Ata da última reunião do Copom reforça atenção do BC para conter a inflação
Autoridade monetária enfatizou um novo ajuste de 1,5 ponto porcentual na Selic na próxima reunião do colegiado, em fevereiro de 2022
O Banco Central divulgou nesta terça-feira, 14, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida na semana passada e que resultou no aumento de 1,5 ponto porcentual na Selic - a sétima elevação consecutiva - a 9,25% ao ano.
Sem grandes novidades e em linha com o comunicado que anunciou a nova taxa de juros do País, o documento seguiu com um tom mais duro, enfatizando o ciclo de aperto monetário mais contracionista para conter a inflação e sinalizou um novo aumento de mesma magnitude nos juros na próxima reunião, que ocorrerá em fevereiro de 2022.
Segundo o colegiado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021 está em 10,2% no cenário básico, considerando o dólar a R$ 5,65, conforme dados do último boletim Focus. Para os anos seguintes – 2022 e 2023 – os técnicos do BC reconhecem que as projeções estão acima da meta: 4,7% e 3,2%, respectivamente.
Em resposta à alta constante de aumento da inflação, inclusive em horizontes mais distantes, o BC foi incisivo sobre a continuidade de "sua estratégia" até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, como no comunicado.
"O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista."
Ata da última reunião do colegiado, divulgada nesta terça-feira, 14
No entanto, o BC deixou a porta aberta para mudanças, indicando que os "passos futuros" poderão ser ajustados de modo a garantir a convergência da inflação para "as suas metas".
Como de costume, a autoridade monetária também disse que as próximas decisões vão depender da "evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante".
No último boletim Focus, após 35 revisões positivas, os economistas do mercado baixaram as projeções para a inflação em 2021 de 10,18% para 10,05%.
Inflação, segundo o BC (considerando o cenário básico)
- 2021: 10,2%
- 2022: 4,7%
- 2023: 3,2%
Alta de 1,5 ponto porcentual na Selic
O Comitê reafirma na ata que a alta de 1,50 ponto porcentual da taxa Selic anunciada na semana passada é uma decisão que "reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva".
Além disso, o BC voltou a pontuar que o aumento do juro a 9,25% "também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego" - duas metas acessórias que a autarquia passou a perseguir após a lei de autonomia formal do órgão.
Balanço de riscos e política fiscal
Com o encaminhamento - quase final - da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, a autarquia ainda manteve a assimetria de alta em seu balanço de riscos, mesmo pontuando desempenho positivo de dados fiscais. A PEC é considerada uma manobra, patrocinada pelo governo, para abrir espaço extra no teto de gastos em 2022, ano eleitoral.
O Copom repetiu que novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia, que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal, podem elevar os prêmios de risco do País.
"O Comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico", destacou o BC na ata, assim como no comunicado.
Mesmo assim, o Banco Central manteve seu balanço de riscos com fatores em ambas as direções. Pelo lado da inflação menor, o Copom voltou a citar uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local.
O que pensa o mercado
O documento foi recebido pelo mercado sem grandes surpresas. Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, a ata foi “marginalmente mais dura” do que o comunicado que anunciou a nova Selic de 9,25% ao ano.
Segundo Sanchez, sua avaliação está ligada ao fato de que o comitê sinalizou, no documento, que chegou a avaliar a possibilidade de aplicar um ajuste maior do que 1,5 ponto porcentual.
“Apesar de a opção do comitê tenha sido a mais branda (ajuste de 1,5 p.p), a autoridade não trouxe à mesa o debate sobre a desancoragem para baixo caso o cenário escolhido fosse ainda mais austero”, enfatizou.
Com isso, a casa manteve sua perspectiva de novos ajustes de 1,5 pontos-base nas próximas reuniões de fevereiro e março de 2022, “interrompendo o ciclo de alta abruptamente no final do primeiro trimestre, com a Selic a 12,25%”. / com Agência Estado