Fundos de Investimentos

Por que 12 fundos de renda fixa estão negativos no ano; confira se o seu é um deles

97 fundos de renda fixa renderam menos que a inflação acumulada no ano, de 4,77%

Data de publicação:10/08/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A taxa básica de juros, a Selic, está em ciclo de alta desde março de 2021. Saiu da mínima histórica de 2,00% ao ano para, após seguidas elevações, chegar a 13,75%, do momento.  Mesmo assim, alguns fundos de renda fixa sustentem um resultado negativo, no ano e em 12 meses, período que coincide com o da subida dos juros.

Como esses fundos podem entregar rendimento negativo se a ideia comum corrente é que toda elevação de juros beneficia a renda fixa? Pode parecer uma incongruência, mas é o que aponta o levantamento da Mais Retorno, em uma base de dados com 792 fundos.

FundoRend. 2022Rend. 12 mesesRend. julhoPatrimônio
em R$ milhões
BB RF Dívida Externa Mil-10,06% -5,02% 0,73% 90,899
Bradesco FIC FI Pref. Longo -2,87% -5,67% 1,42% 45,027
BB RF LP Pré 5 anos Private -2,55% -5,25% 1,30% 24,221
Vitreo Inflação Longa -2 06% -8,02%-2,15%222,060
Icatu Vanguarda Prefixado -0,58% -3,38% 1,26%104,648
Itaú RF Juros Reais B5+ -0,39% -4,12%-1,91%165,973
Icatu Vanguarda Inflação L -0,27% -4,07%-1,87% 99,474
Itaú Index Juros Reais B5+ -0,17% -3,75%-1,88% 87,806
Trend Inflação Longa -0,11% -3,28%-1,87% 45,522
Itaú Private RF IMA B5+-0,10% -3,64%-1,87%110,714
Journey Capital Vitreo RDTV11-0,10%-0,47%-0,01% 47,840
BB Previd. RF IMA B5+-0,04%-3,54%-1,86%749,544
Fonte: Mais Retorno

Compõem o universo pesquisado os fundos em funcionamento há pelo menos um ano, com patrimônio acima de R$ 17 milhões, abertos ao público em geral e com no mínimo 60 cotistas.

Dos fundos que formam esse grupo, 12 estão rendendo negativo no ano. Lidera o ranking dos fundos de pior performance, com R$ 90,9 milhões de patrimônio e 5.312 cotistas o BB RF Dívida Externa Mil FI, com rentabilidade negativa de 10,06%. O último da lista, o BB Previdenciário RF IMA B5+ Títulos Públicos FI, com R$ 749,5 milhões de patrimônio e 223 cotistas, entrega um rendimento negativo de 0,04%.

Composição da carteira em títulos públicos de prazos mais longos pode afetar o rendimento - Imagem: Reprodução

O que explica o prejuízo

João Mincoff, especialista da SVN, não se surpreende com o desempenho negativo desses fundos. A explicação, segundo ele, está na composição das carteiras. “O ponto comum nesses produtos é que todos investem em títulos públicos de prazos mais longos”.

Mas, o que explica a má performance desses fundos em um período de aperto monetário, comandado há mais de um ano pelo Banco Central? A segunda parte da explicação vem das características desses títulos e do mercado onde são negociados. 

“A maioria desses fundos está com boa parte da carteira posicionada em títulos públicos de vencimento longo”, como Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B), indexadas à inflação, e Letras Financeiras do Tesouro (LFT), indexadas à taxa Selic.

O longo prazo de duração do título adiciona volatidade, que costuma ser tanto maior quanto mais tempo o papel levar até o vencimento. “A imprevisibilidade de cenário à frente acentua a volatilidade, que impacta o preço do título ao longo de seu caminho até o vencimento.”

As expectativas dos investidores impactam diretamente o valor dos ativos, reforça o especialista. “Quanto mais longo for o prazo ou a duração do título, maior é a dificuldade de prever o cenário futuro.”

Mincoff afirma que a alta da Selic, no cenário de momento, derruba a inflação, o que faz com que o preço ou o valor dos títulos atrelados ao IPCA (índice oficial de inflação) também caia. “O aumento da Selic tem provocado oscilações negativas nas cotas desses fundos, um movimento contrário ao do cenário anterior em que os juros eram baixos e a inflação avançava em ritmo acelerado.”

Fundos de renda fixa com maior volatilidade

A falta de previsibilidade do cenário futuro é um fator alimentador de volatilidade, que se acentua nos títulos de prazos mais longos. E quanto maior a volatilidade, mais risco o fundo costuma oferecer ao cotista.

O fundo de renda fixa de maior volatilidade do grupo de 12 negativos no ano, o BB RF Dívida Externa Mil FI, com índice de 16,49%, é também o que pior desempenho teve em 12 meses, com rendimento negativo de 5,02%. “É um fundo que investe em títulos públicos brasileiros dolarizados”, explica Mincoff. “Isso significa que, além da volatilidade relacionada à inflação, o fundo está exposto também à variação cambial, a do dólar”.

O BB RF LP Pré 5 Anos Private FIC FI, o segundo da lista com maior volatilidade, com índice de 10,43%, entrega um rendimento negativo de 2,55% no ano, e o Bradesco FIC FI RF Prefixado Longo, o terceiro em volatilidade, com índice de 10,35%, rende 2,87% negativo, até julho.

Tanto o BB RF Pré quanto o Bradesco FIC FI RF Prefixado têm boa parte da carteira alocada em títulos públicos de longo prazo. São, portanto, sujeitos à maior volatilidade no preço dos papeis e, portanto, das cotas, conforme as condições de mercado, em função de expectativas com inflação e juros.

Do total de 792 fundos de renda fixa pesquisados pela Mais Retorno, 271 não proporcionaram rendimento líquido suficiente, após o desconto de imposto de renda pela alíquota de 22,50%, para cobrir a inflação de 4,77% acumulada no período. E outros 97 não entregaram sequer rendimento nominal bruto acima desses 4,77%, que é a inflação calculada pelo IPCA até julho.

O fundos que entraram no azul em julho

Quatro fundos tingiram o resultado de azul em julho, mês em que clareou relativamente os passos seguintes de política monetária. Ganhou força entre os analistas a ideia de um cenário de proximidade do fim de ciclo de alta da Selic e perspectiva de desaceleração da inflação. 

O fundo com melhor performance no mês foi o do Bradesco FIC FI RF Prefixado Longo, com rendimento positivo de 1,42%, seguido pelo BB RF LP Pré 5 Anos Private FIC FI, com 1,30%; pelo Icatu Vanguarda Prefixado FI RF LP, com 1,26%, e pelo BB RF Dívida Externa Mil, com 0,73%. Os demais fundos da lista de 12 permaneceram no vermelho por mais um mês.

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Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.