Mercado ao vivo: Bolsa opera entre perdas e ganhos e dólar sobe 1,2% com PIB fraco da China
Investidores adotam cautela com avanço das projeções da inflação e mau humor dos mercados internacionais
Após fechar a semana em alta, a Bolsa opera próximo da estabilidade nesta segunda-feira, 18, puxada pelo cenário internacional, cuja notícia principal é a desaceleração da economia chinesa, o que ajuda a azedar o humor por lá. O PIB do país cresceu 4,9%, abaixo da expectativa do mercado e com bem menos força sobre o trimestre diretamente anterior - 7,9%.
Soma-se ao cenário de influências a desvalorização das ações das principais empresas de commodities da Bolsa, como a Vale - queda de mais de 1,4%, refletindo a baixa no preço do minério de ferro. Às 16h30, o Ibovespa apontava alta marginal de 0,02%, aos 114.669,01 pontos. Já o dólar subia 1,21% - cotado a R$ 5,521.
Sobre a China, os números divulgados nesta segunda-feira reforçam a tese dos especialistas sobre o arrefecimento da economia do país. O crescimento de 4,9% registrado no terceiro trimestre, de acordo com dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), considerado um arrefecimento, foi influenciado não somente pela escassez de energia, mas também pelos impactos dos setores de construção civil e tecnologia.
A produção industrial do país cresceu 3,1% em setembro sobre o mesmo período de 2020, enquanto o mercado esperava uma taxa positiva de 3,8%. Já as vendas no varejo aumentaram 4,4% no mês, ante o ganho anual de 2,5% visto em agosto, e superou o consenso dos analistas, que aguardavam um acréscimo de 3,4%.
A fala do presidente do banco central da China, Yi Gang, sobre a atuação das autoridades para evitar contágio da crise de liquidez da Evergrande no mercado chinês, não reduziu o estresse.
Gang afirmou na véspera que as autoridades do país têm atuado para evitar o contágio da crise de liquidez da incorporadora Evergrande sobre outras empresas do setor imobiliário e, com isso, prevenir possível risco sistêmico.
Refletindo essa desaceleração, as bolsas americanas operam mistas, juntamente com a notícia de que a produção industrial dos Estados Unidos caiu 1,3% em setembro ante agosto, segundo dados do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), cujo dado frustrou a expectativa dos analistas, que esperavam variação positiva de 0,2%.
Além da queda de setembro, o Fed também revisou para baixo o resultado da produção industrial de agosto sobre julho, de alta de 0,4% para redução de 0,1%. Já a taxa de utilização da capacidade instalada caiu um ponto porcentual em setembro - 75,2% - contrariando previsão de avanço a 76,5%. A de agosto foi revisada para baixo - de 76,4% para 76,2%.
Inflação no Brasil
No cenário local, a cautela do mercado também se traduz por conta da piora das projeções do mercado para a inflação e o PIB do País. As estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sofreram o 28º ajuste altista consecutivo feito pelos economistas, segundo dados do Boletim Focus, divulgado nesta manhã pelo Banco Central.
De acordo com o documento, as expectativas do IPCA de 2021 avançaram de 8,59%, na última semana, para 8,69%, ante 8,35% há quatro semanas. Para 2022, foram elevadas levemente de 4,17% para 4,18%, e se mantiveram em 3,25%.
No sentido oposto, as estimativas para o crescimento do País (PIB) até o final deste ano seguem arrefecendo, de acordo com o Focus. De 5,04%, nos sete dias anteriores, caíram para 5,01%. E de 1,54% para 1,50% em 2022. No ano seguinte, também foram ajustadas para baixo: de 2,20% recuaram para 2,10%.
Já as projeções para a Selic, taxa básica de juros, ficaram estacionadas em 8,25% para 2021 e em 8,75% para o ano seguinte.
Juros futuros
Os juros futuros dispararam na abertura desta segunda-feira, 18, chegara a perder força e voltavam a renovar máximas. A pressão vem da cautela no exterior após dados fracos da China, que se reflete em dólar em alta ante outras moedas emergentes e juros dos Treasuries mais fortes.
