Com IPCA negativo e juros altos, 16 fundos de renda fixa pagam mais de 11% em 12 meses
Todos os fundos superam a inflação e o CDI, taxa que acompanha de mãos dadas com a Selic
Em 12 meses, um seleto grupo de 16 fundos de renda fixa entrega um rendimento nominal superior a 11%, o equivalente a um retorno real médio de 3,20% acima da inflação.
Esses fundos se beneficiam de dois fatores: a alta dos juros e a deflação dos últimos três meses, esta última, que vem trazendo o IPCA acumulado entre setembro de 2022 e o mesmo mês, de 2021, para perto de 7%.
O resultado é expressivo porque todos os fundos deste ranking são isentos de crédito privado, um tempero que sabemos ser ótimo para apimentar o bolso dos investidores, mas que, mesmo em menor escala, agrega maior risco para o portfólio.
A performance desses fundos caminha acima também do benchmark, o juro CDI. Em 12 meses, esse índice de referência para o desempenho dessa classe de ativos acumula uma variação de 10,90%, menos que a rentabilidade entregue pelos fundos de melhor retorno.
Confira os fundos de renda fixa líderes, sem crédito privado
Fundo | Rend. 12 meses | Rend. desde início |
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XP Termo FIC FI | 11,99% | 13,36% (07/2021) |
TG Liquidez I FI RF | 11,75% | 62,93% (06/2016) |
FIC FI Caixa Indexa Tesouro | 11,26% | 106,22% (12/2013) |
Vítreo Selic Simples | 11,26% | 16,32% (03/2020) |
BB RF Estratégia Ativa | 11,23% | 17,27% (11/2019) |
BTG Pactual Investmais Simples | 11,21% | 14,96% (08/2020) |
Órama DI RF Simples | 11,21% | 161,26% (12/2010) |
FI Caixa Topazio Corporativo | 11,19% | 183,65% (06/2010) |
Trend DI Simples | 11,19% | 18,61% (10/2019) |
Trend INB RF Simples | 11,17% | 14,69% (10/2020) |
PI Selic RF Simples | 11,16% | 22,11% (04/2019) |
BTG Pactual Digital Tesouro Selic | 11,13% | 28,36% (05/2018) |
Trend PE V FIC FI Simples | 11,11% | 13,49% (04/2021) |
Sul América Exclusive Ref. | 11,07% | 762,30% (04/2002) |
Warren Tesouro Selic Simples | 11,07% | 46,86% (10/2016) |
Bem FI RF TPF | 11,05% | 254,04% (04/2008) |
Fundo de renda fixa da XP e BRAM
O XP Termo FIC FI RF, no topo do ranking, entrega um rendimento de 11,99% aos cotistas em 12 meses, e o Bem FI RF Simples TPF, que fecha a lista dos 16 fundos de renda fixa mais rentáveis, 11,05%.
O fundo campeão, o XP Termo, é o único do ranking cuja formação de carteira destoa dos demais. Embora seja de renda fixa, investe até 75% do portfólio em estratégias com ações no mercado de derivativos da bolsa de valores. Sem a execução de nenhuma operação direta com ações.
O fundo atua como financiador das operações a termo na bolsa. O negócio consiste em oferecer empréstimos que possibilitam que o investidor tome recursos disponibilizados pelo fundo para a compra à vista de ações e pague ao financiador no futuro.
Estratégias dos fundos campeões
Uma parte da carteira dos fundos está investida em Letras Financeiras do Tesouro (LFT), em uma aposta de que a Selic, indexador desses títulos, será mantida em nível elevado por bom tempo.
Outros estão alocados em NTNs-B, atreladas à inflação, que sofrem com redução no rendimento no momento de deflação, fenômeno que impõe regime à correção monetária. A expectativa, porém, é que a deflação seja passageira e a inflação volte à economia, tornando mais robusta a correção monetária e dando mais atratividade ao retorno desses títulos.
Os papeis atrelados à inflação também sofreram, em um primeiro momento, com a alta dos juros, durante o ciclo de elevação da Selic, pelo processo de marcação a mercado. Os títulos de emissão mais recente, contudo, estão calibrados a um juro em patamar mais elevado. Até nos de vencimentos mais longos, o que favorece o desempenho desses fundos.
A estratégia de gestão quase padronizada de alocação do portfólio em títulos públicos, ainda que com a participação de papeis de crédito privado em algumas carteiras, tem levado a retornos bastante próximos ou parecidos a esses fundos com melhores resultados.
Desempenho dos fundos de renda fixa em 15 meses
No gráfico abaixo, a base de tempo para comparação tem início dia 16 de julho de 2021 a 10 de outubro de 2022. Nesse período, todos os 16 fundos superaram a inflação acumulada de 12,19% e também o CDI, de 13,36%. O que menos rendeu foi o Bem Simples, com 13,48%, depois o Sul America Exclusive, 13,49% e o Warren Tesouro Selic, 13,53%. O desempenho dos 13 restantes estão no gráfico.
