Economia

O ‘jogo da marmota’ e as ações do BC para conter o avanço do dólar

Enquanto a autoridade monetária tenta acertar o dólar, outros problemas vão surgindo, como a alta na taxa de juros do País

Data de publicação:18/10/2021 às 09:13 - Atualizado 2 anos atrás
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Continuamos observando uma boa correlação entre o DXY e o dólar ante o real, conforme observamos no gráfico abaixo, que mostra as cotações de fechamento semanal destas duas moedas - atualizado até 15/10/21.

Fonte: Wagner Investimentos

Os ‘motores’ que atuam em nossa moeda

No lado externo, o DXY está em tendência de alta no médio e longo prazo. Na semana passada, a cotação da moeda americana recuou para 93,75 - estimamos 93,50 - abrindo uma oportunidade interessante de compra.

Os dados sugerem que a inflação segue elevada e a atividade perde fôlego, fatos que beneficiam o dólar em meio ao discurso mais favorável ao aperto monetário do Fed.

No lado interno, as principais pautas seguem praticamente “congeladas” no Congresso, ou seja, sem votação da reforma do IR, do passaporte tributário, da reforma administrativa, da PEC dos precatórios, do fundo estabilizador para preços dos combustíveis e do Auxílio Brasil.

Na semana passada, a Câmara aprovou uma alteração na base de cálculo do ICMS sobre os preços dos combustíveis e a matéria seguiu para o Senado, onde enfrentará resistência para ser aprovada - e, se aprovada, será questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos Estados e municípios.

Espera-se para esta terça-feira, 19, a votação e aprovação da PEC dos precatórios na Comissão Especial da Câmara e talvez ainda nesta semana a votação no plenário da casa – ufa, será uma boa notícia!

Porém, ainda está sem solução a questão da substituição do auxílio emergencial, que terminará neste mês e, desta forma, cresce a pressão para a sua prorrogação ao menos até o final do ano.

Em resumo: os dois motores estão ligados para favorecer a subida do dólar!

Banco Central segue fazendo intervenções para segurar o avanço do dólar ante o real - Foto: Envato

Retrospectiva

CPI, inflação do consumidor (EUA) de setembro. O dado mostrou uma piora do quadro inflacionário. A diferença entre a inflação cheia e o núcleo da inflação segue aumentando, indicando que os preços dos alimentos e dos combustíveis continuam subindo e que as empresas ainda não repassaram estes custos para a maioria dos produtos.

Nos Estados Unidos e na zona do euro, é padrão analisar o núcleo da inflação, que exclui a variação dos preços dos itens considerados voláteis: alimentos e combustíveis.

A inflação da mediana mensal indica que mais da metade dos produtos subiu acima da inflação cheia. Para calcular a mediana - organizar em ordem crescente a série de dados de acordo com a variação mensal (ou anual) dos preços e o número que está no meio da série é a mediana.

No caso do CPI, há 465 preços coletados e, colocando esta série em ordem crescente de aumento de preços, a mediana será a variação de preço do item que está na posição 233 desta série de dados.

Conclusão: a alta dos preços está mais disseminada e a inflação mais resistente. Assim, a tese de inflação transitória pode se provar verdade, mas será preciso ampliar a ideia de transitório: de poucos meses para muitos meses!

Próximos eventos relevantes

  • 27 de outubro – reunião do Copom
  • 28 de outubro – PIB, primeira prévia do 3º trimestre (EUA)
  • 29 de outubro – PCE, inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central americano)
  • 03 de novembro – reunião do FOMC
  • 05 de novembro – pyyroll (EUA)
  • 21 de novembro – prévias do PSDB

Destaque da agenda: PIB dos Estados Unidos do terceiro trimestre, que mostra desaceleração da atividade, conforme observa-se no gráfico abaixo, elaborado pelo Fed de Atlanta.

Note que a projeção feita pelo modelo econométrico (“estatístico”) do Fed de Atlanta (linha verde) mostra que quanto mais dados são divulgados, menor é a projeção para o PIB! Na próxima semana saberemos a verdade, mas o número deverá vir em torno de 1,2%. A linha azul mostra a projeção realizada pelos 10 melhores economistas do país e esta projeção também vem caindo nas últimas semanas.

Caminhos para o dólar ante o real

Mais uma vez é importante deixar claro que o objetivo desta coluna é indicar os movimentos prováveis, não sendo, portanto, recomendação de operações.

A cotação não se aproximou de R$5,30 porque o Dollar Index caiu pouco e porque não tivemos avanço no Congresso. Porém, a cotação se aproximou de R$5,40 com as intervenções do Banco Central, que vendeu entre quarta-feira e sexta-feira da semana anterior cerca de US$ 1 bilhão em swaps por dia, totalizando US$3 bilhões de vendas de swap não esperadas pelos investidores.

A pergunta que fica é: se estas intervenções continuarem, o dólar vai cair muito? A resposta é provavelmente não, mas é importante comentar que ninguém sabe por quanto tempo o BC irá ofertar swaps novos e nem o total destas intervenções.

Se as intervenções forem frequentes e com volume alto, o dólar ante o real poderá cair para R$5,30 ou menos. Mas o ponto central é que se a queda for forçada, teremos distorções em outros mercados, principalmente no mercado de juros prefixados, que tenderão a subir. E juros altos travam as ações.

Jogo 'whac a mole' (jogo da marmota, em português) - Foto: Reprodução

Em resumo: todos nós já brincamos ou vimos alguém jogar o “whac a mole” (jogo da marmota). Assim, enquanto o BC acerta uma marmota (dólar), outras vão surgindo (como as taxas de juros), e no final, não dá para ganhar o jogo. Tentar segurar o dólar “na marra” provoca distorções em outros mercados.

Pode funcionar por um tempo, mas não é a solução e “queimará” parte de nossas reservas cambiais. Se o dóla ante o real cair de forma artificial, os compradores terão oportunidade de se “abastecerem”. Para o dólar cair no Brasil será preciso uma calmaria no dólar no mundo e a garantia de que o teto de gastos será preservado.

Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!

*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Jose Faria JúniorJosé Raymundo de Faria Júnior é economista graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em Administração pela Fecap. Sócio desde 2006 da Wagner Investimentos, possui as certificações financeiras CFP®️, CNPI, CGA e é Consultor de Valores Mobiliários.
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