Mercado Financeiro

Reunião do Copom e Petrobras devem movimentar o mercado nesta segunda-feira

Redução de preço na petroleira, pelo presidente Bolsonaro, pode prejudicar as suas ações e afetar o Índice Bovespa

Data de publicação:06/12/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro inicia os negócios da semana nesta segunda-feira, 6 de dezembro, com foco em eventos domésticos pela frente com alto potencial para influenciar a tomada de decisão de investidores e gestores: a definição da nova Selic, em reunião do Copom, e as falas do presidente Jair Bolsonaro sobre a Petrobras.

Sede da Bolsa de Valores em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Fato novo e inesperado do fim de semana foi a notícia, dada pelo presidente Jair Bolsonaro, de que a Petrobras vai anunciar uma redução no preço de combustíveis a partir desta semana.

Especialistas afirmam que é preciso saber como os investidores reagirão a essa informação, se como uma decisão derivada de pressão política ou como resultado de estudo técnico, da direção da estatal de petróleo. Algo que até faria sentido, já que a cotação do barril, sobretudo o do tipo Brent, vem de quedas nas últimas semanas, principalmente após o anúncio da descoberta da nova variante ômicron do coronavírus.

Dependendo da resposta, a informação poderá afetar os papéis da petroleira e, por tabela, o Índice Bovespa.

Selic na mira do mercado

Embora os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre (julho a setembro) indiquem que a economia está estagnada, a expectativa é que o BC não dê alívio na calibragem da Selic. Ainda que alguns analistas tenham revisado momentaneamente suas previsões para uma alta menor que 1,50 ponto porcentual já sinalizado pelo próprio BC. A corrente majoritária dos analistas, contudo, está convicta de esse será o tamanho da alta que levará a Selic atual de 7,75% para 9,25% ao ano.

É bastante provável também que, ao deliberar sobre o rumo da Selic e anunciar a decisão final na quarta-feira, o colegiado do BC já tenha dados preliminares da inflação oficial de novembro, que tende a vir ainda bem pressionada. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15),  divulgado pelo IBGE em 25 de novembro, apontou uma inflação prévia de 1,17% em novembro. O IPCA que mede a inflação oficial será conhecido na sexta-feira, 10.

Mais detalhes sobre a Petrobras

O presidente Jair Bolsonaro disse no dia anterior que a Petrobras vai anunciar uma redução no preço dos combustíveis a partir desta semana. A declaração foi feita após ele criticar o aumento nos preços e falar até em privatizar a estatal.

Ele ainda vinculou a situação à pressão de prefeitos para que os valores caiam e diminuam o impacto no custo do transporte coletivo, que deve ser reajustado em janeiro. "O que eu tenho ouvido eles reclamarem é que, com o aumento do combustível, aumenta o preço da passagem. Mas seria bom eles procurarem os governadores", disse ao site.

A possibilidade de redução nos preços foi citada pelo presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, durante audiência pública no Senado no último dia 23. Pressionado por senadores, Silva e Luna afirmou na ocasião que a empresa estava há 30 dias sem reajustar os preços e que analisava se faria uma redução.

Bolsonaro: passaporte da vacina

Outro assunto mencionado por Bolsonaro é a assinatura de uma medida provisória para determinar que apenas o governo federal possa decidir sobre a obrigatoriedade do passaporte da vacina contra a covid-19.

Atualmente, uma lei sancionada em fevereiro de 2020 para o enfrentamento da covid-19 autoriza o poder público a adotar medidas para conter o avanço da doença, entre elas a vacinação. O Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu autonomia para Estados e municípios nas medidas sanitárias, mas sem tirar a competência da União para cuidar da saúde dos brasileiros.

Uma MP assinada pelo presidente teria o poder de alterar imediatamente essa lei, interferindo na autonomia de Estados e municípios, mas poderia ser rejeitada pelo Congresso. Pelo menos 20 capitais do Brasil passaram a exigir algum tipo de passaporte da vacina para entrar em eventos ou frequentar determinados tipos de estabelecimento.

