Mercado Financeiro

Sem referência no exterior, mercado deve reagir mais à divulgação da inflação pelo IPCA-15

Expectativa é de prévia da inflação de novembro de 1,12%

Data de publicação:25/11/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro tende a reagir nesta quinta-feira, 25, aos dados de inflação que virão com o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15) de novembro que o IBGE divulga às 9h da manhã.

A expectativa de investidores e gestores de mercado é grande porque a divulgação do IPCA-15, considerado uma prévia da inflação, ocorre a uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que vai decidir sobre a taxa básica de juros, a Selic. A estimativa mediana do mercado financeiro prevê um IPCA-15 de 1,12%.

Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Uma prévia de inflação em linha com as expectativas do mercado não deve alterar o humor dos investidores, porque, de acordo com analistas, já está embutida nos preços dos ativos e reafirmaria a aposta de novo aumento de 1,50 ponto porcentual na Selic, que está em 7,75% ao ano.

Um IPCA acima das projeções do mercado, no entanto, tenderia a acentuar as preocupações com a inflação e a elevar a pressão sobre o Banco Central por um reajuste superior ao sinalizado até agora pela autoridade monetária, afirmam especialistas.

O foco na inflação pode desviar momentaneamente a atenção do mercado com a PEC dos Precatórios, cujo texto preparado pelo relator Fernando Bezerra, com mudanças em relação ao aprovado na Câmara, foi apresentado à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Mesmo sem novidades na PEC, mercado de ações foi positivo

Mas ficou nisso. Não houve votação em plenário, porque parlamentares de quatro partidos pediram vistas ao texto preparado pelo relator. A análise e votação em primeiro turno, pelo plenário do Senado, está prevista para a próxima terça-feira, 30.

Embora frustrado com o adiamento da votação da PEC em plenário, o mercado de ações teve um dia positivo, puxado pelo avanço das ações de Vale e Petrobras e influenciada por uma penca de bons dados econômicos divulgados nos Estados Unidos.

A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o pregão com valorização de 0,83%, em 104.514 pontos, emplacando a segunda alta consecutiva, em novo patamar.

O dólar trafegou em terreno negativo durante boa parte do dia, mas reagiu no fim da tarde e fechou cotado por R$ 5,60, valorização de 0,59%.

Dentre os índices das bolsas americanas, o S&P 500 avançou 0,25% e o Nasdaq, 0,37%, enquanto o Dow Jones andou em direção contrária e fechou quase estável, com baixa residual de 0,03%.

As bolsas americanas não funcionam nesta quinta-feira, feriado do Dia de Ação de Graças nos EUA, o que costuma deixar o mercado doméstico sem referência de preços e pode reduzir a liquidez ou movimentação de negócios por aqui. Condições que devem repetir-se na sexta-feira, dia de Black Friday, quando os mercados americanos terão funcionamento em horário reduzido.

Auxílio Brasil: impasse sobre a correção anual

Os desdobramentos do Auxílio Brasil, programa social do governo, segue sendo acompanhado pelo mercado. A possibilidade de sua correção automática pela inflação gerou impasse entre a Câmara e o governo Bolsonaro, que é contrário ao reajuste anual do benefício.

Elaborado pelo deputado Marcelo Aro, o parecer da medida provisória que cria o auxílio contrariou o Planalto, que agora fala em responsabilidade fiscal

Governistas querem que o relator retire a previsão de correção automática do parecer antes de ser protocolado e rejeite as emendas dos deputados que tratam do tema. Isso pode inviabilizar a votação dessa mudança no plenário.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, queria votar o texto anteontem, mas acabou adiando. Aro e parlamentares da Frente em Defesa da Renda Básica estão buscando apoio ao texto com a correção anual.

O ministro da Cidadania, João Roma, defendeu ajustes no relatório, mas evitou se pronunciar contrário à correção anual dos valores. Nos bastidores, ele tem defendido a mudança. "É uma aspiração natural a busca de uma correção anual das políticas de transferências de renda. Naturalmente, precisamos buscar os ajustes na área econômica", disse o ministro a jornalistas.

Pesquisadores da área social apontaram que as mudanças incluídas no texto foram positivas e transformam a assistência social em um direito efetivo.

