Mercado ao vivo: Bolsa sobe, descolada do exterior, mesmo com produção industrial fraca
Produção industrial abaixo do esperado e payroll mais fraco não tiram a otimismo da bolsa brasileira e americana
Após fechar o dia anterior com a maior alta diária – 3,66% - dos últimos 18 meses, o céu segue ensolarado para a Bolsa nesta sexta-feira, 3. Um pouco mais aliviado após a aprovação da PEC dos Precatórios no Senado – que segue para uma nova tramitação na Câmara – o mercado agora está às voltas com a repercussão de novos dados econômicos globais.
Alguns deles vieram abaixo do esperado, porém, parece não estarem tirando o Ibovespa do terreno positivo, diferentemente do que acontece lá fora. Entre eles, a produção industrial do País, que apontou queda de 0,67% em outubro ante setembro, e o payroll de novembro nos Estados Unidos, com um volume inferior às apostas dos analistas. Às 13h28, o Ibovespa subia 0,85%, aos 105.363 pontos - ao longo do dia chegou a bater mais de 1% de valorização - devolvendo uma parte da alta do período. O dólar caía marginalmente 0,19%, cotado a R$ 5,649.
Nessa toada positiva no pregão, a valorização das ações dos grandes bancos também ajudam a impulsionar o principal índice da B3, assim como os da Petrobras, que são beneficiados pelo aumento do preço do petróleo. Juntos, os gigantes do setor financeiro respondem por cerca de 17% no peso da cesta de ativos do Ibovespa. Já a Petrobras, sozinha, responde por cerca de 10%. Às 14h41, o IFNC, índice financeiro da Bolsa que engloba essas empresas, subia 1,16% e a petroleira, 1,59%.
Durante a manhã, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou que a economia local criou 210 mil empregos, patamar muito inferior às apostas dos analistas, que esperavam 550 mil postos de trabalho. Por um lado, os dados mostram que o país não está com uma retomada vigorosa da sua atividade. No entanto, por outro, sinaliza ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que não é necessário ter pressa para fazer a retirada de estímulos da economia com mais ênfase.
No ambiente doméstico, o País aponta novos sinais de desaquecimento da economia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados durante a manhã, a produção industrial caiu 0,6% em outubro ante setembro. O número abaixo das expectativas dos analistas, que esperavam mediana positiva de 0,7%.
O indicador contabiliza a quinta queda consecutiva, somando recuo no período de 3,7%. Em relação a outubro do ano passado, o arrefecimento foi de 7,8%. Apesar disso, acumula alta de 5,7% no ano e no mesmo montante em 12 meses.
“Mais do que o resultado do mês em si, chama a atenção a própria sequência de resultados negativos, cinco quedas consecutivas na produção. A cada mês que a produção industrial vai recuando, se afasta mais do período pré-pandemia. Nesse momento, está 4,1% do patamar de fevereiro de 2020”, analisa André Macedo, gerente da pesquisa feita pelo IBGE.
Com o resultado do setor, algumas casas de investimento começaram a revisar suas projeções para o crescimento do País. A XP, em relatório, aponta queda em suas estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB). "Por ora, estimamos uma queda de 0,2% para o IBC-Br de outubro, em comparação a setembro e após ajuste sazonal".
Em relação à produção industrial, a casa espera uma redução gradual das interrupções na cadeia de suprimentos em 2022 que prejudicaram o setor. "O processo de reposição de estoques deve impulsionar a produção em atividades como a indústria automotiva. Por outro lado, o desaquecimento da demanda doméstica, decorrente da política monetária contracionista, aliada a uma expansão mais moderada da economia global, provavelmente impedirá que a indústria brasileira cresça de forma consistente no próximo ano".
De acordo com os especialistas da XP, a projeção é que a produção aumente em torno de 0,5%, após ter recuado 4,5% em 2020 e recuperado 4,3% em 2021.