Para especialistas, a medida ajuda a reduzir o risco de transmissão da covid-19, principalmente em ambientes fechados, e ganhou importância extra diante da chegada da variante ômicron, cujos estudos preliminares apontam maior risco de contágio. O governo Jair Bolsonaro, porém, tem sido forte opositor da medida.

Lira: semipresidencialismo em 2022

Com o início de 2022 se aproximando, a proposta de adoção do semipresidencialismo no Brasil já tem caminho e ritmo de tramitação definidos na Câmara dos Deputados.

A transferência de parte do poder do Executivo para o Parlamento ganhou uma fórmula que pretende evitar as acusações de "casuísmo" e "golpe" a fim permitir a votação em 2022. Ela foi definida em reunião de líderes partidários com o presidente da Câmara, Arthur Lira e o autor da proposta, o deputado Samuel Moreira.

Para mudar a forma como os brasileiros são governados, criando o cargo de primeiro-ministro e um conselho de ministro nomeados pelo presidente, os parlamentares decidiram adotar um modelo de tramitação parecido com o usado para aprovar a cláusula de barreira para o Congresso, deixando os efeitos da adoção da medida para as futuras legislaturas.

A ideia é que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do semipresidencialismo seja analisada e votada em 2022. Caso aprovada, o novo sistema de governo seria adotado somente em 2030.

O encontro entre Moreira, Lira e os líderes, aconteceu na terça-feira passada. Eles esperam que as mudanças acertadas desinterditem o debate sobre o assunto e afastem as resistências dos pré-candidatos mais bem colocados nas pesquisas para a disputa presidencial de 2022, como Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro e Sérgio Moro.

Autor da PEC, Moreira terá agora o trabalho de apresentar o texto. "Acatei a sugestão de alterar a data da mudança e de se fazer esse amplo debate a partir de janeiro. Isso vai desinterditar a discussão, afastando dela o debate eleitoral. Com a adoção em 2030, fica claro que quem quer que seja eleito terá direito a dois mandatos no presidencialismo."

A intenção de Lira era que a adoção do sistema se desse em 2026. A mudança - por enquanto - para 2030 atendeu ao desejo dos líderes.

Outra mudança no projeto é o fim da transição que seria adotada, caso o semipresidencialismo começasse já em 2022, como previa o texto original de Moreira. Seria criado um ministro coordenador até o fim do mandato de Bolsonaro e, em 2023, o primeiro-ministro e o Conselho de Ministros seriam nomeados pelo presidente eleito e aprovados pelo Congresso.

Além da data de adoção, o projeto tem outros pontos polêmicos. Um deles é o artigo que limita a quantidade de vezes que alguém pode ocupar a Presidência a dois mandados, consecutivos ou não. Se valesse hoje, essa medida impediria que um ex-presidente como Lula, que já cumpriu dois mandados, pudesse ser eleito novamente.

Lá fora

No mercado internacional, os futuros nas bolsas americanas operam no terreno positivo, com a atenção dos investidores voltadas para os preços ao consumidor americano, que devem mostrar o avanço anual em décadas, segundo Filipe Teixeira, sócio da Wisir Research, mantendo a pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para fornecer um aperto de política monetária mais ágil.

No entanto, segundo ele, é improvável que essa avaliação mude deois que os empregos nos EUA tiveram o menor ganho neste ano.

Na última sexta-feira, 3, as bolsas por lá fecharam em baixa, com um payroll abaixo do projetado pelos analistas. Em um primeiro momento, o resultado estimulou os mercados que interpretaram como uma possível prorrogação dos estímulos pelo Fed. Porém, ao longo do dia, outros sinais do relatório foram levados em conta.

No fechamento, o Dow Jones caiu 0,17%, aos 34.580 pontos, o S&P 500 recuou 0,85%, aos 4.538 pontos, e o Nasdaq teve perda de 1,92%, aos 15.085 pontos. Na semana, houve queda de 0,91%, 1,22% e 2,62%, respectivamente.

