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Saiba o que acontece nos bastidores da derrocada da FTX

Funcionários da empresa enfrentam perdas, surpresa e decepção com a falta de informações

Data de publicação:18/11/2022 às 05:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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Um executivo da FTX vomitou quando soube que a bolsa de criptomoedas estava perdendo bilhões de dólares em recursos dos clientes.

Um advogado da empresa se demitiu por meio de uma mensagem de texto dura endereçada diretamente ao fundador Sam Bankman-Fried.

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O que era sonho virou pesadelo para os empregados da FTX - Foto: Envato

Um alto funcionário de vendas que apostou muito dinheiro no patrimônio da FTX viu seu patrimônio evaporar da noite para o dia.

O que começou como um emprego dos sonhos se tornou um pesadelo para os funcionários da FTX, a bolsa de criptomoedas que implodiu de maneira impressionante na semana passada.

Uma reportagem publicada pelo jornal norte-americano Wall Street Journal aponta que mais de uma dezena de funcionários e ex-colaboradores, com quem a reportagem teve contato, disse ter ficado surpresa com a rápida derrocada da empresa e chocada com o suposto uso indevido de recursos de clientes.

Para seus cerca de 300 colaboradores, a FTX parecia ser uma oportunidade para obter ganhos financeiros em uma das empresas de criptomoedas de crescimento mais rápido do mundo, e, ao mesmo tempo, cumprir uma missão moral. Bankman-Fried prometeu doar 1% das receitas com taxa para caridade, e parecia ser um modelo de ética em um setor atormentado por golpes.

E, então, a empresa desabou na velocidade da luz. A FTX, com sede nas Bahamas, entrou com pedido de falência na sexta-feira, apenas quatro dias depois de Bankman-Fried ter tuitado que a empresa estava bem, apesar de uma enxurrada de saques de clientes. Ele agora é questionado por que a FTX emprestou cerca de US$ 10 bilhões em recursos de clientes para uma empresa de trading coligada, a Alameda Research.

A exchange informou, no pedido de falência na terça-feira, que seu colapso atraiu "interesse substancial" dos reguladores e disse ter sido contatado pelo Departamento de Justiça, pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) e dezenas de outras agências nas 72 horas anteriores.

Pela mídia

Ryan Salame, um dos principais executivos da FTX Digital Markets, unidade da bolsa nas Bahamas, contou a pessoas próximas que passou mal e chegou a vomitar, ao saber dos problemas da empresa no início da semana passada. Embora trabalhasse próximo a Bankman-Fried, Salame não fazia parte do círculo mais íntimo do líder da FTX, segundo essas fontes.

Os funcionários reclamaram que ficaram sabendo pelo Twitter e pela mídia sobre a situação em rápida evolução, e não pela administração da empresa. "Disponho de uma transparência muito limitada e não é possível fazer mais sem a cooperação total dos fundadores", disse Ryne Miller, advogado-geral do braço da FTX nos EUA, em mensagem para a equipe publicada em um canal Slack da empresa, à qual o Journal teve acesso.

"Não vejo nenhuma pergunta sendo respondida. Por respeito a todos os funcionários desta empresa, acho que merecemos mais, tendo em vista as circunstâncias", disse um funcionário júnior baseado nos EUA em outra mensagem no mesmo canal do Slack.

Mais tarde, Bankman-Fried pediu desculpas aos funcionários em uma mensagem enviada à noite no Slack. "Entendo perfeitamente que é um momento difícil para todos vocês", escreveu ele.

Em um e-mail na terça-feira, Bankman-Fried disse ao Journal: "Durante o crash, muitas das minhas comunicações internas vazaram no Twitter, e foi difícil me dirigir a toda a empresa com informações que ainda não estavam prontas para vir a público".

Naquele momento, muitos funcionários já haviam ido embora. Dezenas de funcionários da FTX pediram demissão na semana passada, incluindo figuras importantes como o head de produto Ramnik Arora, o diretor da área regulatória Dan Friedberg e o head de vendas institucionais Zane Tackett, segundo fontes próximas ao assunto. Um funcionário disse que apresentou o pedido demissão ao chefe, mas ouviu do próprio que ele também já havia feito o mesmo.

Um amigo de Friedberg que jantou com ele no dia em que ele pediu demissão disse que o advogado -- antes um grande admirador de Bankman-Fried -- estava visivelmente abalado.

Friedberg mostrou ao amigo a mensagem de texto que enviou a Bankman-Fried e outros altos executivos da FTX apresentando sua demissão. Na mensagem, Friedberg disse estar arrasado, e afirmou: "Espero, um dia, poder perdoá-lo".

Derrocada

A implosão da FTX foi financeiramente destruidora para alguns funcionários. Fora dos EUA, muitos funcionários recebiam por meio de depósito direto nas suas contas na bolsa de criptomoedas; portanto, quando a FTX congelou os saques dos clientes na semana passada, esses funcionários também não tiveram acesso ao seu dinheiro, disseram fontes próximas.

"Você tem que entender como o funcionário médio da FTX fica arrasado", disse Nathaniel Whittemore, especialista em marketing que pediu demissão da FTX na semana passada. "Não bastasse estar perdendo o emprego, também estávamos perdendo toda a nossa economia. Eu só conseguia sentir muita raiva".

Também era comum que os funcionários fossem pagos com ações da FTX ou recebessem parte dos salários em tokens FTT da bolsa, disseram as fontes. No ano passado, Bankman-Fried ofereceu aos funcionários a oportunidade de comprar ações da FTX com um desconto de 50% em relação ao que os investidores de risco haviam pago em uma recente rodada de financiamento, acrescentaram as fontes. Agora, esse patrimônio não vale nada e o preço do FTT caiu 90% desde o início de novembro.

Tackett -- que continuou a tuitar atualizações para os clientes da FTX na semana passada, mesmo depois de deixar o emprego na área de vendas -- disse que perdeu 80% do patrimônio líquido. "Quase todo o meu dinheiro estava na FTX", disse ao Journal.

No fim de semana passado, apenas uma equipe reduzida permanecia na sede da FTX nas Bahamas, ajudando Bankman-Fried em tentativas frenéticas de garantir recursos para reembolsar os usuários, disseram funcionários.

Luxo para funcionários da FTX

A FTX se transferiu de Hong Kong para as Bahamas no ano passado e criou um estilo de vida confortável para os funcionários. A empresa gastava mais de US$ 100 mil por semana na sede, além de milhões de dólares em moradias para executivos em empreendimentos exclusivos à beira-mar, segundo ex-funcionários. Contava com frotas de carros -- incluindo marcas como BMW, Toyota e Honda -- para uso dos funcionários.

A FTX também contratou dezenas de cidadãos das Bahamas, principalmente para funções de logística, compliance e parceria. Animados por fazer parte do que parecia ser um novo e promissor setor no país insular, alguns contratados locais gastaram milhares de dólares para comprar ações da FTX no início deste ano.

Quando a FTX se desintegrou na semana passada, muitos dos funcionários expatriados deixaram a ilha, rumo a Hong Kong ou Nova York. Quem saiu mais cedo conseguiu reservar voos usando o cartão de crédito da FTX. Quem esperou um pouco mais contou que o cartão de crédito foi recusado.

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