Poupança: sangria continua em outubro, ao mesmo tempo que a inadimplência bate recorde entre as famílias
Brasileiro está endividado e saca o investimento para complementar o orçamento
A caderneta de poupança vem batendo recordes negativos este ano, um atrás do outro. Em outubro, o segmento registrou mais de R$ 11 bilhões em saques líquidos. É o maior volume de saídas de recursos em comparação às entradas, desde que foi iniciada a série histórica de movimentação na poupança, em 1995.
Outro recorde se refere ao saldo negativo anual que em 10 meses está em R$ 102,077 bilhões. Isso é quase o dobro do que foi registrado ao longo de todo o ano de 2015 que, até então, detinha o título de pior resultado anual da série histórica, com balanço negativo de R$ 53,567 bilhões.
Essa sangria na poupança passa a fazer mais sentido diante do maior nível de inadimplência alcançado pelas famílias, em outubro, apontado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A proporção de famílias com contas em atraso passou de 30% em setembro para 30,3% em outubro, no quarto mês seguido de avanços. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
O brasileiro está endividado, sem condições de pagar seus compromissos em dia, e retira o dinheiro da poupança para complementar o orçamento. Com a renda comprimida pela inflação que, embora tenha apresentado variação negativa por três meses, ainda pesa no bolso em itens essenciais de cada mês, como os alimentos, o consumidor se depara com um dinheiro cada vez mais curto.
Os juros elevados têm também a sua parcela de responsabilidade, transformando as dívidas em uma bola de neve, difícil de ser contida. Os mecanismos de financiamento imediato e sem burocracia como cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado e 'papagaios' (crédito pessoal) no banco são acionados. Mas justamente pela facilidade são também os mais elevados.
Ainda segundo levantamento da CNC, no período de um ano, aumentou a proporção de famílias com dívidas no cartão de crédito (de 84,9% dos endividados em outubro de 2021 para 86,2% em outubro de 2022) e no cheque especial (de 4,9% para 5,1%).
Izis Ferreira, economista responsável pela pesquisa, explica que o acesso facilitado e a alta relação com as necessidades de consumo de curto prazo justificam o uso dessas duas linhas de crédito pelo consumidor, que teve o seu poder de compra afetado pela alta da inflação no mesmo período.
Rendimento da poupança
No ano, a poupança já consegue pagar um rendimento real ao investidor, mas perde com boa margem do CDI e outras aplicações nele referenciadas como fundos e títulos.
No entanto, especialistas não atribuem a saída de recursos da caderneta de poupança ao seu fraco desempenho, mas muito mais às dificuldades financeiras do investidor.
Com taxa de juro acima de 8,5%, o rendimento da poupança é composto de variação da TR mais juros de 0,5% ao mês ou 6,17% ao ano. Abaixo vai a remuneração acumulada de janeiro a outubro deste ano.
Leia mais:
- Ações, títulos públicos ou fundos multimercados, o que rendeu mais nos últimos 15 anos? Confira as comparações
- SVN: Capital estrangeiro continua entrando firme no País após a eleição de Lula para presidente
- Com aposta na volta da inflação, 18 fundos de renda fixa encerram outubro com retornos acima de 1,70%