Como foi o desempenho do PIB na era Bolsonaro
Queda nas exportações, pandemia e guerra na Europa prejudicaram o desempenho da atividade econômica
O ano de 2022 será marcado pelas eleições presidenciais para o Brasil. E este momento torna-se importante para revisar os resultados econômicos, o avanço da economia medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) — que, aliás, podem ser decisivos em uma eventual reeleição do atual presidente, Jair Bolsonaro.
E a verdade é que os números não foram positivos. No período, além de um recuo no principal indicador de crescimento da economia nacional, o nosso país ainda deixou uma importante posição de "top-10" no ranking mundial.
A seguir, uma breve revisão sobre tudo que aconteceu ao longo dos últimos quatro anos, também explicando os motivos desses resultados.
O que é PIB?
Antes de iniciarmos a nossa revisão sobre os resultados, vale relembrar que PIB é uma abreviação para Produto Interno Bruto. Em resumo, trata-se da soma de tudo que foi produzido no país em termos de bens (produtos) e serviços.
Essa é a principal métrica para explicar o desempenho econômico do Brasil (e também de outras nações), permitindo a compreensão sobre o crescimento de um país. Se o PIB é positivo, isso significa que a atividade econômica apresentou um ciclo de aumento. E vice-versa: o indicador negativo representa queda de produtividade.
Importante mencionar que o cálculo se baseia em produtos finais, evitando assim que exista uma duplicação do valor. Por meio desse indicador, portanto, podemos entender a evolução econômica do Brasil e o seu nível de produtividade com o passar do tempo.
Como foi o PIB do Governo Bolsonaro?
As eleições de 2018 foram marcadas por um período turbulento para o Brasil. De um lado, uma esquerda enfraquecida por escândalos de corrupção. Por outro, um antigo deputado que se promovia como "nova política". O resultado desse cenário foi uma polarização entre dois candidatos que deve, inclusive, se repetir em 2022.
Ao longo dos últimos quatro anos, entretanto, muita coisa aconteceu. Vamos então passar pelos resultados do PIB no governo Bolsonaro, ajudando a entender os principais acontecimentos econômicos e, consequentemente, os fatores que devem nortear os eleitores para a votação deste ano.
2019: a recuperação econômica desacelera
Quando assume a presidência em 2019, Bolsonaro pega um país que tinha iniciado a sua recuperação econômica. Depois de dois anos com o PIB em queda, com recessão entre 2015 e 2016, o país sinalizava uma recuperação anual de 1,3% nos anos seguintes.
No entanto, essa recuperação apresentou desaceleração logo no primeiro ano do novo presidente, com novo aumento de apenas 1,1%. Esse crescimento pelo terceiro ano seguido ainda não era animador, pois não representava sequer a recuperação do patamar da atividade econômica no período anterior à crise.
Os principais destaques para o PIB foram investimentos (+2,2%) e o consumo das famílias (+1,8%), mas este segundo também apresentava o pior resultado desde 2016. Havia no país uma forte desconfiança na recuperação econômica, algo que fazia com que a população brasileira optasse por uma maior cautela nos seus gastos.
Outros fatores também influenciaram a baixa na nossa recuperação econômica, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, o crescimento do trabalho informal e uma forte queda das exportações — em parte, afetada ainda pela tragédia de Brumadinho, que influenciou o desempenho operacional da Vale.
2020: a pandemia acaba com uma expectativa otimista
Apesar dos números fracos no ano anterior, o Brasil tinha boas perspectivas para 2020. Com taxas de juros nas mínimas históricas, a tendência era de força na retomada da atividade econômica. No entanto, como sabemos, a prática passou bem longe da teoria...
Já nas primeiras semanas do ano, a preocupação de um vírus com alta taxa de mortalidade assustava o mundo. Não demorou para que a covid-19, como mais tarde seria batizado o vírus, chegasse ao Brasil. E, com a oficialização de uma pandemia, o país se viu obrigado a adotar medidas de isolamento social.
Com isso, era natural o impacto no PIB brasileiro, que fechou 2020 com uma queda de 4,1%, o pior resultado desde o distante ano de 1996. Além disso, foi a primeira vez que o Brasil deixou a lista das dez maiores economias globais desde 2007, outro marco negativo para o governo Bolsonaro.
2021: recuperação econômica, mas abaixo do mundo
O PIB brasileiro apresentou um bom crescimento no ano de 2021, com aumento de 4,6% do indicador. Contribuíram para o bom resultado a vacinação da população e uma consequente reabertura econômica, assim como a base baixa de 2020, quando boa parte dos setores teve restrição de consumo.
No entanto, mais uma vez o resultado positivo tem ressalvas. Quando olhamos para a média global, por exemplo, a elevação do PIB foi de 5,5%. Ou seja, mesmo com um resultado muito ruim no ano anterior, o Brasil não conseguiu acompanhar os demais países mesmo com uma forte pressão inflacionária, que eleva naturalmente os preços dos produtos e serviços.
2022: preocupação para os conflitos na Europa
Para 2022, as expectativas não estão entre as mais otimistas. Com a recente alta das taxas de juros, visando controle da inflação, há uma tendência natural de enfraquecimento da atividade. A guerra na Europa, entre Ucrânia e Rússia, também é um ponto de preocupação, pois os efeitos ainda são incertos.
Por outro lado, os resultados econômicos do Brasil estão surpreendendo positivamente. Em maio, boa parte das instituições financeiras revisaram de forma positiva as suas projeções para o PIB, agora apontando para crescimento na casa de 1,0% — resultado bem tímido considerando as quedas recentes. Vamos acompanhar os próximos meses.
Brasil cai no ranking global de PIB
Como vimos nessa breve revisão, os resultados do PIB brasileiro no governo Bolsonaro não foram positivos. E isso fica mais claro quando olhamos para o ranking global, comparando o nosso país com outras economias.
Depois de atingir o 8º lugar em 2017, o Brasil começou a cair após Bolsonaro assumir a presidência. Primeiramente, entre 2019 e 2021, perdemos algumas posições, descendo do 9º lugar para o 13º lugar. Mais recentemente, perdemos mais um posto, caindo para 14º lugar — o pior ranking desde o ano de 2003.
Existem fatores que explicam e justificam a piora de resultados. A pandemia é o principal deles. Era impossível prever esse evento, algo que prejudica a entrega da atividade econômica. Há também o aumento do dólar e o baixo desempenho dos setores produtivos no período.
É claro que não se trata de uma culpa exclusiva do governo, mas é fato também que muitas ações de Bolsonaro e Paulo Guedes não contribuíram para melhores resultados. Não por acaso, ao longo desses últimos anos, alguns recordes negativos foram batidos. A queda no ranking não pode ser atribuída apenas à pandemia, afinal, ela também afetou outros países.
Esse é, inclusive, um grande desafio de Jair Bolsonaro nessa eleição. Com a economia fragilizada, aumento de desemprego e altas taxas de juros, o ambiente econômico não traz uma narrativa muito positiva. O PIB do primeiro trimestre divulgado hoje, com alta de 1,0%, foi positivo. O resultado anual, entretanto, deve seguir pressionado.