Recuo nas negociações diplomáticas entre Rússia e Ucrânia aumenta o pessimismo do mercado
No cenário doméstico persistem as preocupações com inflação e quadro fiscal
As expectativas em torno de novos lances no conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia devem continuar ditando o humor de investidores e gestores e influenciar as decisões de negócios no mercado financeiro. O aumento do pessimismo já toma conta dos mercados - os futuros americanos operam em baixa e o fechamento das bolsas asiáticas seguiu a mesma tônica.
O temor de uma guerra no Leste Europeu, com a possível invasão da Rússia sobre o território ucraniano, é crescente, em meio aos avanços de recuos das negociações diplomáticas. Tudo isso entremeado por novas ameaças de uma parte e de retaliações de outra.
O primeiro dia da semana no mercado financeiro terminou mais tenso depois que o presidente Vladimir Putin, da Rússia, reconheceu a independência de algumas regiões separatistas da Ucrânia. Movimento que conta com o apoio russo e cuja suposta repressão pelo governo de Kiev contra ele tem sido um dos argumentos usados por Moscou para justificar uma invasão.
Além disso, o presidente russo ordenou que o exército do país lançasse o que Moscou chamou de operação de "manutenção da paz" na área, aumentando a aposta em uma crise com potencial de desencadear uma grande guerra.
Os últimos movimentos de Putin acabaram com o otimismo temporário acerca da cúpula organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, prevista inicialmente para esta quinta-feira, 24, aproximando os países cada vez mais de uma solução que envolva intervenções militares.
Futuros/bolsas americanas
- S&P 500: -0,47%
- Dow Jones: -0,08%
- Nasdaq 100: -0,99% (dados atualizados às 7h41)
Crise também reflete no Ocidente
A crise na região do conflito ganha novos contornos a cada lance das partes envolvidas ou interessadas. E não parece mais restrito aos dois países, mas com o envolvimento de potenciais ocidentais. E é nesse compasso que o mercado financeiro tem tocado os negócios. Ora com tom mais positivo, ora com o humor azedado, o que reflete mais negativamente na Bolsa de Valores.
A forte valorização das ações ligadas ao petróleo, que subiu impulsionado pelo agravamento da crise entre Ucrânia e Rússia, não foi suficiente para neutralizar a aversão dos investidores ao risco e dar suporte ao mercado. A B3 encerrou o pregão desta segunda-feira com queda de 1,02%, em 111.725 pontos, próxima da pontuação mínima de 111.657 pontos do dia.
As ações de Petrobras seguem a alta das cotações do petróleo, em meio ao cenário de incertezas com a tensão crescente na fronteira entre Rússia e Ucrânia. Um conflito aberto entre os dois países tenderia a elevar o preço não apenas do petróleo, mas de todo o setor de energia e gás, de acordo com os especialistas, o que favoreceria a estatal brasileira.
Mercado não tem suporte em cenário doméstico
O cenário geral, dizem analistas, não oferece estímulos ao mercado de ações. O panorama externo, que vive o risco crescente de uma guerra, não é compensado por uma situação doméstica mais animadora.
Persistem as preocupações com o quadro fiscal, em que o foco continua ainda sendo o impacto sobre as receitas públicas de uma possível redução de impostos sobre os combustíveis. E também com a inflação que os analistas não veem sinais de trégua.
Os dados do boletim Focus desta semana indicaram nova revisão para cima da inflação estimada para o ano, que subiu de 5,50%, da semana anterior, para 5,56% - acima da meta central de 3,50% e do teto de 5,00%, 1,50 ponto porcentual de tolerância para cima.
A resistência à queda da inflação equilibrada em nível elevado – sustentada, segundo especialistas, pelo amplo mecanismo de indexação de preços e ativos da economia – poderia levar o Banco Central a endurecer ainda mais a política monetária. Uma perspectiva que atiça o interesse do mercado financeiro pelo IPCA-15, a prévia de inflação de fevereiro, que o IBGE divulga nesta quarta-feira, 23.
Bolsas europeias operam mistas
O mercado financeiro na Europa opera misto nesta terça-feira, refletindo o aumento da tensão por conta do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. O gás natural vindo da Rússia é a principal fonte de energia de vários países do continente, incluindo a Alemanha.
Enquanto isso, novos dados econômicos seguem dando sinais de como anda a economia do bloco. De acordo com informações divulgadas pelo instituto alemão IFO, o índice de sentimento das empresas da Alemanha subiu de 96 pontos em janeiro para 98,9 pontos em fevereiro, apresentando melhora pelo segundo mês consecutivo em meio a um alívio nos casos de covid-19. O resultado superou a expectativa dos analistas, que previam avanço do indicador a 96,5 pontos.
Bolsas europeias/principais indicadores
- Stoxx 600 (Europa): -0,03%
- FTSE 100 (Londres): +0,36%
- DAX (Frankfurt): -0,13%
- CAC 40 (Paris): +0,03% (dados atualizados às 7h49)
Bolsas asiáticas fecham em queda
As bolsas asiáticas fecharam em baixa generalizada nesta terça-feira, pressionadas por uma nova escalada nas tensões entre Ucrânia e Rússia.
Em Hong Kong, a ação do HSBC sofreu um tombo de 3,59% na bolsa local. O banco britânico, que tem foco no mercado asiático, mais do que triplicou seu lucro no quarto trimestre de 2021, mas também fez provisão adicional de US$ 450 milhões no período para prováveis perdas ligadas principalmente aos transtornos sofridos pelo setor imobiliário da China.
Além disso, as ações da gigante Alibaba também recuaram 3,39% na bolsa de Hong Kong, após um relatório da Bloomberg afirmar que as autoridades chinesas pediram a bancos e empresas estatais para reportarem sua exposição ao Ant Group, que nasceu como um braço da plataforma. / com Júlia Zillig e Agência Estado
Fechamento/bolsas asiáticas
- Hang Seng (Hong Kong): - 2,69% (23.520 pontos)
- NIkkei (Tóquio): -1,71% (26.449 pontos)
- Kospi (Seul): -1,35% (2.706 pontos)
- Xangai Composto (China continental): -0,96% (3.457 pontos)
- Shenzhen Composto (China continental): -0,96% (2.297 pontos)
- S&P/ASX 200: -1% (7.161 pontos)