Os recursos alocados nesse tipo de operação chegam a uma parcela entre 65% e 75% do patrimônio. O volume restante, em torno de 25%, é investido em LFTs (Letras Financeiras do Tesouro). Além de rentável com a Selic alta, é um título emitido pelo Tesouro que não oferece risco de crédito nem risco de mercado.
Ainda que não atue na negociação direta com ações, o fundo é beneficiado pela volatilidade do mercado. Ao fechar a operação futura ou a termo, o investidor trava o preço, mas o aumento de volatilidade estimula muitas antecipações de contrato. É esse processo dinâmico de saída antecipada que gera rentabilidade ao fundo.
O investidor que liquida antecipadamente o contrato firmado por prazo mais longo, com uma taxa de remuneração implícita, terá de pagar o valor total combinado, calculado até o fim. Sem abatimento.
O XP Termo é diferenciado na composição da carteira, mas o ponto comum na maioria dos demais fundos é a concentração dos ativos em títulos públicos. Com retornos positivos, não apenas nesta época de juros altos, mas ao longo da história, desde a criação do fundo.
É o caso do FI Caixa Topázio Corporativo RF Referenciado DI LP, que investe a totalidade dos recursos do portfólio em títulos públicos. Com R$ 10,534 bilhões de patrimônio líquido e 1,672 mil cotistas, chama a atenção pela consistência de sua performance.
Em 149 meses, desde que passou a funcionar, em junho de 2010, o fundo entregou rentabilidade positiva em 148 meses e negativa em apenas um, em setembro de 2020, com – 0,14%.
Outro fundo que se destaca pela consistência do desempenho é o Sul América Exclusive FI RF Referenciado DI, que entrega retorno de 762,30%, desde o início. Em 247 meses de operação, rodou 246 meses com performance positiva e apenas um negativa.
Iniciado em abril de 2002, o fundo conta com patrimônio líquido de R$ 2,095 bilhões e 9.180 cotistas. Os recursos da carteira estão alocados na totalidade em títulos públicos federais: cerca de 90% em LFT, indexadas à Selic, e 10% em Letras do Tesouro Nacional (LTNs), com juro prefixado.
Diferentemente do Sul América Exclusive, um fundo com carteira diversificada de ativos, formada por títulos públicos e privados, é o TG Liquidez FI RF. Ocupando o segundo lugar no ranking, acumula rendimento de 11,75% em 12 meses.
Com estratégia conservadora, o fundo tem como meta remunerar o cotista com 110% do CDI. O gestor tem a liberdade de alocar os recursos em títulos públicos, títulos de crédito privado e em fundos de investimento em direitos creditórios (Fidcs).
No cenário atual de juros e inflação, de fim do ciclo de alta dos juros com a Selic posicionada no pico,13,75% ao ano, e o IPCA em desaceleração, a estratégia tem privilegiado ativos domésticos com taxas de juro pós-fixadas. Uma composição de portfólio que divide espaço com títulos de crédito privado e LFTs.
Em geral, os títulos de crédito privados, como CDBs, debêntures, Fidcs, são adicionados à carteira para apimentar a rentabilidade. Como são avaliados como ativos de maior risco, em relação aos papeis públicos, carregam um prêmio, um adicional sobre o juro CDI. É uma forma de atrair o investidor que assume risco supostamente maior em troca de ganho mais atraente.
Especialistas admitem que o risco é maior, mas destacam que as empresas cujos títulos são escolhidos para a composição da carteira desses fundos passam por rigorosa seleção pela equipe de análise do fundo.
Deflação
Em julho, o IBGE mediu uma deflação de 0,68%; em julho, nova variação negativa, de 0,36%, e em setembro, outra deflação de 0,29%. Resultados da redução e isenção de impostos, medidas adotadas pelo governo que baratearam os preços de energia e combustíveis. O IPCA em 12 meses, que havia acumulado alta de 11,89% até junho, despencou para 7,17%.
A mão amiga da inflação ajudou porque a variação negativa de preços transforma em ganho real todo o rendimento nominal, até pouco mais, mas isso não se estende a todos os fundos.
A deflação impacta negativamente os fundos que têm títulos indexados à inflação. Caso das Notas do Tesouro Nacional da série (NTNs-B), que remuneram com juro real prefixado e correção monetária pelo IPCA.
Os gestores dos fundos de renda fixa podem alocar o portfólio em títulos públicos, papeis de crédito privado financeiros, como CDBs, e corporativos, emitidos por empresas, como debêntures.
O ciclo de elevação dos juros chegou ao fim, com a Selic em 13,75% ao ano, mas a boa performance desses fundos reflete ainda uma estratégia de alocação bem-sucedida dos gestores.