Localmente, os investidores também acompanham os próximos passos da PEC dos Precatórios, que após ser aprovada em dois turnos no plenário do Senado, retorna para a Câmara para uma nova tramitação – o que, na visão de especialistas, deve acontecer sem grandes solavancos.
A aprovação da PEC dos Precatórios, que abre espaço no Orçamento para o governo bancar o Auxílio Brasil de R$ 400, não remove as preocupações com a fragilidade das contas públicas, mas acalma os mercados, já que clareia a fonte de financiamento do novo programa social.
Juros futuros
A sexta-feira começa com queda firme dos juros futuros diante da decepção com a produção industrial do País. Além disso, há incertezas sobre o impacto da variante Ômicron do coronavírus na economia global.
Por voltadas 12h40, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 caía para 11,35%, ante 11,45% na abertura do dia. O DI para janeiro de 2025 e também o de janeiro de 2027.
Sobe e desce da Bolsa
Nesta sexta-feira, o tom geral dos papéis no pregão é positivo. A começar pelos bancos, conforme dito anteriormente. Às 14h44, o Itaú, Bradesco e Santander subiam 0,65%, 0,39% e 0,91%, na sequência.
Nas commodities, as empresas operam mistas na Bolsa. Na contramão da Petrobras, o grupo das gigantes siderúrgicas da Bolsa registram queda. Às 14h45, a Vale, CSN e Usiminas recuavam 2,59%, 1,36% e 2,01%, nesta ordem. Somente a Gerdau estava no azul, com alta de 0,65%.
As empresas ligadas ao setor de turismo trafegam no terreno positivo, assim como as incorporadoras. No mesmo horário, os papéis da Azul, Gol e CVC subiam 2,47%, 4,99% e 0,75%, respectivamente. No setor imobiliário, o destaque fica para as companhias Eztec e Cyrela, que avançavam 4,89 e 6,12%, nesta sequência.
Após trafegar em alta boa parte da manhã - chegaram a subir mais de 4% - o Banco Inter mudou o sinal e opera no terreno negativo. Após anunciar que desistiu de fazer sua listagem na bolsa de Nova York, as ações da empresa caíam 0,80%, no mesmo período.
O destaque do bloco das ações em alta é a Méliuz, cujos papéis avançam mais de 18%, com a notícia de que a empresa bateu recorde histórico de vendas em novembro, com GMV de R$ 923 milhões.
Guedes: PEC e economia
Na véspera, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez várias declarações sobre diversos assuntos, entre eles a PEC dos Precatórios.
Segundo o chefe da Pasta, a versão inicial da proposta o agradava mais, mas admitiu que do jeito que o texto foi aprovado, acabou se tornando em um mal menor.
“Quer dizer, tudo que exceder o teto pode ser imediatamente pode ser transformado em poder liberatório para privatizações, investimentos, concessões e compras de participação do governo", disse Guedes.
Em relação ao cenário econômico, Guedes criticou os “pessimistas” e afirmou que parou de ler os jornais para não desanimar.
Para os construtivos, de acordo com o ministro, existe um Brasil que criou 3,5 milhões de empregos. A visão dos críticos, nas palavras dele, é a de que nada dá certo no País.
Além disso, disse que um dia "contará o segredo" de como reduziu o déficit público de 10,5% do Produto Interno Bruto para 0,5%.
Ele disse também que o maior “inimigo” da República brasileira hoje é o descontrole dos gastos públicos. Isso, de acordo com o ministro, levou o Brasil a hiperinflações, a uma moratória externa, a seguidos episódios de recessão e voos de galinha, a juros de dois dígitos e a aumentos de impostos.
A reforma administrativa foi outro tema no qual Guedes deu seu parecer. Em um tom de crítica ao entorno do presidente Jair Bolsonaro, o ministro disse que a “reforma administrativa ficou bastante desidratada e generosa para o funcionalismo atual”.
Guedes, no entanto, exaltou o papel do Congresso Nacional, que cooperou para interromper os reajustes de salários públicos ao longo do um ano e meio da crise.