Sobe e desce da B3
Nesta segunda-feira, assim como a Vale, as companhias siderúrgicas operam em forte queda, seguindo a baixa no preço do minério de ferro na China. Às 14h06, os papéis da CSN e Usiminas recuavam 3,91% e 3,86%, na sequência. Já a Gerdau seguia no caminho contrário, com leve alta de 0,25%.
No sentido oposto, o grande destaque do pregão é a disparada das ações da Americanas, após a empresa comunicar que está negociando a reorganização das companhias - Americanas S.A, Lojas Americanas e operação da bolsa americana - em uma única base acionária. Às 14h08, os papéis da companhia saltavam mais de 21%.
No viés de baixas, a Eztec vive um dia de desvalorização de mais de 2,8% em seus papéis - dados atualizados às 14h11 - após a divulgação de sua prévia operacional do terceiro trimestre, que apontam uma queda de 23,6% nas vendas líquidas na base anual, somando R$ 255 milhões.
Outra baixa forte da B3 nesta segunda-feira vem dos papéis do Enjoei, que despencam mais de 7,6%, com a notícia de que o volume bruto de vendas (GMV) da companhia cresceu 46% no terceiro trimestre, somando R$ 199 milhões.
Peso no pregão
As incertezas com o cenário fiscal, contudo, é um dos fatores que continuam inibindo uma recuperação do mercado de ações. Um dos nós da questão fiscal, a indefinição sobre o pagamento de precatórios, poderia começar a ser desatado, de acordo com especialistas.
Nesta terça-feira, dia 19, a Comissão da PEC (Proposta de Emenda à Constituição nº 23/21) se reunirá para votar o parecer o relator, deputado Hugo Motta.
As indefinições sobre a acomodação das despesas do programa social do governo, Auxílio Brasil, também seguem incomodando os investidores. No dia anterior, o ministro da Cidadania, João Roma, garantiu que o governo terá “zelo fiscal” na implementação da iniciativa, que deve beneficiar perto de 17 milhões de pessoas e ficar na média de R$ 300 ao mês.
Os dois números são maiores do que o programa atual, que atende 14,6 milhões de pessoas, com pagamento mensal de R$ 190 na média.
Caminhoneiros: nova greve
Para ajudar a elevar a tensão nos mercados, os caminhoneiros estão ameaçando fazer uma nova paralisação no país. A categoria se diz em "estado de greve" desde o último sábado, 16, e, durante o fim de semana, líderes de entidades do setor fizeram críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
Nesta segunda-feira, as associações prometem entregar uma lista de reivindicações para o governo. Segundo as entidades, sinalizações positivas são necessárias para evitar paralisação nacional a partir de 1º de novembro. O governo, porém, minimiza a mobilização.
O governo federal vê a mobilização como ameaças feitas antes - e que mais uma vez não devem ser cumpridas. De acordo com uma fonte entrevistada pelo jornal O Estado de S.Paulo, desde 2018 já foram 16 tentativas de paralisação malsucedidas, sendo quatro delas neste ano. Oficialmente, porém, o governo não comentou o assunto.
A estratégia dos líderes da categoria tem sido subir o tom. "Serei o primeiro (a parar em 1º de novembro)", disse o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, um dos organizadores do movimento.
O documento com reivindicações a ser entregue ao governo será assinado pela Abrava, pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL). Conforme as entidades, é a primeira vez desde 2018 que as três associações atuam juntas em um mesmo movimento.
"A nossa pauta é a mesma desde os atos de 1º de fevereiro. Não é um assunto novo para o governo nem para o STF ou para o Legislativo, que conhecem nossas demandas", afirmou o diretor da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer.
"Agora, ou o governo senta com a categoria para fazer um trabalho, chama as partes envolvidas - Petrobras, STF, Congresso - ou paramos o País", completou o presidente do CNTRC, Plínio Dias, em referência ao movimento ocorrido em 2018, ainda durante o governo Michel Temer.