Um dos mais renomados especialistas brasileiros em desigualdade, Marcelo Medeiros, pesquisador da Universidade de Columbia, nos EUA, avaliou que nem o Bolsa Família conseguiu garantir esse feito.

"É um direito no sentido profundo da palavra e todas as implicações que isso tem", disse. Crítico do desenho do Auxílio Brasil feito pelo governo por não ter levado em consideração o que se sabe sobre o mercado de trabalho, pobreza e a estrutura de política social do Brasil, Medeiros considera que o relator deu uma "gingada de capoeira" e promoveu mudanças importantes no novo programa, como a obrigação de não ter filas de espera para quem é elegível a receber o benefício.

Para o coordenador do Observatório Fiscal da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Manoel Pires, a indexação corrige uma injustiça porque os mais pobres não têm proteção no Orçamento. "O problema é que o Orçamento é altamente indexado e a situação fiscal delicada. O debate é meritório, mas sem uma solução estrutural, a mudança vem acompanhada de mais risco fiscal", afirmou.

Orçamento secreto

A cúpula do Congresso Nacional age para manter em segredo os nomes dos deputados e senadores beneficiados com emendas de relator relativas a 2020 e 2021, mesmo após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu a execução dessas verbas e determinou a divulgação das informações.

Os repasses estão no centro do orçamento secreto, mecanismo usado pelo governo de Jair Bolsonaro para distribuir bilhões de reais a um grupo de parlamentares em troca de apoio a projetos de interesse do Palácio do Planalto.

Na liminar que determinou a "ampla publicidade" dos repasses, a ministra Rosa Weber, do Supremo, estabeleceu que os nomes dos parlamentares beneficiados devem ser divulgados, incluindo os valores que já foram pagos. A decisão foi referendada pelo plenário da Corte, por 8 votos a 2.

A cúpula do Legislativo e do Executivo, entretanto, se prepara driblar a ordem por meio de artifícios jurídicos que envolvem justamente a informalidade do esquema. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, deram declarações públicas nesse sentido nesta e na semana passada. De acordo com eles, não é possível identificar e divulgar os padrinhos das emendas de relator relativas a 2020 e 2021 porque a lei não previa esse nível de transparência no passado.

Uma solução aventada no Palácio do Planalto é dar publicidade apenas aos ofícios do relator-geral e alegar que, formalmente, desconhece os nomes dos solicitantes - apesar de essas informações serem conhecidas informalmente, pois fazem parte da articulação do Executivo com o Legislativo. O Congresso, por sua vez, também alega não ter as informações centralizadas.

"Se o Legislativo e o Executivo disponibilizarem ofícios do relator assumindo as indicações dos verdadeiros autores, a transparência continuará a não existir. Será mera burla à decisão do STF", disse o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco.

Exterior: feriado nos EUA

As bolsas americanas não têm atividade nesta quinta-feira por conta do feriado de Dia de Ação de Graças. Os futuros operam no positivo, após uma véspera movimentada, marcada pela publicação de diversos indicadores relevantes dos Estados Unidos e a divulgação da ata do Fomc (Copom americano), referente à sua última reunião. Em ambos os casos, investidores buscaram sinalizações sobre a inflação e potenciais reações do BC americano.

Com o avanço da inflação e percepções de que as altas nos preços possam ser permanentes, alguns dirigentes defenderam uma aceleração do processo de retirada de estímulos, conforme mostrou a ata. A avaliação majoritária é de que o crescimento econômico dos EUA segue "robusto", mas participantes admitiram que a escalada da inflação poderá durar mais tempo que o esperado.

O staff do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) avalia a possibilidade de outra onda "considerável" de covid-19 no inverno americano como uma fonte de risco "importante" para a atividade econômica dos Estados Unidos, como consta na ata da reunião de política monetária de novembro da instituição.

Já a possibilidade de problemas de oferta mais severos e persistentes foram vistos como um fator de risco adicional para pressionar a atividade econômica e gerar risco inflacionário.

Além disso, o staff afirmou que a expectativa de participantes do mercado para elevação da taxa básica de juros nos próximos anos cresceu substancialmente desde a reunião anterior, em setembro. "Aparentemente, em resposta aos riscos percebidos de uma alta na inflação", afirmou.