Bolsonaro: modificações no Orçamento
O presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso um pedido para modificar o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2022 (PLOA 2022). Em nota, a Secretaria Geral da Presidência informa que as alterações foram solicitadas por alguns órgãos dos demais Poderes, em razão da necessidade de adequação orçamentária ainda durante a apreciação do projeto no Congresso.
As modificações propostas, informa o governo, totalizam R$ 140 milhões em acréscimos e igual valor em reduções. Deste total, R$ 1,7 milhão são do Poder Legislativo, R$ 21,9 milhões do Ministério Público da União; R$ 114,4 milhões do Poder Judiciário, com destaque para a criação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região, e R$ 2 milhões do Poder Executivo, em razão de ajustes para pagamento de sentenças judiciais de pequeno valor.
A Secretaria Geral informa que a meta de resultado primário não será afetada, assim como os limites individualizados do teto de gastos. O projeto que modifica o PLOA 2022 depende ainda de aprovação do Congresso Nacional.
Exterior negativo
Lá fora, após abrir em alta, o clima azedo tomou conta das bolsas americanas, com dados do payroll de novembro bem abaixo do esperado pelo mercado, conforme descrito anteriormente. Porém, a taxa de desemprego no país caiu para 4,2%, abaixo dos 4,6% de outubro. Os analistas esperavam uma taxa de 4,5%.
Na Europa, os mercados também seguem operando em queda, com novos dados econômicos publicados ao longo da manhã e a nova variante ômicron do coronavírus no radar, com novos casos sendo descobertos no continente.
O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviço da zona do euro avançou de 54,6 em outubro a 55,9 na leitura final de novembro, segundo pesquisa divulgada pela IHS Markit. Apesar do avanço, o resultado ficou aquém do indicador preliminar, de 56,6.
O PMI composto, que engloba serviços e indústria, se elevou de 54,2 a 55,4 na passagem de outubro a novembro, também abaixo da preliminar, que apontava para 55,8. De acordo com a consultoria, a expansão segue sólida no bloco da moeda comum, refletindo a resiliência do setor de serviços.
As vendas no varejo na região subiram 0,2% em outubro ante setembro, segundo dados publicados pela Eurostat. O indicador veio um pouco abaixo do aguardado pelos economistas, que apostavam em 0,3%. Na comparação anual, as vendas do setor do bloco tiveram expansão de 1,4%.
Na Alemanha, o PMI de serviços subiu de 5,24 em outubro a 52,7% na leitura final de novembro. O resultado superou a expectativa de analistas, que aguardavam 53,4. O PMI composto, que engloba serviços e indústria, avançou de 52 em outubro a 52,2 em novembro.
Segundo a IHS Markit, a maior economia da Europa teve crescimento "modesto" no mês passado, mas ainda enfrenta desafios, entre eles uma quarta onda de casos de coronavírus.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reiterou nesta sexta-feira que considera "improvável" que a autoridade monetária aumente as taxas de juros em 2022, em meio às expectativas de que a atual escalada inflacionária na zona do euro arrefeça nos próximos meses
Lagarde repetiu a previsão de que a inflação voltará à meta de 2% no ano que vem, à medida que os preços de energia caiam "significativamente" e os gargalos na cadeia produtiva sejam resolvidos gradualmente. Para ela, o BCE não deve agir contra um movimento temporário, uma vez que um aperto das condições reduziria o ritmo de crescimento econômico.
Ainda assim, ela explicou que, na reunião deste mês, o BC europeu "precisa" fornecer mais clareza ao mercado sobre os seus planos. Na visão da dirigente, dadas as circunstâncias atuais, o Programa de Compra de Emergência de Pandemia (PEPP, na sigla em inglês) deve terminar em março de 2022, conforme previsto.
Na Ásia, as bolsas já encerraram o pregão desta sexta-feira e concluíram o dia majoritariamente em alta – com exceção de Hong Kong, influenciada pela notícia de que a Didi Global vai sair da bolsa de Nova York e listar suas ações na China. / com Tom Morooka e Agência Estado