CRI, CRA e debêntures viram as estrelas do investidor com manutenção de Selic para médio prazo
Negócios com títulos de crédito privado apresentaram crescimento de 54% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao ano passado
Mesmo em cenário conturbado para o crédito privado, depois da crise das varejistas, houve um crescimento de 54% nas negociações com os papeis do setor no 1° trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso é o que mostra levantamento feito pela Luz Soluções Financeiras, que calcula diariamente o preço justo ou provável para 2.300 ativos, criando uma referência para as operações.
Os negócios com os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) foram os que mais avançaram, mas as debêntures acabaram por movimentar o maior volume negociado. Considerando as operações com os Certificados de Recebíveis do Agronegócios (CRAs), o total soma R$ 178,839 bilhões.
Ativo | N° de Ativos | Valor negociado 1T22 | Valor negociado 1T23 | Evolução |
CRA | 475 | R$ 12,367 bi | R$ 21,990 bi | 78% |
CRI | 836 | R$ 23,343 bi | R$ 47,191 bi | 102% |
DEB | 1.326 | R$ 80,279 bi | R$ 109,656 bi | 37% |
Total | 2.637 | R$ 115,990 bi | R$ 178,839 bi | 54% |
Juro mais alto para compensar o risco
A vida não está fácil nem simples para o setor de crédito privado, após os problemas com Americanas, Light, Marisa e Tok&Sotk. O mercado passou a ficar mais seletivo e restritivo em relação a esses títulos emitidos para financiar empresas. Como consequência direta, os juros de remuneração tiveram de subir para convencer o investidor a assumir mais risco.
“O cenário atual com juros elevados, liquidez restrita, mercado volátil e crescimento menor da economia encarece o custo de captação das companhias” explica Marcos Pereira, CEA e sócio da Matriz Capital.
Até mesmo empresa com o melhor grau de classificação, triple A (AAA), tiveram de dobrar a taxa de emissão de suas debêntures incentivadas para conseguir captar, explica ele: “Boas empresas, que pagavam IPCA mais 4% ao ano há um ano, estão agora oferecendo IPCA mais taxa entre 7% e 8%. A remuneração que era equivalente a CDI mais 0,50% virou CDI mais 1,50%”.
Na opinião de Pereira, “essas debêntures incentivadas com taxas mais altas são um excelente investimento para o longo prazo, porque ainda têm o carrego da inflação e são isentos de imposto de renda”.
Cuidados redobrados
Evidentemente que o campo está minado, e os cuidados devem ser redobrados na escolha dos papeis ou de fundos compostos por eles para driblar a inadimplência. A orientação de especialistas que acompanham e sabem quem é quem no mercado é indispensável.
O sócio da Matriz faz um paralelo e afirma que o mesmo vem acontecendo com os CDBs, Letras do Crédito Imobiliário (LCI) e Letras do Crédito Agrícola (LCA). Todos com emissão de bancos ou corretoras sólidas e oferta de rendimentos atraentes, bem acima da inflação.
“As LCIs e LCAs estão pagando 98% do CDI e livre de imposto de renda, mas é preciso saber que nas LCIs pode haver carência de 90 dias para o resgate”. Já para reserva de emergência, o especialista em investimentos indica CDBs com liquidez diária: "Há CDBs, de grandes bancos, com liquidez diária e pagando 110% do CDI (15%)".
Pereira lembra que o investidor deve avaliar o seu perfil, sua tolerância ao risco, e saber qual sua necessidade de liquidez, mas ressalta que nesse contexto, “o investimento é espetacular, comparado ao que houve entre 2014 e 2015, quando a Selic chegou a 14,25%. O céu é de brigadeiro, e a abertura dos juros traz uma janela de oportunidades”, arremata o especialista.
Títulos mais negociados
De acordo com o estudo da Luz Soluções Financeiras, os 5 títulos com maior volume negociado em cada classe de ativos no primeiro trimestre de 2023 foram:
Debêntures
Debêntures | Devedor | Taxa emissão | Data emissão | Valor negociado |
SSED21 | Cogna Ed. | CDI +1,0% | 8/18 | R$ 3,510 bi |
ELET13 | Eletrobras | CDI+ 1,8% | 4/21 | R$ 1,102 bi |
RLOG11 | Cosan | CDI+2,65% | 8/20 | R$ 1,081 bi |
CSBR11 | Movia | CDI+3,7% | 12/20 | R$ 1,014 bi |
NCFP14 | NCF Part. | CDI+ 1,5% | 12/20 | R$ 976 mi |
CRIs
CRIs | Devedor | Taxa emissão | Data emissão | Valor negociado |
21J0043571 | GTIs Brazil Log. FII | IPCA+5,93% | 10/21 | R$ 2,319 bi |
21E0407810 | Gazit Mails FII | IPCA+5,89% | 5/21 | R$ 1,037 bi |
21I0682465 | Vinci Shop C. FII | IPCA+6,25% | 9/21 | R$ 989 mi |
21I0605705 | Bem Brasil Alim. | IPCA+5,41% | 9/21 | R$ 873 mi |
21E0514204 | Newport Log. FII | IPCA+5,60% | 5/21 | R$ 624 mi |
CRAs
CRAs | Devedor | Taxa emissão | Data emissão | Valor negociado |
CRA01600021 | BRF Brasil Foods | IPCA+5,90% | 12/16 | R$ 286 mi |
CRA0150000M | BTG Pactual Comm. | 100% CDI | 10/15 | R$ 253 mi |
CRA020002H1 | BRF Brasil Foods | IPCA+5,60% | 7/20 | R$ 251 mi |
CRA01400012 | BRPEC Agropec. | 100% CDI | 12/14 | R$ 226 mi |
CRA022000B5 | Bartira Agropec. | IPCA+7,09% | 2/22 | R$ 214 mi |