Vale a pena investir em empresa recém-chegada na Bolsa? Tire suas conclusões
O número de IPOs na Bolsa tem crescido pela retomada econômica e farta liquidez no mercado global
Muitas empresas estão recorrendo à abertura de capital para financiar seus projetos: somente entre o ano passado e 2021, 56 companhias fizeram oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) na Bolsa de Valores, a B3 - uma média de 3 por mês, ou uma a cada 10 dias. E a chegada de empresas no mundo da renda variável tem aumentado as opções e atraído a atenção de muitos investidores.
Mas será que vale a pena, ou não, tornar-se sócio de companhias que ainda estão dando seus primeiros passos no mercado de capitais?
De acordo com a analista da Nord Research, Danielle Lopes, os investidores brasileiros começaram a mostrar um apetite por ativos de empresas que trazem novidades para a Bolsa. “Eles querem comprar papéis de empresas novas, saindo um pouco do universo das companhias tradicionais da Bolsa. Por isso, os IPOs têm chamado a atenção”.
Danielle destaca que a empolgação com propostas diferenciadas leva os investidores a apostar em empresas “recém-nascidas” na Bolsa. No entanto, há riscos, especialmente os criados pela falta de conhecimento sobre o setor, informações sobre a própria companhia.
“É muito importante olhar os fundamentos da companhia antes de comprar posição. E ir atrás de informação faz parte dessa análise”, avalia. A partir do IPO, muitas corretoras passam a acompanhar as empresas, o que ajuda na busca de dados e na orientação do investidor.
O mercado de IPO se apresenta bastante aquecido. Além das que ingressaram na B3 entre 2020 e 2021, existe uma fila significativa de empresas aguardando o sinal verde da Comissão de Valores Imobiliários (CVM) para abrir capital.
Segundo o diretor de investimentos da BS2Asset, Mauro Orefice, a demanda expressiva de abertura de capital pode ser explicada pela conjunção de vários fatores. “Desde a retomada econômica, a demanda represada do ano passado e a presença de muita liquidez no mercado global. Juntos, criam um ambiente que favorece a abertura de capital”, aponta.
Os setores das empresas que estão chegando no mercado aberto são variados e inusitados, trazendo atividades econômicas até então fora do pregão, usualmente dominado por três atividades – commodities, bancos e varejo.
A analista da Nord destaca a forte presença de companhias de tecnologia nesse grupo. Mas, além dele somam-se as empresas da área de saúde, varejo, serviços de transportes, entre outros.
A grande questão, de acordo com Danielle, é que muitas empresas têm um início de atividade na Bolsa obtendo bons lucros, mas depois acabam andando de lado. E é nessa hora que o investidor, atraído pelo novo, aposta suas fichas em ações dessas companhias e acaba perdendo dinheiro.
Outro fator que chama a atenção nos IPOs são nomes populares que cada vez mais sinalizam sua disposição de ir para a Bolsa.
Nos últimos tempos, o mercado recebeu a notícia sobre muitos pedidos de entrada protocolados na CVM, como Madero, CBA, Smartfit, Raízen – que promete ser a maior da história - entre outras. Fora as que já ingressaram neste ano, como Espaço Laser, Enjoei, Mobly, Intelbras, CSN Mineração, Rede D’Or, entre outras.
Para Danielle, o fato dessas empresas serem conhecidas pelo grande público faz com que os investidores tenham mais confiança de investir logo na primeira oferta pública de ações dessas companhias.
“As empresas mais conhecidas, além de trazer mais segurança para o público que quer investir em novos setores, ainda atraem mais pessoas físicas para dentro da Bolsa”.
Orefice afirma que, na grande maioria dos casos, quando decidem abrir capital as empresas já estão mais maduras. “Quando as pequenas e médias empresas decidem ir para a Bolsa, principalmente as da área de tecnologia, elas já estão trabalhando com múltiplos esticados, o que compensa para a empresa ir para o mercado acionário”.
Por outro lado, o diretor da BS2Asset afirma que apostar nas novatas pode ser mais arriscado do que comprar ativos de empresas já conhecidas, porém o retorno pode ser bastante favorável. “O risco é grande, porém a possibilidade de ganhos também é significativa". Ele explica que tudo vai depender da cobertura a ser oferecida pelos analistas, o que permite mais previsibilidade do papel.
Recomendações
Os especialistas entrevistados para essa reportagem são unânimes em algumas recomendações para os investidores que querem fazer um “refresh” em sua carteira de investimentos com ativos de empresas recém-chegadas à Bolsa: estude a companhia.
“Tente entender a atividade da companhia, o seu negócio, busque informações sobre lucros dos últimos anos, dívidas, custo de caixa, entre tantos outros dados importantes que nem sempre estão de fácil acesso ao investidor pessoa física", aconselha Orefice.
Analisar essas informações, incluindo as mais recentes, na visão do analista da Top Gain, Victor Bueno, ajuda a identificar se a empresa já está se recuperando da pandemia, além de analisar os riscos.
Além do histórico, risco x retorno, Bueno destaca outro aspecto que deve ser levado em conta pelo investidor na hora de decidir sobre o investimento: o objetivo da empresa com o IPO.
“Muitas empresas buscam captar recursos no mercado para reinvestir no próprio negócio, em busca de melhorar a geração de caixa e o lucro. No entanto, há aquelas que usam o recurso para pagamento de dívidas e acabam não reinvestindo nelas mesmas. Isso pode comprometer os ganhos das ações lá na frente”, reforça