Para gestora do ASA Hedge, PIB dos EUA deveria cair 1,5% para FED domar inflação
Economia dos Estados Unidos concentra as apostas dos principais fundos de multimercado, comprados em juros e vendidos em ações
Um estudo conduzido pela ASA Investments, gestora paulistana do banqueiro Alberto Joseph Safra, afirma que os Estados Unidos precisariam passar por uma recessão superior do que a estimada para, enfim, desacelerar a alta de preços.
A maior economia do mundo é hoje destino na alocação de dez em cada dez fundos macro de multimercado, como é o o ASA Hedge, carro-chefe da corretora, com R$ 2,22 bilhões administrados até esta quinta-feira, 23.
De acordo com o estudo da ASA, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos precisaria desacelerar 1,5% - bem mais do que o projetado pelo mercado para 2023 -, para puxar a taxa de inflação ao centro da meta estipulado pelo Federal Reserve (FED, o banco central americano), de 2%. Hoje a inflação americana roda em 6,5% em 12 meses.
Economistas projetam que os Estados Unidos enfrentarão recessão técnica com queda anual do PIB de 0,5% no segundo trimestre e de 0,2% no terceiro trimestre deste ano.
Segundo cálculos de Angelo Polydoro, economista da gestora, a recessão precisaria ser bem maior. Isso quer dizer que, na prática, o FED ainda está longe de concluir sua política monetária contracionista, com elevações de juros para frear a desvalorização do dólar.
"A gente vê que o mercado de trabalho nos Estados Unidos ainda está muito aquecido", diz Polydoro, em entrevista à Mais Retorno. "O índice de geração de vagas, versus desempregados está similar ao da pré-pandemia, em 2019. Isso aponta para uma economia bastante aquecida", diz.
A conclusão do economista, de certa forma. coincide com a última ata do banco central americano, divulgada na Quarta-Feira de Cinzas, que deixou a porta aberta para sucessivas altas de 25 pontos base (0,25%) ao longo de 2023.
Estratégia para o ASA Hedge
Os ventos que sopram do departamento de economia da ASA, apesar do cuidado da gestora em evitar conflitos de interesse, alimenta as estratégias do ASA Hedge, que após dois anos de muito sucesso começou o ano com revés em sua principal posição, a aposta na queda das ações americanas.
O fundo registra queda de 1,68% em 2023, tendo como seu principal algoz o S&P 500, que até ontem subia 4,50%. "O S&P 500 subiu mais de 6% (em janeiro) e causou a perda de 2,35% no book de ações (do período), pontuou Marcio Fontes, gestor do Asa Hedge, em carta endereçada aos investidores no começo de fevereiro.
O fundo existe desde setembro de 2014, lançado justamente por Márcio Fontes, na época dono da Itaim Asset. Fontes acertou em cheio ao prever, em maio de 2020, a alta de juros promovido pelo FED. Mais de 90% do fundo esteve alocado nessa posição, de alta de juros americanos curtos, de um a dois anos, ao passo que vendida, ou seja, apostando na queda da bolsa americana.
Em setembro do ano passado, a principal tese da gestora passou a ser a queda das ações americanas, estratégia que foi mantida, mesmo com as dificuldades do começo do ano.
Em um vídeo divulgado pela gestora, Marcio Fontes diz que apesar do revés recente, ele mantém a aposta na queda das ações americanas em 2023. "Devemos observar no segundo semestre (de 2023) uma certa recessão aparecendo por lá (nos Estados Unidos)".
Segundo ele, uma vez que entrar em recessão, o lucro das empresas cairá em torno de 15%, com impacto direto no valor das ações.
Corretora de banqueiro
A ASA Investments foi lançada em 2020 por Alberto Safra, um dos quatro filhos do falecido Joseph Safra.
Alberto Safra criou a ASA depois de deixar o banco de sua família em uma transição conturbada e que ainda ecoa. Recentemente, ele ingressou na Justiça dos Estados uma ação contra a mãe, Vicky Safra, e os irmãos Jacob e David. O motivo do litígio seria o espólio do pai, organizado em torno do SNBNY, holding que controla o Safra National Bank.
Com sede em São Paulo, a gestora lançou alguns produtos desde 2021, incluindo um fundo de estratégias de ações, distressed, renda fixa, previdência e imobiliário.