Dados da economia no Brasil e EUA podem mexer com o mercado nesta 3ª feira
IBGE divulga números do setor de serviços; nos EUA saem informações sobre o consumo
Após iniciar a semana positivamente, com forte valorização da bolsa de valores e queda do dólar, o mercado financeiro estará com a atenção dirigida nesta terça-feira, 14, à divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de dados sobre o setor de serviços.
Um dos mais prejudicados pela pandemia, o segmento tenta voltar à normalidade após o fim das restrições e poderá servir como termômetro sobre como caminha a retomada da atividade econômica.
Ainda nesta terça-feira, o mercado estará atento também à divulgação do índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos. É um dado que continua atraindo o olhar de investidores pelo mundo, porque pode influenciar decisões do Federal Reserve (Fed, banco central americano) sobre política monetária. A principal preocupação de investidores é uma possível mudança no programa de estímulos monetários, com redução gradual de recompra de títulos pelo Fed.
No cenário doméstico, a redução da tensão política, a partir de um tom mais conciliador por parte do presidente Bolsonaro em relação aos demais Poderes, melhorou o humor do mercado financeiro, de acordo com analistas. Investidores não disfarçam, contudo, certa desconfiança sobre até quando pode durar a trégua na crise política, se será momentânea ou permanente, com a mudança de comportamento de Bolsonaro.
A torcida é para que, nesse ambiente mais calmo na política, o Congresso aproveite e dê andamento à agenda de reformas, como a administrativa e a tributária, bases para a melhora de expectativas em relação ao compromisso do governo de cumprimento do ajuste fiscal.
Equilíbrio fiscal ainda no radar do mercado
Outro pronto, ligado à preocupação com o equilíbrio das contas públicas, é a decisão que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve tomar em relação à proposta do governo de parcelar o pagamento de precatórios.
A definição dessas questões, segundo especialistas, é importante para conter a deterioração de expectativas em relação à inflação, que passou por nova revisão para cima pelos analistas de mercado. Boletim Focus divulgado pelo Banco Central no dia anterior aponta que a estimativa de IPCA para este ano subiu de 7,58%, do relatório anterior, para 8%.
É o mesmo porcentual que os analistas projetam para a taxa básica de juros, a Selic, no fim de 2021, o que sugere que, no que depender das previsões do mercado, IPCA e Selic podem fechar o ano empatados, sem nenhuma margem para o juro real.
‘Rachadinhas’: Flávio Bolsonaro
O cenário político segue na pauta de acompanhamento dos investidores. Na véspera, o Supremo Tribunal Federal (STF) adio novamente o julgamento sobre foro do senador Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”.
O primeiro adiamento do caso se deu no dia 31 de agosto, quando o ministro Gilmar Mendes atendeu a um pedido da defesa do senador. Um dia antes, o advogado Rodrigo Roca disse que estaria 'impossibilitado' de comparecer na sessão e pediu que a análise fosse transferida para a próxima reunião da Segunda Turma.
No aguardado julgamento, a Segunda Turma do STF vai decidir se referenda ou derruba a decisão da Justiça do Rio de Janeiro que garantiu foro especial ao senador e transferiu o inquérito das rachadinhas para segunda instância. Tal decisão foi tomada em junho do ano passado pela 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.
Na Segunda Turma, o pano de fundo da discussão será a tese dos "mandatos cruzados", usada pela defesa do senador no caso, pela qual um político pode manter o foro privilegiado do cargo antigo após assumir um novo posto.
Denunciado em novembro do ano passado, Flávio Bolsonaro é acusado pelo Ministério Público de comandar um suposto esquema de desvio de salário de funcionários, muitos deles fantasmas, que trabalhavam em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio durante os mandatos como deputado estadual.
CPI da Covid: Bolsonaro
Após as turbulências políticas vivenciadas pelo País na semana passada, os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado voltam à atenção do mercado.
A dois meses do encerramento, um grupo de juristas coordenado pelo ex-ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, entregará nesta semana um parecer de mais de 200 páginas aos senadores sobre os possíveis crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia de covid-19 no País.
"Foi um trabalho muito exaustivo dos membros da comissão (de juristas)", disse Reale Júnior. O grupo atua desde junho na prestação de consultoria jurídica aos senadores, especialmente ao relator Renan Calheiros, que se prepara para escrever o texto final a partir das provas coletadas contra a gestão Bolsonaro.
Os juristas compilaram depoimentos, documentos, provas e dados obtidos desde a criação da comissão, em abril, até o mês de agosto, para delinear qual é o arcabouço jurídico que pesa contra os integrantes do governo sob a mira da CPI.
