Economia

Banco Ourinvest: dólar deve seguir pressionado em 2022, negociado perto dos R$ 5,50

Incertezas geradas pelas eleições devem seguir pressionando o dólar

Data de publicação:10/11/2021 às 07:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira, 09, a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, falou sobre as projeções da instituição para o cenário macroeconômico do País em 2022. A especialista afirma que, diante das incertezas geradas com as eleições do ano que vem, a taxa de câmbio deve seguir pressionada em 2022, com o dólar negociado na casa dos R$ 5,50.

"Olhando o que há de informação hoje, não conseguimos perceber um ambiente muito propício para a taxa de câmbio", explica ela, que considera pouco factível que a cotação da moeda americana fique perto ou abaixo dos R$ 5 no próximo ano. "Claro que a volatilidade é ainda o nome do jogo; se hoje ela está em R$ 5,50, nada impede beliscar uns R$ 5,30 daqui um mês em um dia positivo, mas a chance de isso se sustentar é baixa".

Foto: Envato

O banco projeta, também, que o fluxo de capital estrangeiro em investimento direto no Brasil em 2022 deve ficar longe da série histórica, de cerca de US$ 70 bilhões. As expectativas são de um valor perto de US$ 55 bilhões. "A história mostra que a gente não está com um retrato positivo de Brasil. Além disso, em ano de eleição, as incertezas aumentam e, portanto, temos uma chance maior de depreciação cambial", explica Fernanda.

Riscos externos para o dólar

Embora o cenário doméstico, por si só, apresente motivos suficientes para a depreciação do real frente ao dólar, a economista destaca também que o exterior oferece riscos de um encarecimento ainda mais acentuado do dólar, como o agravamento das relações entre China e Estados Unidos ou a possibilidade de uma nova onda da pandemia de Covid-19, por exemplo.

"A principal questão é a manutenção da pressão global sobre os custos. Há um desconforto com questões inflacionárias no mundo inteiro. Também tivemos uma pequena diminuição da expectativa de crescimento global", afirma a especialista, que alerta, também, sobre a possibilidade de um aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), que "não está descartado nos próximos meses".

Ainda em relação ao cenário internacional, Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior do Banco Ourinvest, destacou que os riscos também estão relacionados às questões referentes a uma reestruturação da cadeias logísticas com aumento dos custos.

"Outra questão é a inflação não só por estímulos monetários dos países, mas devido principalmente à elevação de custos de petróleo e energia.  Vários compromissos assumidos na COP 26 vão encarecer a energia, é uma tendência para os próximos anos até que haja a transição energética. Esse fenômeno de inflação no mundo tende a elevar juros nos países desenvolvidos, o que afeta o Brasil, provocando uma desvalorização da nossa moeda", diz o estrategista.

Economia no Brasil e no mundo

Barral considera que a grande tendência é a continuidade da recuperação da economia global. "A China não deve crescer tanto como no pré-pandemia, mas vai continuar crescendo. Os EUA também têm expectativa de crescimento positivo, embora correndo um risco de uma mudança na política de juros do Fed, o que implicaria em consequências para o mundo inteiro, inclusive para o Brasil. Ao mesmo tempo, o crescimento da China tem um efeito positivo nas exportações de commodities brasileiras", explica.

Enquanto isso, as expectativas para o crescimento econômico do Brasil são mais modestas, e o Banco Ourinvest projeta uma alta de 1% para o Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2022.

Entre as preocupações, de acordo com Fernanda, está a combinação da adoção de medidas populistas pelo presidente Jair Bolsonaro visando as eleições presidenciais, o que elevaria os gastos públicos, e um ambiente já fragilizado internamente, jogando as expectativas de crescimento "ainda mais para baixo".

Para a inflação, a instituição espera que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 5% em 2022, enquanto a Selic deve finalizar o ano a uma taxa de 12% ao ano, finalizando o ciclo de aperto monetário. Cristiane Quartaroli, economista do banco, acredita que a tendência é que o IPCA fique mais próximo da meta de inflação só em 2023.

"Quando começarmos a olhar aumentos de preços de serviços, por exemplo, matrícula escolar e planos de saúde, é bem provável vermos um reajuste acima da inflação. Temos dois agravantes para o ano que vem, que é a questão de energia, que vai impactar a inflação no mundo todo, e a inércia no Brasil", comenta a economista, que avalia que o histórico do Brasil é de inércia inflacionária - quando o reajuste de preços é feito com base na inflação passada.

"É provável que gente veja o nosso quadro de inflação piorar para depois melhorar, dentro de um cenário de baixo crescimento, em torno de 1% para o ano que vem. Talvez, uma inflação próxima da meta a gente só consiga enxergar em 2023", finaliza Cristiane.

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