Apesar da criação decepcionante de 210 mil empregos nos EUA, o payroll de novembro mostrou sinais positivos em outras partes do relatório, segundo o Commerzbank. O banco alemão destaca a revisão de alta de 82 mil vagas no dado de outubro, "o que sugere que o número do mês passado pode ter sido maior", e o aumento no número de horas trabalhadas, indicando dificuldade das empresas em contratar.

"As ações caíram depois de um relatório de emprego fraco e os traders permanecem em alerta sobre a incerteza com a variante Ômicron", aponta Edward Moya, analista da Oanda, que projeta que as próximas semanas permanecerão voláteis, visto que o foco recai sobre o relatório de inflação, a reunião do Fed de 15 de dezembro e mais clareza sobre o impacto com a Ômicron. O quadro pandêmico pesou mais uma vez em aéreas, com a American Airlines caindo 4,59%.

Na visão do Rabobank, "a corrida de EUA e China para impedir as listagens offshore de empresas chinesas continua acelerada - com Didi assumindo a liderança em um retorno para Hong Kong".

O banco lembra que Pequim está alertando empresas americanas ligadas à China de que elas não podem "fazer fortuna em silêncio", com o vice-ministro das Relações Exteriores Xie Feng dizendo-lhes para empurrar a Casa Branca em direção a uma política chinesa "racional" e acabar com os conflitos "ideológicos".

Neste cenário, as ações da Didi em Nova York despencaram 22,18%, e as da Tencent caíram 4,79%. Com negócios avançando nos últimos meses na China, a Tesla teve queda de 6,72%. Destaque ainda para a Nvidia, que caiu 4,46% com uma potencial proibição da compra por US$ 40 bilhões da designer de chips Arm, em virtude de temores por competição nos EUA.

No continente asiático, as bolsas fecharam majoritariamente em queda nesta segunda-feira, com o retorno das preocupações quanto à solvência do mercado imobiliário chinês, depois que a Evergrande alertou que pode não ter dinheiro suficiente para pagar uma nova rodada de dívidas. O avanço da variante ômicron do coronavírus também segue no radar das mesas de operações.

Em comunicado, a incorporadora chinesa informou que não há garantia de que tem recursos em caixa parar honrar obrigações financeiras, após ter sido chamada a pagar US$ 260 milhões em títulos de dívida em dólar.

Os prospectos de um possível calote levaram a ação da empresa a desabar 19,56% em Hong Kong, ao menor nível desde 2010. Com isso, o índice Hang Seng, referência na bolsa do território semiautônomo chinês, encerrou o pregão em baixa de 1,76%, aos 23.348 pontos.

O papel da Alibaba recuou 5,61%, após a gigante de tecnologia anunciar reestruturação e trocar o comando de sua equipe financeira. Companhias chinesas listadas em Nova York seguiram sob pressão, depois que a Didi Global anunciou que deixaria Wall Street, em meio ao cerco de Pequim.

Na China continental, o Shangai cedeu 0,50%, aos 3.589 pontos, enquanto Shenzhen, de menor abrangência, perdeu 1,22% aos 2.495 pontos. Em Taiwan, o Taiex caiu 0,05%, aos 17.688,21 pontos.

No Japão, o índice Nikkei baixou 0,36%, aos 27.927pontos. O SoftBank, que tem exposição considerável a empresas como Alibaba e Didi, despencou 8,20%.

Na contramão, o Kospi subiu 0,17%, aos 2.973 pontos, em Seul. Os ganhos no setor de eletrônicos ofuscaram os temores quanto à ômicron, que foi confirmada na Coreia do Sul e levou o país a endurecer restrições de viagens.

Já na Oceania, o S&P/ASX 200, de Sydney, registrou leve alta de 0,05%, aos 7.245,10 pontos. Ações de energia e indústria subiram 0,6% e 0,7%, respectivamente, enquanto o setor de bens de consumo básicos avançou 1,9% e os serviços públicos ganharam 2,0%. O setor de tecnologia foi o maior entrave do índice, com queda de 2,2%. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.