PEC dos precatórios, com estouro do teto de gastos, foi a vilã para o prejuízo do fundo Verde, de Luis Stuhlberger, em 2021
Fundo Verde ganhou com posição em juros, cripto, commodities e moeda, em 2021
Em carta mensal aos investidores, a Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger, explica que o resultado negativo em 2021 de seu renomado fundo - o segundo em seus quase 25 anos de existência - foi fortemente influenciado pelos posicionamentos em ações brasileiras, afetadas pela aprovação da PEC dos Precatórios, leia-se permissão para estourar o teto de gastos. O fundo só havia fechado no vermelho em 2008, na crise financeira global.
O multimercado Verde encerrou 2021 com variação negativa de 1,13%, bem abaixo de seu benchmark, o CDI, que apresentou valorização de 4,40%. A alta de 2,14% registrada no último mês do ano contribuiu para minimizar as perdas.
Embora houvesse muita pressão, a gestora não apostava que o rompimento do teto de gastos fosse aprovado pelo Congresso, por considerar que os incentivos políticos para isso não compensavam. Fato que acabou se concretizando e atropelando em cheio a Bolsa de Valores, a B3, no segundo semestre do ano. E, por tabela, prejudicando o resultado do fundo Verde, que manteve uma exposição média comprada em torno de 27% no ano, e teve uma perda nessa carteira em torno de 21%.
Os gestores explicam que acertaram ao traçar um cenário com o avanço rápido da vacinação no País ao longo do ano, permitindo a reabertura da economia com aceleração do crescimento. Isso permitiria um aperto gradual dos juros, pelo BC, mas sem comprometer o valuation das empresas em carteira.
Embora tenhamos acertado a direção dos primeiros itens, e o mercado brasileiro tenha ido bem até meados de julho, no segundo semestre do ano a implosão do teto dos gastos pelo governo, via a PEC dos Precatórios, alterou de modo importante todo o equilíbrio macro e microeconômico do Brasil, afetando os preços dos ativos significativamente.
Verde Asset Management
Como consequência, as taxas de juros de longo prazo no País foram para níveis acima de 12%, contratando uma recessão para 2022 e afetando as taxas de desconto exigidas para qualquer ativo de risco no país.
O relatório também ressalta que o modelo de gestão do Verde sempre envolveu o investimento em ações. “Acreditamos que ao manter participação em excelentes companhias, podemos compor capital no longo prazo de maneira importante. Obviamente o Brasil é um país complexo, mas o investimento em companhias bem-geridas, com posições competitivas sólidas, sempre nos pareceu, e continua a parecer, uma boa alocação de capital.”
Principal erro da gestão do Verde
Durante toda sua história, iniciada em 1997, o fundo passou por outros momentos difíceis enfrentados pelo mercado acionário, mas conseguindo defender as perdas com posições de hedge em mercados de juros ou câmbio, ou em ambos.
Este foi nosso principal erro de gestão em 2021: não conseguir defender a enorme deterioração do mercado de ações brasileiro”.
Verde Asset Management
A gestora informa que ganhou dinheiro em juros, segmento que apresentou enorme movimento no ano, e ofereceu oportunidades para proteger o portfólio de ações. Os ganhos vieram tanto com posições tomadas na parte curta, quanto com compra de inflação implícita, mas foram pequenos perante a perda no restante do portfólio.
O mercado global trouxe alegrias e frustrações ao longo de 2021 para o Verde.” Tivemos bom retorno investindo em ações globalmente, mas com alocações pequenas”. As grandes posições macro foram nos mercados de juros dos países desenvolvidos, na ponta longa na Europa sendo as grandes ganhadoras do ano, e na curva americana sendo a grande frustração.
Além disso, o fundo ganhou com alocações de cripto, crédito, commodities e moeda. Embora pequenas, todas adicionaram valor ao fundo e seguem uma estratégia da gestão de diversificar a alocação de capital do Verde.
Perspectivas para 2022
Para a gestora, o ano começa com muitas incertezas, seja no cenário externo, onde é esperado o início de um crucial processo de aperto de política monetária nos EUA; seja no cenário interno, onde haverá uma eleição presidencial e toda complexidade que isso envolve, em meio a uma forte desaceleração da economia.
Com este pano de fundo, o Verde mantém posições compradas em ações em torno de 27,5% do portfólio (dos quais 23,5% no mercado local), posições tomadas em juros nos EUA e na Europa, alocação em juro real e inflação implícita no Brasil, e pequenas exposições compradas em rublo e petróleo.