Em semana marcada por tensão no cenário político, Bolsa cai 2,27% e dólar avança 1,35%, aos R$ 5,26
Investidores seguem mais animados , refletindo o recuo do presidente Jair Bolsonaro quanto aos ataques aos Poderes
Numa semana marcada por temperaturas elevadas na esfera política e protestos com pautas antidemocráticas, a Bolsa fechou em queda de 2,27% em relação à última sexta-feira. Após as manifestações do 7 de Setembro, com ataques diretos de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), o Ibovespa despencou na última quarta-feira aos 113 mil pontos, patamar que não era observado desde março deste ano.
Depois de um recuo do presidente, em manifestação aberta à Nação afirmando que os ataques vieram "no calor do momento", o principal índice da B3 voltou a subir na quinta-feira. No pregão de hoje, dia 10, a Bolsa até começou o dia seguindo a trajetória de alta, mas não encontrou sustentação e fechou em queda de 0,93%, aos 114.285,93 pontos, acompanhando o exterior. Lá fora, os investidores estão preocupados com o fim de subsídios monetários do Fed e uma provável desaceleração da economia nos Estados Unidos.
Dólar avança
Acompanhando o clima de cautela dos investidores com o cenário político brasileiro, o dólar registrou uma valorização de 1,35% em relação à sexta-feira da semana passada.
No pregão de hoje, a moeda americana subiu 1,21%, cotada a R$ 5,26, pressionada, também, pela mau-humor do mercado internacional com as perspectivas de desaceleração econômica nos EUA e preocupação com o avanço da variante delta do coronavírus pelo mundo.
Sobe e desce na B3
Responsáveis por quase 17% da cesta de ativos do Ibovespa, as ações dos bancos caíram nesta sexta-feira. Itaú, Bradesco e Santander registraram variação negativa de 1,00%, 1,23% e 1,60%, respectivamente.
Depois de ficar em alta durante boa parte do dia, as ações da Petrobras - que chegaram a subir mais de 1% pela manhã - passaram a trafegar em baixa e fecharam com queda de 0,63%.
Nas mineradoras e siderúrgicas, o desempenho foi majoritariamente negativo. A Vale foi a única com alta em seus papéis, de 0,12%. Gerdau e Usiminas caíram 0,40% e 2,30%. Já a CSN, que durante a manhã anunciou a compra da Lagarde Holcim por US$1 bi, por meio da CSN Cimentos, registrou baixa de 1,32%.
A B3 informou nesta sexta-feira, via fato relevante, que está analisando uma possível emissão de títulos de dívida no mercado internacional. A notícia fez com que suas ações subissem 1,32%. A valorização foi até maior durante a tarde, quando chegou a atingir mais de 4%.
Os papéis da Raízen também fecharam em alta (1,40%), com o início de cobertura de seus ativos pelo UBS BB, que faz a recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 9,60.
Cautela
Segundo analistas, o aceno conciliador do presidente da República, Jair Bolsonaro, fornece algum fôlego para a recuperação aos ativos, apesar do ceticismo de analistas em relação à manutenção dessa trégua na briga com o Supremo Tribunal Federal (STF).
A carta à Nação, divulgada no dia anterior por Bolsonaro em tom conciliador, foi bem recebida, mas não deve eliminar a cautela do investidor, já acostumado às idas e vindas do presidente em sua retórica.
Por isso, os analistas se debruçam para traçar os possíveis cenários para a política e a economia daqui em diante. Estão no radar questões como reformas, teto de gastos, crise hídrica, inflação e ainda a possibilidade de paralisações de caminhoneiros.
"Apesar de ser coerente a atitude dos investidores ao final da tarde de ontem, visto que o cenário seguia muito ruim em virtude dos eventos do 7 de setembro, entendemos que o ambiente político-institucional ainda permanece extremamente delicado, não sendo possível, de forma alguma, descartar novas rodadas de deterioração", afirma a Renascença em relatório divulgado a clientes.
Mercado monitora crises econômica e política
A crise política divide a atenção dos investidores com a crise econômica, em que um dos pontos de preocupação do mercado é o controle das contas públicas, associada principalmente ao pagamento dos precatórios, uma conta que chegará a R$ 90 bilhões no ano que vem.
O temor de um descontrole fiscal, com possível furo do teto de gastos, tem sido um dos fatores alimentadores de inflação, em um momento que o IPCA vem em persistente alta. A inflação oficial de agosto avançou para 0,87%, puxando a acumulada em 12 meses para 9,68%.
Por isso, o mercado vem apostando em uma Selic cada vez mais elevada para o fim do atual ciclo de ajuste da taxa básica de juros.
As perspectivas também pressionam os juros no mercado futuro. A escalada dos juros, além de inibir o crescimento econômico por tornar o custo de investimento das empresas mais elevado, faz com que a renda fixa passe a concorrer com a Bolsa de Valores.
Em vez de comprar ações, em um momento que a Bolsa não acena com perspectiva de uma recuperação e alta mais consistente, o investidor passa a preferir uma aplicação com juros que acena com mais de 10% ao ano.
