Dólar vai seguir abaixo de R$ 5? Saiba os 8 motivos que levaram a moeda a R$ 4,91
Entrada maior de dólares no País pelas exportações e por investidores estrangeiros para aproveitar os juros elevados estão entre as pressões de queda da moeda
Há ao menos 8 bons motivos internos e externos que explicam o dólar a R$ 4,91 com uma desvalorização de 2,80% na semana e 2,66% em abril. Mas o negativo vem acompanhando a moeda americana mesmo em prazos maiores, em 2023, a queda é de 7,45%, e em 12 meses, de 5,80%. O seu comportamento tem rodado abaixo da inflação e dos juros.
A questão agora é saber se o dólar vai continuar fraco ou terá folêgo para retornar a patamares de um mês atrás, quando bateu os R$ 5,28. “O dólar promete ficar abaixo de R$ 5 por um tempo a mais”, afirma Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos. Alguns dos fatores de baixa que tem atuado no câmbio, como alta das commodities, petróleo, minério de ferro, e uma forte venda de produtos agrícolas, devem trazer muitos dólares ao País, afirma ele.
No gráfico, acompanhe a evolução do dólar em 2 anos em comparação com a inflação e o CDI no mesmo período.
O economista da Valor Investimentos esclarece que em um cenário doméstico sem surpresas pelo meio do caminho, sem tumultos ou problemas no campo político, o dólar tende a permanecer na casa dos R$ 4,90, podendo até ceder um pouco mais, aos R$ 4,80. Caso contrário, ele tende a retornar ao nível de R$ 5,30.
Tiago Sbardelotto, economista da XP, diz que o câmbio em torno de R$ 5 é compatível com os fundamentos atuais. “De acordo com a nossa visão, dificilmente o câmbio voltará aos níveis pré-pandemia, em torno de R$ 3,80 e R$ 4,00. Também é improvável que o câmbio fique a R$ 5,50, ou mais do que isso, de forma sustentável”.
Para o fim de 2023, a XP trabalha com a projeção da moeda em R$ 5,30, com média anual de R$ 5,15. Como pressão de queda para o dólar, Sbardelotto aponta preços das commodities em níveis elevados, Selic alta, e solidez do balanço de pagamentos. Ao contrário, como fatores de alta estão temores com recessão global e incertezas fiscais, mesmo com o novo arcabouço fiscal.
Perdendo força
Em relação ao cenário externo, Carvalho ressalta que já é possível ver a moeda americana perdendo um pouco de força, diante da perspectiva de os juros americanos começarem a cair já no fim deste ano, diante dos dados recentes mostrando desaceleração da economia dos EUA. “Então o investidor começa a olhar outros mercados, principalmente investimentos em commodities, a China crescendo, então isso muda o fluxo”.
Outros países emergentes produtores de commodities experimentaram a mesma valorização de suas moedas frente à divisa americana, segundo o economista. Para ele, o dólar poderá manter-se comportado lá fora desde que a trajetória dos juros nos Estados Unidos siga dentro do que já está contratado, ou seja, uma taxa que chegue a 5,25%.
“Mas se a inflação persistir e o Fed (Federal Reserve, banco central americano) mudar qualquer coisa acima de 5,25%, esse fluxo muda totalmente, e o dólar volta a se fortalecer de novo” arremata o economista da Valor Investimentos.
8 pressões de baixa sobre o dólar
Confira os fatores internos e internacionais que enfraqueceram a moeda:
1 - IPCA mais baixo
Depois de 10 meses, o dólar afundou abaixo dos R$ 5 já na última terça-feira, 11, com a divulgação da inflação oficial de março, de 0,71%, enquanto a mediana das expectativas do mercado apontavam para 0,77%. Um IPCA mais baixo levou os investidores a esperar também por uma antecipação no começo de redução de juros pelo Banco Central.
2 - Arcabouço fiscal
A divulgação da proposta de novas regras para limites dos gastos públicos, ainda que cercada de críticas e dúvidas, gerou um clima de maior segurança, o mercado entendeu como positiva a preocupação do governo Lula com o controle fiscal, e o investidor estrangeiro passou a sair de posições compradas em dólar.
3 - Selic elevada
A taxa de juros no Brasil mais elevada em relação a economias desenvolvidas atrai o capital estrangeiro para aproveitar a diferença (carry trade). O economista da XP explica que os investidores que estão em países com taxas mais baixas que as do País podem pegar seus recursos, convertê-los em real e, a partir disso, investir o dinheiro em ativos brasileiros com remuneração superior à taxa vigente do país de origem.
“A diferença entre as taxas será um fator positivo na remuneração desse investimento no carry trade. O diferencial de juros entre o Brasil e os países desenvolvidos tem favorecido essa operação, valorizando o real”, esclarece Sbardelotto.
4 - Exportações
No primeiro trimestre do ano, o fluxo cambial no País é positivo em US$ 12,5 bilhões, com destaque para a balança comercial que teve um superávit de US$ 16,1 bilhões no período. Os exportadores, especialmente de produtos agrícolas, estão trazendo seus dólares para o País para também aproveitar os juros elevados.
5 - China e as commodities
A China segue apresentando dados fortes de atividade, o que mantém o preço de commodities elevado, ressalta o economista da XP, e o Brasil é exportador de petróleo, grãos, minério, entre outros. Produtos que tendem a apresentar altas nos preços quando a demanda chinesa está aquecida, favorecendo países exportadores de commodities.
6 - Economia americana
A divulgação de dados da última semana mostram uma inflação mais comportada nos Estados Unidos e uma economia em desaceleração, fatores que aumentam as expectativas para a queda dos juros americanos ainda este ano. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1%, metade das estimativas do mercado, que apontavam uma evolução de 0,2%, e uma queda em relação a fevereiro, com alta de 0,4%. Em 12 meses, a inflação atingiu 5%.
Em apenas uma semana, houve um aumento nos pedidos de auxílio-desemprego em 11 mil, chegando a 239 mil, um número que ficou acima dos 232 esperados pelo mercado para o período, indicando uma queda da atividade econômica.
7 - Juros americanos
Os dados de uma inflação e economia mais fracas elevam as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) inicie antes o afrouxamento da política monetária, deixando de elevar os juros e iniciando ainda este ano o processo de queda, de modo a evitar uma recessão.
Um abrandamento no aperto monetário nos EUA retira a pressão sobre a manutenção da Selic em níveis tão elevados por aqui.
8- Dólar mais fraco no mundo
Por esse contexto, a desvalorização do dólar não ocorre apenas diante do real, mas também em relação a outras moedas. A proximidade do fim do ciclo de alta dos juros administrado pelo Fed e a perspectiva de queda da atividade econômica nos EUA enfraquecem a moeda.