisou em baixa suas projeções de crescimento econômico da zona do euro, enquanto as de inflação aumentaram. A queda foi mais pronunciada na bolsa de Milão, em meio à crise política com a renúncia do primeiro-ministro Mario Draghi.
O especialista da Blue3 também destaca que os mercados europeus acompanham com atenção os efeitos da distribuição energética e como isso irá afetar a região ao longo do tempo, É que o principal gasoduto russo, que transporta à Alemanha para preencher os estoques de gás para o inverno, entrou em manutenção por dez dias e voltará somente no dia 22, o temor maior é que tal “manutenção” seja mais longa, de forma a pressionar ainda mais a inflação por conta energética.
Bolsa brasileira
A B3 acompanhou o exterior, mas foi influenciada também pela aprovação da PEC Kamikaze, que cria e aumenta benefícios sociais, sem a contrapartida de fonte de recursos. Uma bom-relógio que poderá ser detonada no próximo ano, prejudicando mais ainda as classes sociais que, temporariamente, receberão o auxílio somente neste ano.
A reação foi positiva, no entanto, para papeis do Varejo, que poderão ser beneficiados com os recursos que serão injetados na economia nesse segundo semestre. Magalu, fechou entre as cinco maiores altas, com valorização de 2,83%. A aprovação da PEC pode no curto prazo estimular ainda mais o consumo de produtos do varejo, afirma Carvalho.
Queda das commodities
A queda nos papeis de commodities, com continuidade de correção nos preços do petróleo e minério de ferro, também tiveram participação pelo lado negativo. Em Qingdao, China, a tonelada do minério fechou em queda de quase 8%, perto de perder a linha de três dígitos, aos US$ 100,29, menor nível desde novembro passado.
O petróleo, por sua vez, permaneceu pelo terceiro dia abaixo do limiar de US$ 100 por barril, tanto no Brent como no WTI. Nesta quinta, Vale ON ocupou a ponta negativa do Ibovespa (-6,66%), um pouco à frente de ações como Bradespar (-5,44%) e CSN (-6,40%). Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 3,19% e 2,69%