Recuo de Bolsonaro
Chamada de "Declaração à Nação", a carta assinada pelo presidente Bolsonaro prega harmonia entre os poderes, manifesta "respeito pelas instituições da República" e pela Constituição. No texto, ele reconhece que ninguém tem o direito de "esticar a corda" a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e a economia.
Trata-se de um recuo do chefe do Planalto em sua radicalização após o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, reagir ao discurso de Bolsonaro nas manifestações de 7 de setembro.
Fux alertou que desrespeitar decisões judiciais, uma promessa do presidente nos atos bolsonaristas quando o despacho saísse do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, configuraria crime de responsabilidade.
"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", diz Bolsonaro, na nota. "Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o País", acrescenta.
Contudo, apesar de ter dito na última terça-feira que não mais respeitaria despachos do magistrado, Bolsonaro afirma na nota que divergências devem ser resolvidas com medidas judiciais - ou seja, por meios de mecanismos recursais previstos na Constituição. "
Paralisação dos caminhoneiros: perda de força
A paralisação dos caminhoneiros está perdendo força. O Ministério da Infraestrutura informou nesta sexta-feira que apenas três Estados registraram ocorrências de concentração de caminhoneiros em rodovias federais na manhã desta sexta-feira: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia.
De acordo com o boletim atualizado, com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF),"não há pontos de interdição em rodovias federais" no momento, embora ainda haja aglomerações da categoria espalhadas pelo país e abordagem a outros veículos.
Nos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santos e Paraná não há mais qualquer ponto de retenção nas rodovias. Já no Mato Grosso e Pará há aglomerações sem prejuízo ao fluxo de veículos.
Este é o quarto dia de manifestações promovidas por caminhoneiros que são a favor do governo do presidente da República, Jair Bolsonaro, e contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na véspera, concentrações foram registradas em rodovias de pelo menos 16 Estados. Na maioria dos locais, apenas carros pequenos, veículos de emergência e cargas de alimentos perecíveis tiveram o trânsito liberado pelos manifestantes.
Segundo o Ministério da Infraestrutura, o número de ocorrências caiu 45% desde a noite anterior.
O presidente Jair Bolsonaro gravou um áudio pedindo aos caminhoneiros que liberem as estradas do País. Na gravação, Bolsonaro diz que a ação "atrapalha a economia" e "prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres". No dia anterior, ele se reuniu com caminhoneiros.
NY: bolsas no vermelho
No cenário externo, as bolsas de Nova York fecharam em queda, com os investidores preocupados com a desaceleração da economia por conta do avanço da variante delta e a retirada de estímulos pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Os índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq 100 recuaram 0,77%, 0,78% e 0,77%, na sequência.
Durante a manhã, o Departamento do Trabalho divulgou que o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) do país subiu 0,7% em agosto ante julho. O resultado veio um pouco acima do esperado pelos analistas, que previam um aumento de 0,6%.
Já o núcleo do PPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, avançou 0,6% na comparação mensal de agosto.
Na avaliação anual, o PPI teve alta de 8,3% em agosto, a maior marca desde que o indicador começou a ser calculado, em novembro de 2010.
O presidente do país, Joe Biden, telefonou para o presidente chinês, Xi Jinping, em meio a uma crescente frustração do governo americano com a baixa produtividade das discussões entre times dos dois lados desde o início da gestão do democrata.
A ligação, que ocorreu na noite de quinta-feira pelo horário de Washington, marcou apenas a segunda vez que os líderes conversam desde que Biden assumiu a presidência, há sete meses. As relações bilaterais, que já eram tensas, se deterioraram ainda mais neste período.
Em comunicado, a Casa Branca afirmou que Biden e Xi "tiveram uma ampla e estratégica discussão em que trataram de áreas em que nossos interesses convergem, e áreas em que nossos interesses, valores e perspectivas divergem".
Os mercados têm oscilado entre a esperança e a preocupação, à medida que a disseminação contínua do coronavírus mina a recuperação econômica e aumenta a inflação de choque de oferta, analisa Filipe Teixeira, sócio da Wisir Research, mesmo com os bancos centrais reafirmando uma postura acomodatícia.
Ainda assim, o mercado de ações americano está caminhando para a maior queda semanal desde 16 de julho, ameaçando fazer de setembro o primeiro mês deficitário desde janeiro.
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta generalizada nesta sexta-feira, reagindo à notícia de que os presidentes dos EUA e da China conversaram por telefone, após passarem meses sem fazer contato direto.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 1,25% em Tóquio, aos 30.381,84 pontos, enquanto o Hang Seng avançou 1,91% em Hong Kong, aos 26.205,91 pontos.
Já o sul-coreano Kospi valorizou 0,36% em Seul, aos 3.125,76 pontos, e o Taiex registrou alta de 0,98% em Taiwan, aos 17.474,57 pontos.
Na China continental, os ganhos foram modestos: o Xangai Composto subiu 0,27%, aos 3.703,11 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,31%, aos 2.502,02 pontos.
Os ganhos na região asiática vieram também um dia após o Banco Central Europeu (BCE) decidir recalibrar as compras de ativos do programa emergencial conhecido como PEPP, evitando o chamado tapering.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul, recuperando-se parcialmente da forte queda do pregão anterior. O S&P/ASX 200 avançou 0,50% em Sydney, aos 7.406,60 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado