Saiba porque o real deve se valorizar com a alta de juros
Na edição da semana passada estimamos que o dólar/real não deveria romper facilmente R$5,20 e que seria muito provável uma alta em direção a R$5,30. Mais…
Na edição da semana passada estimamos que o dólar/real não deveria romper facilmente R$5,20 e que seria muito provável uma alta em direção a R$5,30. Mais uma vez, contando com a sorte, foi exatamente isto o que aconteceu.
Retrospectiva: semana de 10 a 14 de maio de 2021
Comentamos que o grande evento era a divulgação do Consumer Price Index (CPI) dos Estados Unidos. Abaixo, os comentários.
Esse índice se assemelha ao nosso IPCA e superou em muito as expectativas. Abaixo o gráfico extraído do site do Bureau of Labor Statistics. A variação anual do índice ficou em 4,2% (linha azul) e do núcleo (linha vermelha), que exclui alimentos e combustíveis por serem itens mais voláteis, em 3,0%.
O CPI não é o índice de inflação oficial adotado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano), mas é muito observado pelos investidores. É possível que a inflação nos Estados Unidos esteja alta por fatores transitórios, como defende o Fed, e dentre esses fatores, destacamos:
- Base de comparação muito baixa. No mesmo período do ano passado a inflação estava perto de zero devido os efeitos da Covid;
- Os indicadores do PMI que medem os atrasos nas entregas dos fornecedores estão em patamares historicamente muito elevados, indicando que a indústria ainda se recupera do choque de ruptura da cadeia de suprimentos provocado pela Covid. Por exemplo, está faltando semicondutores, fato que irá reduzir a produção mundial de veículos em torno de 2,5 milhões de unidades este ano;
- Os carros e caminhões usados subiram 10% e foram responsáveis por 30% da inflação apurada no mês;
- Alguns setores de serviços, muito afetados pela pandemia, subiram os preços de forma vigorosa na reabertura: Hotéis e Motéis em 8,8%, passagens aéreas em 10,2% e transporte público em 5,8%.
Em resumo, pode-se ler que o copo está meio cheio ou meio vazio. Analisando os discursos dos membros do Board do Fed (para mais detalhes, veja esta coluna ), estes seguem acreditando que a inflação será transitória.
Por outro lado, muitos investidores temem que o Fed está demorando para agir, ou seja, acreditam que o Fed deveria iniciar o mais cedo possível a discussão para reduzir as compras de ativos na ordem de $120 bilhões ao mês.
Consequência: como os investidores elevam a projeção para a inflação e o board do Fed não muda o discurso, o dólar cai.
Particularmente, acredito que a inflação alta deve ser provisória e serão necessários ao menos mais dois ou três meses com dados de inflação mais forte para vermos mudança de postura do board do Fed. Em todo caso, é muito importante ficarmos atentos a dois eventos até o final de agosto:
- Reunião do FOMC do dia 16 de junho (teremos Copom também!). Além do comunicado e da entrevista para a imprensa, será publicado o famoso “gráfico de pontos” com as novas projeções para a economia. O que mais os investidores irão observar é a projeção para a taxa de juros;
- Simpósio anual de Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kanasas City, e que acontecerá em agosto. Em diversas ocasiões este evento foi palco de importantes discursos sobre política monetária. (https://www.kansascityfed.org/research/jackson-hole-economic-symposium/economic-symposium-conference-proceedings/).
Semana de 17 a 21 de maio de 2021
Nesta semana teremos os primeiros dados da economia do mês de maio e ata do FOMC.
- Segunda-feira: índice de atividade de maio do Fed de Nova York
- Quarta-feira: ata do FOMC
- Quinta-feira: índice de atividade de maio do Fed da Filadélfia
- Sexta-feira: prévia do PMI Markit nos Estados Unidos e na zona do euro do mês de maio.
Acredito que os indicadores de atividades são mais importantes do que a ata do FOMC e será importante observarmos o ritmo de crescimento da economia. No caso da zona do euro, a prévia do PMI de serviço deve acelerar e superar o dado de abril, que ficou em 50,50.
A agenda econômica no Brasil é mais tranquila e devemos ter de relevante as prévias das sondagens da FGV e alguns índices de inflação.
O que esperar do dólar/real
Na semana passada mostramos uma correlação muito forte do movimento do dólar no exterior com o movimento do dólar no Brasil. Se os nossos fundamentos começarem a agir, a cotação do dólar/real será para baixo.
No momento, quando (e se) o dólar/real romper a forte região de suporte entre R$5,15 – R$5,20, teremos a primeira parada em torno de R$5,00 e a segunda parada em torno de R$4,80. Provavelmente a nossa moeda deve seguir se valorizando com a provável continuação da queda do Dollar Index e com os nossos fundamentos melhorando.
Ainda é possível que o dólar suba contra o real e retorne para R$5,30 e até mesmo para R$5,45. É importante ter em mente que os movimentos dos ativos financeiros não são lineares, ou seja, não são em linha reta.
Fundamento em favor do real: taxa de juros subindo
Abaixo um gráfico que mostra a evolução da taxa de juros real, acima da inflação, e a taxa de câmbio ao final do ano.
Vários fatores influenciam o valor da moeda e o gráfico a seguir tem apenas o objetivo de mostrar a evolução da taxa Selic (efetiva e real) e da taxa de câmbio, e não tem objetivo de indicar taxa de câmbio justa para níveis de juros.
Importante ter em mente que a Selic deverá fechar este ano em torno de 5,50% e a expectativa para a inflação para o próximo ano está em torno de 3,60%, ou seja, a taxa de juros voltará a ficar acima da inflação em torno de 2% ao ano e isto desestimulará a compra de dólares.
Por muito tempo foi possível comprar dólares para prazos entre 6 meses e 1 ano com custo financeiro abaixo da inflação, algo até então inédito no Brasil.
Fundamento em favor do real: fluxo cambial positivo
O gráfico abaixo mostra a evolução do fluxo cambial e da taxa de câmbio. Vários fatores influenciam o valor da moeda e este gráfico tem apenas o objetivo de mostrar a evolução do fluxo cambial e da taxa de câmbio e não tem objetivo de indicar taxa de câmbio justa para níveis de fluxo cambial.
O fluxo cambial no ano até o dia 07 de maio está positivo em US$ 11,2 bilhões.
Em resumo: juros mais altos e fluxo cambial positivo são fundamentos que devem ajudar o real a se valorizar.
Nas próximas semanas comentaremos de outros fundamentos, como saldo em conta corrente e termos de troca.
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
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