Fed inicia o “tapering” e o que devemos esperar para o dólar?
A piora do ambiente fiscal no Brasil e o inicio do processo de redução de compras de ativos pelo Fed (“tapering”) provocou uma desvalorização relativamente acentuada…
A piora do ambiente fiscal no Brasil e o inicio do processo de redução de compras de ativos pelo Fed (“tapering”) provocou uma desvalorização relativamente acentuada do dólar/real conforme podemos observar no gráfico abaixo, que mostra as cotações de fechamento semanal destas duas moedas (atualizado até 04/11/21). Note que a distância entre as linhas reduziu drasticamente, deixando o dólar mais forte.
Sobre os “dois motores” que atuam em nossa moeda:
Motor externo: o DXY está em tendência de alta de médio prazo e de longo prazo e não está muito distante da máxima do ano. O Fed começou o processo de normalização monetária ao iniciar a redução das compras de ativos.
A inflação segue muito elevada, bem acima do objetivo do Fed, mas a autoridade monetária insiste na tese de inflação transitória e acredita que os preços recuarão para a meta de longo prazo daqui alguns meses, com a normalização das cadeias de suprimentos. Assim, não esperamos uma alta muito forte do dólar enquanto o Fed mantiver esse discurso. Caso o Fed capitule e mude o discurso, aí sim, o dólar terá mais força para subir.
Motor interno: o Congresso segue produzindo muito pouco, principalmente o Senado. O principal tema é a PEC dos precatórios, que foi aprovada em primeiro turno na Câmara e ainda tem um longo caminho para ser aprovada com o texto original.
A Reforma Administrativa e a Reforma Tributária deverão ficar para o próximo governo, uma pena, pois são temas muito importantes para o desenvolvimento do nosso país. Algumas reformas microeconômicas devem ser aprovadas, mas é muito pouco para deixarmos otimistas do ponto de vista macroeconômico.
O Banco Central subiu a Selic para 7,75%, mas ficou “refém” do mercado, que exige uma Selic de dois dígitos para compensar um desajuste fiscal. A melhora nas contas não é considerada devido o discurso muito ruim do governo.
Mansueto Almeida, economista do BTG Pactual e ex-Secretário do Tesouro Nacional, explica porque é muito importante se comunicar de forma clara e objetiva, garantido que o furo no teto de gastos será apenas em 2022 devido a um mecanismo de transição de saída da pandemia. Ou seja: que não haverá mais mudanças nas regras fiscais. Vale a pena assistir ao vídeo indicado no link abaixo! https://www.youtube.com/watch?v=bJ9Zg3hkwW0&ab_channel=BTGPactualdigital.
Em resumo: os dois motores estão ligados para favorecer o dólar a subir!
Retrospectiva
Reunião do FOMC de 03 de novembro: o Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC) decidiu iniciar a redução das compras de ativos (“tapering”) a razão de $15 bilhões por mês e, desta forma, o atual programa deve ser extinto em junho de 2022. O programa atual prevê compras mensais de títulos de U$120 bilhões.
Jerome Powell, presidente do Fed, disse na coletiva de imprensa que “achamos que podemos ser pacientes (para subir os juros). Se houver necessidade de uma resposta, não hesitaremos” e que não é um bom momento para subir os juros “porque queremos que o mercado de trabalho se recupere ainda mais”.
O comunicado pontua que “a inflação está elevada, refletindo em grande parte fatores que se espera sejam transitórios. Os desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia e a reabertura da economia contribuíram para aumentos consideráveis de preços em alguns setores”.
Conclusão: o Fed iniciou a redução dos incentivos e acompanhar a evolução da inflação nos próximos 6 a 9 meses será essencial para entender o movimento do dólar no mundo. Se a inflação se provar transitória, o dólar terá pouco espaço para subir porque o Fed somente deverá subir os juros em 2023. Caso contrário, se a inflação se provar estrutural, o dólar irá subir mais (e as bolsas devem cair) devido a antecipação da alta dos juros.
Próximos eventos relevantes:
• 05 de novembro – Payroll (EUA)
• 10 de novembro – CPI (EUA) e IPCA (Brasil)
• 21 de novembro – prévias do PSDB
• 08 de dezembro – reunião do Copom
• 15 de dezembro – reunião do Fed (comunicado, conferência de imprensa e novas projeções)
Caminhos para o dólar/real
Na última coluna comentamos que o dólar/real caminhava para a faixa de R$ 5,70 e que as intervenções do Banco Central seriam inócuas. De fato, foi exatamente isso o que aconteceu. Do ponto de vista de tendência, deveremos ver o dólar/real pressionado para cima.
Há muitas dúvidas na cabeça dos investidores. Certamente a aprovação da PEC, sem que essa seja desconfigurada por emendas, será um passo importante para acalmar o mercado.
Além disto, será preciso melhorar a comunicação para que os investidores acreditem que a mudança na regra do teto de gastos ocorreu com a necessidade de elevar os gastos sociais devido a pandemia e com o volume financeiro muito elevado dos precatórios e que o compromisso fiscal permanece.
Naturalmente, o cenário eleitoral pesou a favor do aumento de gastos, tema que abordamos na coluna de 08 de junho e que será atualizado em breve https://maisretorno.com/portal/entenda-por-que-o-dolar-esta-caindo-e-o-real-esta-se-valorizando A maior dificuldade de acreditar no compromisso fiscal de longo prazo ocorre devido o cenário eleitoral, já que há candidatos defendendo o fim das âncoras fiscais.
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
Abraços,
José Faria Júnior
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