Mercado Financeiro

Mercado deve avaliar os reais impactos de política monetária mais dura nos EUA nesta 5ª feira

Divulgação da ata do Fed só agravou clima negativo do mercado doméstico, preocupado com desarranjo fiscal

Data de publicação:06/01/2022 às 12:30 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro inicia os negócios desta quinta-feira, 6, avaliando ainda os reais impactos sobre os mercados, local e global, do tom mais duro adotado pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) na ata divulgada nesta quarta-feira.

A reação inicial à perspectiva de elevação mais rápida das taxas de juros nos Estados Unidos e de redução mais forte dos estímulos monetários em vigor para ativar a economia americana foi claramente negativa. As bolsas de valores recuaram nos mercados globais, os juros subiram e o dólar se valorizou perante as demais moedas, sobretudo de países emergentes.

Mercado reagiu com queda da bolsa e alta do dólar às sinalizações o Fed - Foto: Reprodução

A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o pregão com queda de 2,42%, em 101.005 pontos, diante da expectativa de que a possível elevação dos juros americanos drene recursos aplicados em ações para investimento em títulos de renda fixa. Um dos principais indicadores desse movimento, as taxas dos treasuries, os títulos de longo prazo do Tesouro americano, subiram e encostaram em 1,70%, após a divulgação da ata.

Nas bolsas americanas, o índice Dow Jones fechou com queda de 1,07%, o S&P 500 caiu 1,94% e o índice Nasdaq, da bolsa eletrônica, recuou 1,64%.

Os juros futuros de contratos negociados na B3 também subiram forte, movidos pela expectativa de juros mais elevados por mais tempo, na esteira de uma inflação persistente e duradoura, pressionada por um dólar mais valorizado perante o real.

O sentimento negativo dos investidores foi reforçado também por um cenário doméstico de preocupações crescentes com o rumo da economia e das contas públicas. O temor de um desarranjo fiscal cresce à medida que ganham destaque no noticiário declarações políticas em defesa da revisão do teto de gastos, de mudanças na lei de responsabilidade fiscal e pressões pelo aumento de gastos relacionado com o calendário eleitoral.

Mercado doméstico já vinha mal das pernas

Especialistas afirmam que as sinalizações do Fed sobre possível antecipação do aumento de juros apenas agravam as expectativas negativas no mercado financeiro alimentadas pelo cenário doméstico de incertezas fiscais. Além de monitorar com mais atenção o cenário fiscal doméstico, investidores e gestores devem acompanhar com redobrada atenção os próximos passos da política monetária americana sinalizada pela ata divulgada ontem pelo Fed.

Flávio de Oliveira, head de Renda Variável da Zahl Investimentos, diz que uma elevação dos juros atinge a economia dos países emergentes, mas, a menos que o humor azede de vez,  a Bolsa de Valores manteria apelo porque as ações estão baratas, descontadas. “O mercado já estava sofrendo com as ações mais correlacionadas com a economia, porque o quadro fiscal já não estava bom”, avalia Rodrigo Moliterno, head de Renda Variável da Veedha Investimentos.

Em sua opinião, as ações das empresas do setor de commodities tendem a ser menos atingidas, ou até ser beneficiadas, porque têm no que segurar um pouco, referindo-se ao possível aumento de pressão sobre o dólar.

Europa: dados econômicos do Reino Unido

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços do Reino Unido caiu de 58,5 em novembro para 53,6 em dezembro, atingindo o menor nível desde fevereiro do ano passado, segundo dados finais divulgados nesta quinta-feira pela IHS Markit em parceria com a CIPS. O resultado, porém, ficou acima da leitura preliminar de dezembro, de 53,2, e também da previsão de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, de 52,9.

Já o PMI composto britânico, que engloba serviços e indústria, recuou de 57,6 para 53,6 no mesmo período. Também neste caso, a estimativa prévia havia sido menor, de 53,2. Apesar da queda dos PMIs, as leituras acima de 50 seguem mostrando expansão da atividade econômica no Reino Unido, ainda que em ritmo mais fraco.

Na Ásia, bolsas fecham em baixa na esteira da ata do Fed

As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em baixa nesta quinta-feira, 6, seguindo os mercados acionários de Nova York, que ontem caíram de forma significativa após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sinalizar que poderá elevar suas taxas de juros antes do esperado.

  • Nikkei (Japão): baixa de 2,88%
  • Kospi (Coréia do Sul): baixa de 1,13%
  • Taiex (Taiwan): baixa de 0,71%
  • Xangai Composto (China continental): baixa de 0,25%
  • Shenzhen Composto (China continental): baixa de 0,10%
  • Hang Seng (Hong Kong): alta de 0,72%

O predomínio da aversão a risco na Ásia veio após as bolsas de Nova York caírem ontem em reação à última ata de política monetária do Fed. O avanço do PMI de serviços da China para 53,1 em dezembro, apontando expansão mais robusta do setor apesar de preocupações com a covid-19, acabou ficando em segundo plano.

Oceania

Na Oceania, a bolsa de Sydney sentiu o peso da ata do Fed, mas foi também afetada por dados mostrando que a Austrália registrou mais de 72 mil novos casos de covid-19 em um único dia, número recorde, em meio à disseminação da variante Ômicron. Em seu maior tombo desde setembro, o índice australiano S&P/ASX 200 caiu 2,74% hoje, a 7.358,30 pontos. / com Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.