As conclusões serão avaliadas por Calheiros, responsável por apresentar o parecer final da CPI com as conclusões da investigação. Após ter o período inicial prorrogado em julho, a comissão tem até o dia 5 de novembro para concluir os trabalhos. O relator, no entanto, planeja entregar a conclusão ainda neste mês.
O colegiado avalia enquadrar Bolsonaro em crimes de três natureza, que serão separados em diferentes capítulos no relatório. Os senadores devem acusar o presidente por crimes de lesa-humanidade, que permite uma denúncia em tribunal internacional, crimes de responsabilidade, que darão respaldo a um pedido de impeachment na Câmara, e crimes comuns, que podem motivar uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF).
A acusação por prevaricação na compra da vacina indiana Covaxin é um dos principais focos da CPI. O presidente é investigado por não ter encaminhado uma apuração ao ser alertado sobre um suposto esquema de corrupção na aquisição das doses da vacina indiana.
A CPI levantou uma série de condutas consideradas suspeitas no Ministério da Saúde ao mesmo tempo em que o governo ignorava ofertas de grandes laboratórios, como Pfizer e Butantan.
A própria CPI deve encaminhar as conclusões ao presidente da Câmara, Arthur Lira, acusando Bolsonaro por crimes de responsabilidade na pandemia de covid-19.
No âmbito dos crimes comuns, como ações contra a saúde pública e corrupção passiva, a CPI deve encaminhar as conclusões para a Procuradoria-Geral da República, responsável por uma eventual denúncia contra o presidente no Supremo. Se o procurador Augusto Aras não avançar nas investigações, os senadores querem protocolar uma ação contra ele diretamente no STF.
"Temos um quadro bem consolidado. A CPI cumpriu o papel dela e agora vamos aguardar o relatório final. Tudo aquilo que foi investigado será apontado", disse o presidente da comissão, Omar Aziz.
Wall Street: novos dados econômicos
Nos Estados Unidos, os contratos futuros operam em alta, com os investidores na expectativa sobre o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, dados que podem jogar luz sobre as expectativas em torno do possível cronograma do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para reduzir os estímulos.
O impacto da inflação segue um dos principais temas observados na economia, assim como o ritmo da retomada global e os possíveis desdobramentos da variante Delta do coronavírus.
A expectativa é de que a alta da inflação no país apresente uma desaceleração. Analistas esperam, segundo a mediana, um avanço mensal de 0,4% no CPI.
Na visão da Oxford Economics, quatro temas principais devem dominar os mercados nos próximos meses: um caminho de recuperação volátil; uma reversão da "modesta estagnação secular"; liquidez abundante que está apoiando as avaliações de ativos; e crescentes riscos políticos. Diferentes estratégias de contenção da covid-19 e interrupções nas cadeias de suprimentos "significam que o caminho para a recuperação total será acidentado", avalia a consultoria.
Para a Capital Economics, com as autoridades não demonstrando interesse em impor restrições à atividade e novos casos de vírus agora se estabilizando nos EUA, "é improvável que a variante delta tenha um impacto tão grande na economia quanto as ondas anteriores" na pandemia.
"Dito isso, ela se soma a uma série de outros fatores que pesam sobre a demanda, e a nova interrupção nas cadeias de abastecimento globais pode piorar a escassez e manter a pressão de alta sobre os preços", conclui a consultoria.
Bolsas asiáticas fecham sem direção única
As bolsas asiáticas fecharam o pregão desta terça-feira sem direção única, com os investidores aguardando os dados da inflação americana.
No Japão, o índice Nikkei fechou em alta de 0,73%, aos 30,670,10 pontos, atingindo o maior patamar desde agosto de 1990, em meio a expectativas de que o próximo primeiro-ministro do Japão adote mais estímulos fiscais e outras medidas para ajudar o país a superar o impacto da pandemia de covid-19.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng concluiu o dia em queda de 1,21%, aos 25.502,23 pontos. O resultado refletiu o tombo de 11,87% das ações da Evergrande, após a incorporadora imobiliária chinesa prever uma significativa queda nas vendas de imóveis em setembro, mês que costuma ser positivo para o setor no país asiático. No dia anterior, a Evergrande desmentiu rumores de que estaria prestes a falir.
Na China continental, a questão da Evergrande pesou em papéis de outras imobiliárias. Já as ações de siderúrgicas, que vivenciaram um rali nas últimas semanas, sofreram fortes perdas hoje.
Em Seul, o Kospi fechou em alta de 0,67%, aos 3.148,83 pontos. Na China continental, o Xangai Composto fechou o pregão em baixa de 1,42%, aos 3.662,60 pontos.
Já na Oceania, o S&P/ASX200 encerrou as atividades na Austrália com alta de 0,16%, aos 7.437,30 pontos. /com Júlia Zillig e Agência Estado