Renda fixa vai pagar 1,01% ao mês com a nova Selic; mas irá proteger o investidor da inflação?
Inflação atual está acima de 1% ao mês e retorno da renda fixa ainda é negativo
Com a confirmação do juro básico da economia, a Selic, a 12,75% ao ano, as aplicações de renda fixa ficam em condições para pagar um rendimento mensal de 1,01%. Um retorno que, de fato, poderá proteger o investidor desde que a inflação seja inferior a isso.
A julgar pelos números mais recentes da inflação, essa remuneração teria sido insuficiente para cobrir as perdas em março, quando o IPCA cravou em 1,62%. Ou, ainda, considerando o IPCA-15 de abril de 1,73%, ou IGP-M de abril, de 1,41%, o juro teria sido igualmente negativo.
Já para o número fechado da inflação em abril, medida pelo IPCA, o mercado estima uma inflação menor, de 0,94%, dado que será conhecido no próximo dia 11. Nesse caso, ao menos em termos nominais, o retorno da renda fixa estaria rodando acima da inflação.
O mercado trabalha com essa perspectiva de perda de fôlego da inflação daqui para frente, de modo a chegar em dezembro na faixa 7,89% em 12 meses, ou 0,63% ao mês.
O crédito privado
Especialistas destacam que esse é o juro básico, uma espécie de piso de remuneração, mas alguns ativos, como os de crédito privado, conseguem oferecer uma remuneração mais atraente.
Letícia Conseza, especialista de renda fixa da Blue3, diz que o investimento em papeis como debêntures, especialmente as incentivadas com isenção de Imposto de Renda para a pessoa física, ou títulos que financiam a atividade imobiliária, CRIs, ou agrícola, CRAs, podem dar um bom retorno ao investidor. E isso porque esses títulos refletem a curva de juros.
Ela considera o investimento direto nesses ativos, que são livres de imposto de renda e pagam dividendos semestrais, mais interessantes do que em fundos formados por eles, e que cobram taxas de administração.
São ativos disponíveis ao investidor final nas plataformas e, de forma democrática, acessível a valores a partir de R$ 1 mil.
Entre os fundos de renda fixa, no entanto, muitos estão superando com folga a inflação e mesmo com a cobrança de taxas proporcionam um rendimento robusto ao investidor. Nove deles ganharam da inflação em abril. Veja aqui o ranking.
Os títulos do Tesouro
Em relação aos títulos do governo, Letícia recomenda uma mescla entre o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA. “Essa é uma receita de sucesso”, afirma.
É que pelo primeiro o investidor vai ter o dinheiro remunerado pela alta dos juros e pelo segundo, com remuneração composta de juro prefixado mais a variação do IPCA, o investidor terá a proteção contra a inflação, além de garantir um juro real.
O Copom deixou aberta a possibilidade de elevação dos juros nas próximas reuniões, ainda que em magnitude mais baixa de 1%, portanto, em 0,75%, 0,50% ou 0,25%.
Diante dessa perspectiva, segundo Camila Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos, a tendência é que as taxas futuras mais curtas subam.
Em termos práticos, os títulos com juros prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos se desvalorizam, criando oportunidades para investidores que estão em busca desses indexadores e prazos para a composição de carteira.
“No caso de valorização dos títulos de vencimentos longos, principalmente prefixados e IPCA+, haveria a possibilidade de ganhos de capital para aqueles investidores que já detivessem os ativos”.
Camila Dolle, da XP Investimentos
Entre os prefixados (Pré e IPCA+) e de curto prazo, a especialista inclui as LTNs e NTN-Fs com vencimento até 2024 e NTN-Bs com vencimentos até 2026. Estes títulos são prefixados e indexados à inflação, respectivamente.
Entre os prefixados (Pré e IPCA+) de prazo mais longo, Camila cita os títulos com vencimento acima de 5 anos, como por exemplo, NTN-Bs que vencem a partir de 2028.
Já entre os pós-fixados estão o Tesouro Selic, além de LFTs negociadas no mercado secundário e títulos bancários e de crédito privado com a mesma característica de acompanhar a taxa Selic.
O brilho dos pós-fixados
Se a tendência é de alta dos juros, as aplicações pós-fixadas são beneficiadas, como CDBs, títulos atrelados ao CDI, fundos DI e Tesouro Selic, aponta Arley Júnior, estrategista de investimentos do Santander.
Também na renda fixa, ele destaca ainda, dentre os beneficiados pelo aumento do juro básico, os títulos de crédito privado. São ativos que têm o rendimento indexado a juros pós-fixados, prefixados ou à inflação.
Títulos como debêntures incentivadas, LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário).
São papeis que oferecem também taxas mais atraentes, como prêmio ou ganho adicional pelo risco de crédito mais alto, e rendimento isento de imposto de renda.
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