Mesmo com IPCA alto, Selic deve ir para 4,25%, mas projeção de juros sobe mais para 2021
Copom deve manter decisão de alta de 0,75 ponto porcentual na Selic, mas mercado ajusta suas estimativas
A aceleração da inflação, como indicou o IPCA de 0,83% em maio, não deve mudar, na opinião de analistas, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa básica de juros, a Selic, na reunião da próxima semana. A previsão é que a Selic suba mais 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano, como adiantou o comunicado do Copom após o último encontro do colegiado, em maio.
O mercado financeiro, contudo, já reagiu, por iniciativa própria, ao IPCA acima do previsto pelos analistas. A Rio Bravo Investimentos elevou a estimativa de Selic para o fim de 2021. “Revisamos de 6,25% para 6,50%”, comunicou João Leal, economista-chefe da gestora. A Reag Investimentos seguiu o mesmo caminho, subiu de 5,50% para 6% ao ano a Selic projetada para o fim de 2021.
Nem a Bolsa nem o dólar deram atenção a uma inflação mais alta e fecharam em relativa estabilidade nesta quarta-feira. Um segmento do mercado financeiro que destoou dos demais ao IPCA acima do esperado foi o de futuro de juros, que passaram por forte ajuste. Os juros dos contratos negociados na B3 subiram em todos os vencimentos.
As taxas de juro embutidas em contratos para vencimento em 2023 tiveram elevação de 1,41%, para o patamar de 6,8% ao ano; vencimento em 2025, avançaram 1,03%, para 7,84%; em 2027, considerados a principal referência para o mercado, tiveram reajuste de 0,36%, para 8,33% ao ano, e para vencimento de 2030, alta de 0,7%, para 8,80%. Ajustes que refletem a expectativa de que a Selic continue em alta.
Especialistas comentam que, embora a inflação em 12 meses esteja em alta – a acumulada até maio chegou a 8,06% -, o Banco Central (BC) tem calibrado a Selic mirando a inflação de 2022 – e não mais a de 2021, que consideram dada. O boletim Focus, em sua última edição, projeta uma inflação pelo IPCA de 5,44% neste ano e de 3,70% para 2022.
Temor é que inflação siga em alta e juros subam mais
A economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, prevê que que a inflação mensal continue pressionada até julho, quando, avalia, a acumulada de 12 meses deve chegar ao pico. “O temor aumenta se, após esse esperado pico, a inflação não recuar a partir de agosto.”
A equipe de analistas da XP estima uma desaceleração da inflação a partir deste mês, com a acomodação da bandeira tarifária de energia elétrica e a estabilização dos preços de combustíveis – em junho, prevê-se que o IPCA recue para 0,52% e em julho, para 0,49%. “O resultado de hoje (IPCA de 0,83%) é consistente com nossa projeção de inflação de 6,2% para 2021”, segundo a XP, que manteve a Selic projetada em 6,50% para 2021.
Embora boa parte das análises de mercado compartilhe da avaliação do BC de que a pressão inflacionária é temporária, existem especialistas que não baixam a guarda. “Nada mais duradoura do que uma inflação temporária”, afirma Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.
Outro ponto ao qual os investidores vão dispensar atenção, porque tem potencial de influenciar positiva ou negativamente o mercado financeiro, é o comunicado que o BC divulga após a reunião do Copom da próxima semana, à procura de algum sinal que indique que pode vir eventual aperto mais forte nos juros. Não passaria despercebido dos mercados, segundo especialistas, se o BC suprimir a expressão referente à “normalização parcial da taxa básica”, repetida nos últimos comunicados.