XP perdeu mais de 60 escritórios para concorrentes, aponta documento
Documento foi enviado pela corretora ao Cade dentro de inquérito que investiga supostas infrações concorrenciais atribuídas à XP
A XP Investimentos perdeu mais de 60 escritórios entre 2020 e 2021, segundo manifestação apresentada pela corretora ao inquérito administrativo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O inquérito apura supostas infrações concorrenciais atribuídas à XP. A informação foi divulgada ontem pelo site CRC News e confirmada pela Agência Estado.
“Apenas no ano de 2020, mais de 25 escritórios deixaram a XP, responsáveis por aproximadamente 9% do patrimônio sob custódia total do grupo. Já em 2021, mais de 35 escritórios deixaram a XP, responsáveis por cerca de 6% de sua custódia total”, diz o documento, enviado ao Cade em 30 de setembro de 2022 e disponível para consulta pública no site da autarquia.
O documento não aborda a quantidade de assessores nesses “mais de 60 escritórios” que deixaram a XP entre 2020 e 2021, nem qual valor sob custódia efetivamente migrou para plataformas rivais.
Em outro ponto do documento, porém, a XP se queixa da ofensiva dos concorrentes sobre profissionais da sua rede e cita um levantamento interno para sustentar a tese. Segundo a XP, de um total de 1.900 assessores contratados pelos competidores entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021, 1.048 estavam vinculados à XP, pouco mais da metade.
Os escritórios BMA Advogados e Figueiredo e Velloso Advogados Associados, responsáveis pela defesa da XP no caso, foram procurados mas não quiseram se manifestar. Procurada, a XP também não ofereceu comentários.
"De carona"
A informação sobre a saída de escritórios foi apresentada ao longo de uma manifestação que visa defender a XP de acusações sobre condutas anticompetitivas.
Na avaliação do grupo, os assessores de investimentos não são o único modelo para a distribuição de produtos - gerentes de bancos e sites e aplicativos de bancos são citados -, apesar de ter sido a estratégia na qual a corretora apostou desde seu início.
Considerando todas as plataformas, o Grupo XP alega ter 13,2% do mercado de distribuição de produtos de investimento, atrás do conglomerado Itaú Unibanco (24,73%) e do Bradesco (11,61%). Mesmo somando a participação da XP ao Modal - adquirido em 2022 -, a parcela fica em 13,84%, segundo o documento.
A XP menciona ainda que concorrentes de mercado, como BTG Pactual e Safra, têm se aproximado dos profissionais da empresa ao invés de aplicar esforços próprios para formação de equipes. “Apesar de a XP ter sido e continuar a ser a maior investidora na captação e formação de novos AAIs, seus rivais não têm dedicado os mesmos esforços na formação de novos agentes a partir de outras profissões, optando, em vez disso, por uma estratégia majoritariamente focada em atrair AAIs vinculados à XP mediante o pagamento de bônus de contratação”, afirma o documento.
Segundo descrito pela defesa da XP, é por esse motivo que o grupo tem adotado “práticas de exclusividade” com seus parceiros. “As práticas adotadas pelo Grupo XP em seu relacionamento com os AAIs são incapazes de limitar a concorrência no mercado de distribuição de produtos de investimentos, seja porque a XP não detém poder de mercado ou posição dominante nesse segmento, seja porque não há qualquer limitação ao acesso de seus concorrentes a outros canais de distribuição ou mesmo a AAIs”, argumenta.
Em outro ponto do documento, a defesa da XP destaca que a “liberdade contratual para negociar obrigações de exclusividade de longo prazo é necessária para que a XP tenha segurança e incentivos para continuar investindo em sua rede de AAIs e obter o retorno desse investimento, evitando que seus concorrentes simplesmente peguem carona nos investimentos realizados”.
Procurado, o Safra afirmou, em nota, que "atua conforme as regras do mercado e da legislação/regulação que disciplina a atividade, estimulando a livre concorrência em prol dos interesses dos clientes". Já o BTG Pactual não se manifestou até a publicação deste texto.
Entenda o caso
O inquérito administrativo para investigar supostas infrações concorrenciais atribuídas à XP Investimentos foi aberto em 29 de agosto de 2022, em despacho assinado pelo superintendente-geral do Cade, Alexandre Barreto de Souza.
De acordo com nota técnica disponível publicamente, o caso foi levado à superintendência-geral após denúncias apresentadas pelas empresas de investimentos EQI, Acqua Vero, Arton Investimentos, Arton Advisors Consultoria Financeira e Arton 18 Soluções Financeiras, além da Associação dos Profissionais Participantes do Mercado de Capitais (AIs Livres).
Segundo a nota, as possíveis infrações concorrenciais imputadas à XP e que dizem respeito à imposição de dificuldades para o ingresso ou desenvolvimento de empresas no mercado de distribuição de produtos de investimento.
“Isso se daria pela imposição de: barreiras ao acesso desses concorrentes a uma rede de AAIs (alegado importante canal de distribuição para o mercado), dificuldades aos consumidores/investidores para realizarem a portabilidade de seus investimentos mantidos em custódia e restrições para que sócios, acionistas, colaboradores e outras pessoas ligadas à XP passassem a ter relacionamento comercial com concorrentes”, descreve o documento. / AGÊNCIA ESTADO.
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