Não é descartada por parte dos líderes dos caminhoneiros uma flexibilidade no cumprimento de todas as demandas feitas ao governo. Contudo, as lideranças dizem querer ver direcionamento em torno de medidas concretas. "Estamos cansados de reuniões. Tentamos fazer articulação, mas a própria categoria não aguenta mais", afirmou Chorão.
Lira: ‘driblando’ o impeachment
No cenário político local, o presidente da Câmara, Arthur Lira, segue “driblando” o pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
No final da semana passada, Lira pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a rejeição da ação que cobra a definição de prazo para a análise dos pedidos feitos contra o presidente da República.
No documento enviado à Corte, o parlamentar chama o processo de "solução extrema" e argumenta que questões regimentais devem ser analisadas pelo Congresso, e não pelo Poder Judiciário.
"Não há que se falar em prazo determinado em sede constitucional para que denúncia por crime de responsabilidade imputada ao Presidente da República seja examinada pela Presidência da Câmara dos Deputados", declarou Lira no documento.
A ação em discussão foi apresentada pelo PDT com o objetivo de obrigar Lira a pautar ao menos um dos mais de 130 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. O relator do caso é o ministro Kassio Nunes Marques, indicado pelo atual chefe do Executivo ao Supremo.
CPI da Covid: leitura do relatório adiada
A finalização dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado mantém o mercado atento. Porém, um dos momentos mais esperados, que é a leitura do relatório final da comissão, teve a data de execução adiada. Inicialmente, estava marcada para esta terça-feira, 19, com votação no dia seguinte, na quarta-feira, 20.
No documento final, de acordo com o relator da CPI, Renan Calheiros, constam 11 crimes cometidos pelo chefe do Executivo durante a atuação de enfrentamento da pandemia. Segundo ele, os crimes serão descritos e contextualizados no documento final a partir da conduta do presidente.
De acordo com o relator, os crimes pelos quais o presidente será indiciado são: epidemia com resultado morte; infração de medidas sanitárias; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documento particular; charlatanismo; prevaricação; genocídio de indígenas; crimes contra a humanidade; crimes de responsabilidade; e homicídio por omissão.
Esse último, em específico, refere-se "ao descumprimento do dever legal do presidente de evitar a morte de milhares de brasileiros durante a pandemia", disse o senador.
Além do presidente, mais de 40 outras pessoas serão indiciadas pela CPI, de acordo com o senador. "São personagens que tiveram óbvias participações no enfrentamento da pandemia, [na produção] de fake news e no gabinete do ódio, que funcionou durante a pandemia", afirmou o senador.
O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e o coronel Élcio Franco, ex-secretário-executivo da pasta, responsável pelas aquisições de vacinas fazem parte dessa lista.
Do outro lado do mundo
Voltando ao exterior, do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em baixa nesta segunda-feira, após a China divulgar números de crescimento mais fracos do que se esperava, realimentando temores sobre o grau de recuperação da economia global após os impactos da pandemia de covid-19.
O índice chinês Xangai Composto recuou 0,12%, aos 3.568,14 pontos, enquanto o japonês Nikkei caiu 0,15% em Tóquio, aos 29.025,46 pontos.
O sul-coreano Kospi desvalorizou 0,28% em Seul, aos 3.006,68 pontos, e o Taiex registrou perda de 0,45% em Taiwan, aos 16.705,46 pontos.
O Produto Interno Bruto (PIB) da China teve expansão anual de 4,9% no terceiro trimestre, menor do que o avanço de 5,1% esperado por analistas e mostrando forte desaceleração em relação ao aumento de 7,9% visto no segundo trimestre.
Os últimos números chineses de produção industrial também decepcionaram em meio à recente crise energética, mas os de vendas no varejo surpreenderam positivamente.
Alguns mercados da Ásia, porém, tiveram leves ganhos nesta segunda. O Shenzhen Composto, índice chinês formado por empresas de menor valor de mercado, terminou o pregão em alta marginal de 0,06%, aos 2.402,04 pontos, e o Hang Seng subiu 0,31% em Hong Kong, aos 25.409,75 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul, favorecida por ações dos setores minerador e bancário. O S&P/ASX 200 avançou 0,26%, aos 7.381,10 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado.