Ouro cai 6,3% desde o início da guerra, mas desempenho dos fundos com o metal é melhor
O ouro não está fraco só no mercado doméstico, lá fora a cotação cai 0,37% em março
Já foi o tempo em que o ouro era muito procurado para proteção em momentos de tensão. Mesmo com o conflito no Leste Europeu, com a inflação acima de dois dígitos no País e com incertezas trazidas por um ano de eleições, o desempenho do metal é fraco, sem conseguir sequer blindar o investidor da inflação.
Desde o início da guerra, na B3 a cotação do grama caiu 6,31%, de R$ 313,26, no dia 25 de fevereiro, para R$ 293,56, nesta segunda-feira, 28. O tombo é maior no ano, de 9,70%. Segundo especialistas no setor, o protagonismo do mercado está com aplicações de renda fixa e algumas opções em ações, com forte concorrência e sem deixar espaço para o ouro.
Já os fundos de investimento, sobretudo os que se protegem da oscilação do dólar, o resultado é melhor. Alguns com valorização de quase 5% neste mês.
Exterior
Mesmo no exterior, o ouro também não parece se encaixar mais no papel de principal guardião do patrimônio. Embora seja uma commodity escassa e por isso tenha seu valor intrínseco, o ouro parece estar sendo considerado mais para uma diversificação e proteção de uma pequena parcela do patrimônio.
Em março, a cotação do onça-troy (31,104 gramas) caiu 0,37% em Nova York: no dia 2, o ouro valia US$ 1.922,30, e no dia 29, US$ 1.9115,10. Considerando o início da invasão da Ucrânia, a valorização do onça-troy foi de apenas 1,43%.
Foi no dia 8 de março que as cotações alcançaram o pico nesse período do conflito, tanto no mercado internacional como na B3: o grama foi cotado aqui a R$ 333,45, e lá o onça-troy ultrapassou a marca dos US$ 2 mil (2.043,30). Nesse dia, a Polônia sugeriu enviar aviões de combate à Ucrânia e foram anunciadas sanções do Ocidente à Rússia, com o conflito ganhando novas e maiores dimensões.
Redução da oferta de ouro
Flávio de Oliveria, head de Renda Variável da Zahl Investimentos, chama a atenção para o fato de que a Rússia é um produtor de ouro e outros metais e com a guerra houve uma redução da oferta dessas commodities. Portanto, a valorização do metal, em sua opinião, está mais ligada a esse fato do que propriamente ao aquecimento do mercado por aumento da demanda.
Ele explica que uma alocação em ouro se justifica quando há uma percepção do investidor de que a economia vai mal, sem perspecitvas de valorização das ações, ou de que não há possibilidade de ganho real com os juros, ou com as operações de crédito para empresas.
Só que o cenário neste ano esteve bem longe dessas condições: "A Bolsa de Valores ficou tão barata que nem a guerra impactou." Ao mesmo tempo, lembra Oliveira, há recursos no mundo com endereço certo para os emergentes, e o Brasil conta com uma matriz parecida com a da Rússia.
Com o fechamento da bolsa russa, a brasileira foi favorecida e diante dessa perspectiva o investidor vende o ouro para embrarcar nessa valorização. Esses são, no entanto, movimentos especulativos que aproveitam oportunidades. Já para a formação de uma carteira com alocação estrutural, o especialista recomenda ter o ouro como proteção e na proporção de 5% a 10% do patrimônio.
Os fundos de investimento
Os fundos do setor podem ter vários ativos, mas sua carteira deve ser formada preponderantemente por ouro.
Além disso, há outras diferenças entre os fundos: eles podem ter na carteira o ouro cotado em reais, sem sofrer com a variação cambial, ou ter o ouro com cotações atreladas ao dólar, ficando exposto também à variação cambial. Esses últimos foram mais penalizados com a queda do dólar, especialmente neste ano.
No estudo exclusivo da Mais Retorno, foram considerados oito fundos de ouro do mercado, usando a sua mais recente ferramenta, o "Comparador de Ativos".
Entre eles, o Trend Ouro FIM é o que apresenta a melhor performance em diferentes períodos e ganha da inflação em todos eles.
A maioria dos fundos apresenta valorização e ganha da inflação em diversos espaços de tempo. Somente o Órama Ouro FIM e o Vítreo Ouro FIM apresentam variação negativa em alguns períodos.
Considerando que o grama do ouro desvalorizou 9,08% do dia 1º ao dia 29 de março, o desempenho dos fundos está mais positivo. O Trend Ouro exibe uma valorização de 4,94%.