No período entre as duas reuniões monetárias mais recentes, um aumento nos riscos inflacionários e uma revisão para cima na trajetória dos juros dos Fed Funds contribuíram para o avanço dos juros dos Treasuries, observou o staff. Enquanto isso, os mercados de financiamento no curto prazo permaneceram estáveis.

Como divulgado no dia da decisão, a projeção é de que o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) caia a 2% em 2022, a 1,9% em 2023 e volte a 2% em 2024. No curto prazo, a projeção para inflação foi revisada para cima pelo corpo técnico, dada a alta mais rápida do que o esperado nos preços dos alimentos e energia, além das pressões inflacionárias impostas pelos ganhos recentes nos salários e gargalos de produção.

Segundo Edward Moya, analista da Oanda, as ações nos EUA estiveram sob pressão "depois que uma enxurrada de dados econômicos mostrou que a inflação ainda não atingiu o pico, que o consumidor está forte e a recuperação do mercado de trabalho pode estar se acelerando".

Por outro lado, os papéis foram inicialmente impulsionados depois que a primeira onda de dados econômicos mostrou que os pedidos de seguro-desemprego semanais caíram para o menor nível desde 1969, e que os pedidos de bens de capital não relacionados à defesa, excluindo aeronaves, "mostraram que as empresas estão usando seus talões de cheques", aponta o analista.

Entre os papéis, algumas ações de tecnologia apresentaram recuperação depois de perdas nesta semana, quando estiveram pressionadas pelos avanços dos rendimentos dos Treasuries. O Facebook teve alta de 1,13%, e Netflix subiu 0,65%. A HP foi um dos grandes destaques da sessão, subindo 10,10% após publicar resultados.

Em contrapartida, bancos, no geral, tiveram correção após o avanço recente, com quedas como a do Goldman Sachs (-1,81%). Petroleiras tiveram alguns avanços, ainda observando a liberação de reservas de países consumidores e as tentativas de reduzir os preços finais dos combustíveis. ExxonMobil (+0,55%) e Chevron (+0,75%) subiram.

Já na Ásia, os mercados acionários fecharam sem direção única por mais um dia, nesta quinta-feira. Como destaque no dia, o Banco Central da Coreia do Sul elevou juros, destacando pressões na inflação.

Na China, a Bolsa de Xangai fechou em queda de 0,24%, aos 3.584 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, recuou 0,33%, a 2.512 pontos.

A corretora Jinxin Futures considerou que houve mais cautela entre operadores nesta quinta, após a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mostrar que alguns dirigentes veem mais urgência para elevar juros nos Estados Unidos, diante do quadro na inflação. Ações ligadas ao turismo e à logística puxaram as baixas no mercado chinês.

Já na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei fechou em alta de 0,67%, aos 29.499 pontos, recuperando-se em parte da queda mais forte do dia anterior. O sentimento foi apoiado pela decisão do governo de emitir novos bônus no ano fiscal de 2022, a fim de financiar um orçamento extra para o atual ano fiscal. Ações ligadas ao setor financeiro se destacaram, com Sumitomo Mitsui Financial em alta de 1,2% e Mitsubishi UFJ Financial Group, de 0,1%. Daiwa Securities registrou ganho de 1,4%.

Na Bolsa de Seul, o índice Kospi terminou em baixa de 0,47%, aos 2.980 pontos, em sua terceira queda consecutiva. Papéis de empresas de eletrônicos, do varejo e de companhias aéreas lideraram o movimento negativo.

O BC sul-coreano elevou a taxa básica de juros de 0,75% a 1,00%, como esperado pela maioria dos analistas, e deu a entender que pode revisar para cima sua expectativa para a inflação no país. Esta foi a segunda elevação nos juros em três meses e a Capital Economics projeta mais três altas ao longo de 2022 pelo BC da Coreia do Sul.

Em Hong Kong, o índice Hang Seng fechou com ganho de 0,22%, aos 24.740 pontos. Papéis ligados ao setor de tecnologia em geral se saíram bem. Em Taiwan, o índice Taiex subiu 0,07%, a 17.654,19 pontos, após oscilar entre perdas e ganhos ao longo do dia.

Na Oceania, na Bolsa de Sydney, o índice S&P/ASX 200 registrou alta de 0,11%, aos 7.407 pontos. O avanço de papéis de mineradoras compensou a fraqueza de ações do setor financeiro, no mercado australiano. O setor de tecnologia seguiu em território positivo. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.