Bolsa cai 0,78% com bancos e perde patamar dos 120 mil pontos; dólar recua e vai a R$ 5,187
Investidores digerem os dados econômicos locais e mantêm a atenção no cenário político e fiscal
A Bolsa fechou em queda de 0,78% nesta segunda-feira, 30, puxada pelos bancos e com os investidores digerindo os últimos dados econômicos locais divulgados no período da manhã. O Ibovespa perdeu o patamar dos 120 mil pontos - aos 119.739,96.
Nesta segunda-feira, os bancões, que juntos respondem por cerca de 17% da carteira teórica da B3, registraram baixa. Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil caíram 0,78%, 1,20%, 0,91% e 1,05%, respectivamente.
A desvalorização nos papéis dos bancos acontece um dia após o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal terem comunicado sua saída da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Segundo especialistas, desagregação do setor, receio de retaliação com mais impostos e ingerência política estão entre as principais preocupações do mercado com a saída dos bancos públicos da Febraban.
As mineradoras e siderúrgicas fecharam majoritariamente também em baixa e as ações da Vale, CSN e Gerdau recuaram 0,64%, 2,14% e 0,97%. Na contramão, os papéis da Usiminas subiram 0,76%.
Ainda no universo das commodities, as petroleiras também caíram. Petrobras e PetroRio registraram 0,67% e 0,52% de variação negativa.
As ações da Multilaser avançaram 1,18% com a notícia de que a XP e o Bank of America (BofA) iniciaram a cobertura das ações da companhia.
Com o anúncio do novo diretor-presidente do grupo, que agora passa a ser comandado por Mauricio Cascão, as ações da Mosaico dispararam 7,60%.
Novos dados econômicos
Considerado a inflação do aluguel, o IGP-M manteve o viés altista em agosto. De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, o índice subiu 0,66% no período, contra 0,78% no mês anterior. Em 12 meses, o índice acumula elevação de 31,12% e de 16,75% no ano.
Em agosto do ano passado, o índice havai subido 2,74% e acumulava alta de 13,02% em 12 meses, de acordo com o instituto. Para o coordenador dos Índices de Preços do Ibre, André Braz, “se não fosse a crise hídrica, o IGP-M apresentaria desaceleração mais forte”.
Durante a manhã, o Banco Central divulgou as novas estimativas dos economistas do mercado para os principais índices da economia brasileira para 2021, 2022 e 2023. Segundo o Boletim Focus os especialistas subiram as projeções do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano de 7,11%, na última semana, para 7,27%. Há um mês, era de 6,79%.
Esse ajuste para cima é mais um passo dos economistas que coloca a inflação cada vez mais longe da meta do Banco Central de 3,25%, com 1,5% de margem para cima ou para baixo.
Já a estimativa da Selic, taxa básica de juros do País, ficou estacionada em 7,50%, seguindo as projeções do boletim da semana anterior.
E para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, as expectativas seguem baixando o desempenho da economia, de acordo com os economistas que participaram do Focus. De 5,27%, caíram para 5,22%.
Dólar em queda
O dólar fechou em leve queda de 0,24% nesta segunda-feira, cotada a R$ 5,187.
Os investidores monitoraram a desaceleração do IGP-M de agosto, mas a piora nas projeções para IPCA para 2021 e 2022 no relatório Focus pesa mais, além da confirmação da manutenção da bandeira vermelha patamar 2 para as contas de luz de setembro, cujo valor ainda será definido pela Aneel, agência reguladora do setor de energia, e fica no radar.
O mercado passou o dia, também, acompanhando os desdobramentos do aviso de saída do Banco do Brasil (BB) e da Caixa da Febraban, depois que a instituição assinou manifesto da Fiesp criticando o governo.
A disputa técnica em torno da taxa Ptax do fim de agosto pode deixar o dólar volátil, principalmente nesta terça-feira quando a taxa será definida. A Ptax de amanhã servirá na quarta-feira, 1, para os ajustes de contratos cambiais e de resultados corporativos do período.
Cenário político e fiscal
Investidores e gestores de mercado digeriram os dados econômicos sem deixar de monitorar de perto os lances da crise política, temperada pelos ataques do presidente Bolsonaro contra representantes de outros Poderes, neste fim de semana, e por ameaças de ruptura institucional. Especialistas comentam que o acirramento dos riscos políticos e fiscais pode prejudicar principalmente o crescimento econômico de 2022.
O presidente Jair Bolsonaro repetiu, no último sábado, 28, críticas às medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que atingiram bolsonaristas.
Ao falar que não deseja e nem provoca rupturas, o chefe do Executivo desse que “tudo tem um limite na nossa vida”. Sobre os atos programados para o feriado de 7 de setembro, o presidente fez uma espécie de provação e convidou “qualquer um” dos 11 ministros a subir com ele no caro de som e “falar com o povo brasileiro”.
O convite do presidente a outras autoridades ocorre enquanto gestores estaduais, municipais, parlamentares e ministros estão em alerta com as manifestações previstas.
Do lado fiscal, as atenções da semana ficam nas negociações envolvendo o pagamento de precatórios, reforma do IR e aumento do Bolsa Família. O governo tem até esta terça-feira, 31, para enviar ao Congresso o projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2022, mas a questão dos precatórios devidos pela União no próximo ano, de quase R$ 90 bilhões, segue indefinida.
NY: bolsas no azul
Em Nova York, os contratos negociados nas bolsas locais fecharam majoritariamente em alta, com os investidores repercutindo ainda as falas do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) no simpósio Jackson Hole, durante a última sexta-feira, 27.
O índice S&P 500 apontou alta de 0,43% e Nasdaq 100 subiu 1,12%. Já Dow Jones recuou 0,16%.
Durante o discurso, Powell admitiu a possibilidade do início da redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos já em 2021, caso a economia siga crescendo.
O dirigente adotou um tom mais leve em relação aos outros membros do Fed, ao alertar para o impacto “particularmente prejudicial” de um aperto monetário prematuro neste ano, em que ao mercado de trabalho no país ainda se recupera e os casos de coronavírus sobem diante da disseminação da variante delta.
Em suas considerações, Powell também reforçou que vê o atual avanço da inflação do país como transitório. Ele ainda afirmou que os critérios para uma eventual elevação da taxa básica de juros nos Estados Unidos são mais rigorosos que para o tapering.
Segundo a BMO Capital Markets, essa afirmação foi uma tentativa do presidente do Fed de dissociar as discussões sobre o aperto monetário por meio desses dois instrumentos.
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta modesta nesta segunda-feira, após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, sugerir que não terá pressa de elevar juros em discurso no fim da semana passada.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 0,54% em Tóquio, aos 27.789,29 pontos, enquanto o Hang Seng avançou 0,52% em Hong Kong, aos 25.539,54 pontos.
O sul-coreano Kospi se valorizou 0,33% em Seul, aos 3.144,19 pontos, e o Taiex registrou ganhos de 1,08% em Taiwan, aos 17.396,52 pontos.
Na China continental, o Xangai Composto teve alta de 0,17%, aos 3.528,15 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto ficou perto da estabilidade, com ligeiro acréscimo de 0,06%, aos 2.441,11 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul nesta segunda-feira, favorecida por ações de mineradoras e petrolíferas. O S&P/ASX 200 avançou 0,22% em Sydney, aos 7.504,50 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado